Especial 167 anos: revolução e luta marcam o cenário artístico de Teresina

Artistas independentes da capital se unem em busca de apoio

Por Laura Parente,

Manifestações artísticas e culturais pelas ruas, teatros, praças e bares dão cor e forma aos 167 anos de Teresina. Coletivos nascem com o desejo de, mesmo sem ajuda governamental, fomentar a cultura e compartilhar conhecimento com todas as camadas sociais. Um desses exemplos de resistência é o Coletivo B R O Bró, que surgiu com a proposta de mostrar a diversidade existente na arte teresinense.

Integrantes do Coletivo B R O Bró (Foto: Divulgação)

O Coletivo B R O Bró nasceu em 2018, a partir do interesse de Lorena Nolêto e Roney Rodrigues de unir os artistas regionais que não recebem apoio ou patrocínio. A diversidade de pessoas e de manifestações artísticas no coletivo é uma das marcas do grupo, visto que ele reúne dança, musica, teatro, artes plásticas e etc. 

“Eu e o Roney nos formamos na mesma escola de teatro, que é a escola Professor José Gomes Campos e assim que a gente estava perto de se formar a gente já tinha essa ideia inicial de criar um coletivo. Nós começamos a chamar pessoas e escolhemos o nome, que é B R O Bró, por conta de querer trabalhar exatamente com o regionalismo e querer valorizar o teatro local. O coletivo funciona não só como coletivo de teatro, mas um coletivo de artes. A gente tem pessoas da música, da dança, do teatro, maquiadora e tem uma diversidade muito grande de pessoas. A maioria do coletivo é composta por mulheres e a maioria dessas mulheres são negras. Nós temos pessoas LGBTs, pessoas trans, enfim, de todas as diversidades possíveis”, conta Lorena Nolêto.

Coletivo B R O Bró nasceu em 2018 com a propósta de unir e apoiar artistas locais (Foto: Divulgação)

Uma das pessoas convidadas para integrar e agregar o coletivo foi Vick Ribeiro, que hoje desenvolve o trabalho de maquiadora e atriz. Vick conta que a importância da arte independente na cidade é levar cultura e conhecimento para todos, sejam eles da comunidade ou bairro nobre da cidade. Ela entrou no coletivo através de um convite realizado por Lorena, como uma forma de potencializar mais ainda o coletivo.

Vick Ribeiro e Lorena Nolêto, integrantes do Coletivo B R O Bró (Foto: Divulgação)

“O objetivo da minha arte é levar entretenimento e informar que a arte é para todos. Eu descobri que eu tinha essa vocação quando eu era criança, eu sempre tive esse sonho e pelo fato de ser uma menina trans, antes da transição não me via em palcos, pois nunca me encontrava nas telas e depois cresci, passei pela transição e de inesperado recebi o convite de fazer um curta e logo em seguida conheci a Lorena, que fez parte do curta também e me chamou pra apresentar o monologo dela, o ‘Sofismo’. A razão de eu ter entrado no coletivo é pela ideia de levar arte para as pessoas que não têm acesso e isso me deixou totalmente fascinada”, conta a integrante do coletivo.

O monólogo "Sofismo" apresenta uma mulher trans que atende pelo nome de Sofia. Na peça ela reflete consigo mesma e com o público as interrelações da vivência de uma mulher trans, perpassando por violência, família, solidão, memórias afetivas, sonhos e luta.

Vick Ribeiro durante o monólogo “Sofismo”, de autoria de Lorena Nolêto (Foto: Divulgação)

Mesmo com todo o propósito cultural e artístico de levar conhecimento as pessoas, Vick conta que é difícil viver em meio ao cenário cultural independente em Teresina por conta da falta de valorização e apoio. 

“Ser um artista independente em Teresina é muito difícil, pois quase não temos apoio . Intervenções artísticas temos direto, mas uma parte das pessoas daqui de Teresina não vão apoiar tal intervenção por não conhecer o artista e é aquilo que eu falo, as pessoas não gostam de arte, gostam de ver artistas famosos. Falta o apoio para o artista local sim, mas o que me inspira é ver a mobilização de jovens pela arte e educação e isso é lindo. Eu espero que o cenário artístico teresinense cresça ainda mais e que apoie os artistas e coletivos independentes”, desabafa a atriz.

Apresentação do monólogo 'Sofismo' para alunos do colégio Liceu Piauiense (Foto: Divulgação)

Para Lorena Nolêto a manifestação artístíca é fator de transformação para uma sociedade melhor, mais politizada e revolucionária. “O que a gente faz por Teresina é pegar esses artistas do coletivo e tentar desenvolver suas potencialidades e levá-los além. O que inspira é exatamente a luta, mas nós acreditamos em uma arte política, uma arte de transformação, uma arte revolucionária e que através da arte a gente possa mudar muita coisa. A arte não deve ser negligenciada não deve ser invisibilizada como tem sido”, conta.

Integrantes do coletivo no Museu do Piauí (Foto: Divulgação)

“Falta muito apoio. Ser artista em Teresina é uma resistência muito grande, apesar de a gente ter um regionalismo muito forte, ter muito nicho pra se explorar é muito complicado porque não existe apoio, não é visto como profissão é visto como hobby. Ninguém enxerga direito o poder da transformação da arte. O artista local é desvalorizado e é valorizado o que é de fora. Não há conhecimento da cultura local, do regionalismo, não existe uma valorização da identidade cultural de Teresina”, acrescenta a artista. 

Ela ainda conta que, mesmo em meio a todas as dificuldades encontradas no cenário hoje em dia, a paixão pela arte e pela cultura faz com que cada vez mais se tenha vontade de continuar e lutar.

(Foto: Divulgação)

“Como os tempos são de muita resistência perante o cenário político, arte tem sido difícil de se fazer e tem sido desestimulante muitas vezes, porém arte é uma coisa que você se apaixona e quando você é artista você não sabe viver de outra forma, você respira arte. Então pelo fato de respirar arte, por mais que tenha essa poeira toda em cima da gente, eu acredito que sempre vá existir futuro enquanto exista alguém apaixonado por arte, pois ela tem o poder de transformação e é revolucionária e nesse momento o que mais a gente precisa é de revolução”, pontua Lorena.

Artistas durante ensaio da peça ‘Turma da Gentileza’ (Foto: Divulgação)

No momento, o Coletivo B R O Bró encontra-se em fase de ensaio da peça infantil ‘Turma da Gentileza’, que segundo Lorena, é feita em forma de rima e tem uma linguagem muito regional e que futuramente, além de ser realizada em Teresina, a peça passará também por cidades do interior.

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