Todo mundo carrega uma mala invisível cheia de versões de si. Vidas que não aconteceram, escolhas que não foram feitas, caminhos que ficaram só no quase. A gente segue, mas de vez em quando olha para trás e se pergunta: e se eu tivesse dito sim? E se eu tivesse ficado? E se eu tivesse ido?
Não é arrependimento, é curiosidade. É a sensação de que, em algum lugar do tempo, existe uma versão nossa vivendo outra história. E essa versão às vezes aparece em sonhos, em pensamentos aleatórios, em noites em que o sono não vem.
Tem uma vida que você não viveu porque teve medo. Outra que não viveu porque era o certo abrir mão. E tem aquela que você nem sabia que queria, até perceber que era tarde demais. Cada escolha nossa é também uma renúncia. E cada renúncia, uma vida que se desfaz antes mesmo de começar.
Foto: ReproduçãoEnrico Pierro
Mas isso não precisa ser motivo de tristeza. As vidas que a gente não viveu ajudam a moldar a pessoa que a gente se tornou. É como se cada “não” que dissemos desenhasse, com precisão, o caminho que era para ser nosso. E, se a gente olhar com cuidado, talvez perceba que nenhuma vida seria melhor, só diferente.
No fim, somos feitos tanto do que vivemos quanto do que deixamos de viver. E isso também é bonito. Porque significa que, mesmo com os “e se”, ainda temos a chance de fazer valer a vida que escolhemos. Ou, quem sabe, recomeçar uma nova, enquanto ainda há tempo.