A realidade da viagem de Rafael: vendendo o que não tem

O governador levou uma comitiva cuja maioria não sabe o que está fazendo lá

 

Na viagem para a China, o governador Rafael tenta vender o estado como uma potência turística mundial, além de também tentar convencer empresários chineses a investirem aqui. 
 

Foto: Reprodução
Rafael Fonteles em missão internacional na Ásia

Os viajantes comuns… 

Dos piauienses, a grande maioria dos quase 80 que acompanham o governador, todos pagaram as despesas do périplo asiático do próprio bolso. E a conta não é nada barata.

… e os donos do Poder 

Mas tem um grupo seleto de dirigentes, diretores e outras autoridades equivalentes, que viajaram dois dias antes, em primeira classe, e tudo fizeram para não chamarem a atenção dos companheiros de viagem, sentados lá atrás, junto à plebe. 

Foto: Ccom
Governador com grupo de empresários na China

A língua afiada 

O problema é que os mesmos que se esconderam para não desgastarem o prestígio com os benefícios auferidos com a viagem, foram os primeiros a contar para os outros as experiências em primeira classe, com as fotos da nababesca travessia pelos ares. 

O guia extorsivo 

O pior de tudo é que ainda apareceu um guia, tão piauiense como os outros companheiros de viagem, que nunca esteve na China, e cobrou quase R$ 2 mil de cada um daqueles que iria “guiar” durante a viagem. 

A viagem grátis 

Todo mundo reclamou, e nem todo mundo pagou ao guia. Mesmo assim, deu para faturar quase R$ 100 mil na peripécia inexplicável do guia que nada sabe da China.

O final da viagem  

O certo é que os empresários já estarão correndo da China a partir de hoje, porque vão fazer um desvio de rota em Dubai, antes do retorno programado por Abu Dhabi, no Qatar. 

E as autoridades?

Resta esperar que as imagens dos próximos dias mostrem o governador e sua poderosa comitiva todo tempo na China, no escritório do Piauí, nas visitas políticas e comerciais, sem o direito de se estenderem em passeios com o dinheiro público, em rota alternativa e fora do trajeto oficial.

A MGM, também

A página da MGM China Holdings também ignora a visita do governador


Troca de guarda

Circula a informação de que na reforma administrativa que Rafael Fonteles (PT) vai promover, haverá troca de guarda no comando da PM.
Sai o atual comandante-geral Scheiwann Lopes para entrar o coronel Nelson Onedio Feitosa.
Feitosa acaba de disputar e perder a eleição para prefeito de Uruçuí.

Foto: Luis Marcos/ Viagora
Scheiwann Lopes pode deixar o comando da PM

Na humildade

O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Barras, Manin Rego elegeu-se vereador daquela cidade com m742 votos, pelo PT, na chapa de oposição ao prefeito Edilson Capote.

Proporcionalidade

Miguel Leão tem o menor eleitorado do Piauí e por lá a vereadora eleita com menor votação, Lívia Rodrigues, do PP, teve 92 votos. É pouco?Não. A votação dela equivale a 5,22% dos 1.763 válidos.
O mais votado na cidade, Ruck, também do PP, obteve 202 votos, ou 11,45% dos votos válidos.
Se pesquisar direito pode ter sido proporcionalmente o vereador mais votado do Piauí.

Fogo amigo

Aliado do PT em Teresina, o deputado estadual Evaldo Gomes, dono do partido Solidariedade no Piauí, impôs uma derrota ao partido do governador Rafael Fonteles em Beneditinos.
Lá, o candidato do Solidariedade, o advogado Thales Marques, venceu o petista Fabio Roberto.
Marques teve 4.024 votos ante 3.868 do candidato apoiado pelo atual prefeito Jullyvan Mendes.

Voto ideológico? 

Conta outra
Muitos analistas trabalhando com a ideia de que em eleição municipal haveria uma prevalência de voto ideológico à direita ou à esquerda. 
Se olhassem os microdados iriam quebrar a cara, porque eleitor vota mesmo é considerando seus interesses pontuais.
Em Teresina, por exemplo, candidatos a vereador que usaram suas qualificações ideológicas tiveram um desagradável encontro com a porca (a derrota).

Existência etérea

Basicamente, em eleições municipais, votam-se segundo outras premissas, sendo a ideologia a menos importante delas. 
O voto ideológico, sim, existe, mas está circunscrito a camadas urbanas mais politizadas e isso nas grandes cidades.

Voto assistencial

Na periferia, onde a necessidade fala mais alto que ideologia, o eleitor escolhe mesmo é quem lhe dá a mão, quem ajuda, mesmo que seja no tempo eleitoral cometendo o crime da compra de votos. 

Análise apressada

Assim, é bastante razoável considerar, no mínimo inadequada e apressada, a análise de que uma vitória avassaladora do espectro conservador nas eleições municipais ante uma derrota do campo progressista.

Cuidado, Lula!

A questão, no entanto, é que se o eleitor faz escolhas pragmáticas e não ideológicas, essa é certamente uma notícia ruim para a esquerda, que perdeu o tato, o contato com a realidade das camadas populacionais com as quais diz mais estar identificada. Esse espaço foi sendo ocupado pelos conservadores e evangélicos neopentecostais.
Sobre isso, em uma entrevista ao portal UOL, o filósofo e professor da USP (Universidade de São Paulo) Vladimir Safatle, 50 anos, afirma que a esquerda "não tem o que dizer à periferia".

Foto: Reprodução
Vladimir Safatle

O PT destruído

Safatle afirmou na entrevista que "o lulismo destruiu o PT", apontando que tem havido um "envelhecimento dos quadros" do PT e que a legenda não estimula a renovação de suas lideranças.
Para ele, o PT virou um partido populista de esquerda.

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