Inicialmente associada exclusivamente às criptomoedas, a tecnologia blockchain tem, ao longo da última década, expandido suas aplicações e se consolidado como uma das principais ferramentas de inovação em setores estratégicos da economia mundial. Com potencial para transformar modelos de negócio, aumentar a confiança nas transações e reduzir intermediários, a blockchain vem ganhando espaço em países com baixa inclusão bancária e estruturas regulatórias frágeis.
Na prática, trata-se de uma cadeia de blocos que armazena registros de forma descentralizada e imutável. Cada novo bloco, ao ser validado, se conecta cronologicamente ao anterior, formando um histórico seguro e transparente de transações financeiras, contratos, registros logísticos ou qualquer outro dado relevante. Esse sistema permite que as informações sejam visíveis para todos os integrantes da rede, em tempo real, eliminando a necessidade de intermediários e ampliando a confiança no processo.
“É como se fosse uma planilha online compartilhada por milhões de pessoas, onde todas as transações são visíveis e rastreáveis. Isso traz confiança, elimina duplicidades e reduz a burocracia”, explica Denise Cinelli, COO da CryptoMKT, uma das principais plataformas de criptoativos da América Latina.
A tecnologia pode ser implementada em dois formatos principais: blockchain pública e privada. Enquanto as redes públicas — como as do Bitcoin e do Ethereum — são abertas e operam de forma descentralizada, as privadas são voltadas para uso interno de empresas e consórcios, com regras específicas de acesso e governança. Ambas podem se complementar em estruturas híbridas, conforme a necessidade dos negócios.
O impacto da blockchain já é visível em diversos setores. No mercado financeiro, por exemplo, a tecnologia tem impulsionado as fintechs, permitindo a automação de processos com os chamados contratos inteligentes. Pagamentos, empréstimos e investimentos podem ser realizados sem a intermediação de bancos, o que facilita o acesso a serviços financeiros em regiões carentes de infraestrutura bancária. “Isso é transformador para regiões onde a inclusão financeira ainda é um desafio”, avalia Cinelli.
Outro setor que vem se beneficiando da blockchain é o de logística. O registro de cada etapa da cadeia de suprimentos em blocos digitais garante rastreabilidade, reduz fraudes e facilita auditorias. Em locais com fronteiras complexas e procedimentos ainda manuais, como na América Latina, a digitalização das operações resulta em mais eficiência e ganho de escala.
Mais do que uma inovação tecnológica, a blockchain representa uma mudança de paradigma na forma como a sociedade lida com a confiança. Se antes era necessário confiar em instituições centralizadas, hoje esse papel é assumido por um sistema de validação coletiva baseado em regras matemáticas e criptografia.
“Estamos vivendo uma transição em que a confiança não está mais concentrada em uma única entidade, mas distribuída entre os usuários e validada por código. Isso devolve às pessoas o controle sobre seus dados, ativos e decisões”, ressalta Cinelli.
Segundo a executiva, a descentralização promovida pela blockchain tem o potencial de criar uma economia mais justa e acessível. “A blockchain não é apenas uma tendência tecnológica. É a base de uma nova economia — mais segura, transparente e colaborativa”, conclui.