No feriado da Proclamação da República, manifestações organizadas pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT) tomaram as ruas de 15 capitais brasileiras para pedir o fim da jornada 6x1, que prevê seis dias de trabalho seguidos de um dia de descanso. A pauta, impulsionada por uma proposta de emenda constitucional (PEC) da deputada Erika Hilton (PSol-SP), busca iniciar uma discussão na Câmara dos Deputados sobre uma reforma nas regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), vigente desde a era Vargas.
Especialistas divergem sobre os impactos da mudança. Paulo Henrique Blair, professor de direito constitucional da UnB, vê a proposta como um avanço inspirado em práticas já consolidadas na Europa, ressaltando benefícios como redução de doenças ocupacionais e aumento da produtividade. Por outro lado, o economista José Luis Oreiro alerta para possíveis efeitos negativos, como aumento de custos para empregadores, redução de competitividade da indústria brasileira e aceleração da inflação no setor de serviços.
A advogada trabalhista Claudia Abdul Ahad Securato argumenta que, embora haja custos iniciais, os ganhos compensariam as despesas. “O trabalhador tem mais segurança, mais tempo com a família, e adoece menos no trabalho, o que gera menos custo para empresa”, explica. Contudo, Oreiro aponta que a maioria dos trabalhadores brasileiros, que estão na informalidade, não seria beneficiada, destacando a importância de investimentos em mobilidade urbana e saúde pública para melhorar a qualidade de vida da população de forma mais ampla.
A jornada 6x1, instituída na década de 1930, foi um marco histórico para os trabalhadores brasileiros, mas enfrenta críticas crescentes em um cenário de mudanças econômicas e sociais. Para especialistas, a revisão da carga horária deve ser acompanhada de uma ampla reforma estrutural, que inclua transporte, educação e saúde, para garantir benefícios efetivos e evitar retrocessos nos direitos trabalhistas e na economia.