Um Relatório anual sobre violência no campo, divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) nesta segunda-feira (17), aponta que em 2022 foram registrados 2.018 casos de conflitos no campo no Brasil, envolvendo 909,4 mil pessoas e mais de 80,1 milhões de hectares de terras disputadas em todo o território nacional. Esse número corresponde à média de um conflito a cada quatro horas e representa um aumento de 10,39% em relação ao ano anterior, quando houve o registro de 1.828 ocorrências totais de conflitos rurais.
As ocorrências abrangem não só as disputas específicas pela terra, mas também a disputa por água, trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão, contaminação por agrotóxico, assassinatos, mortes e outros casos de violência.
Em relação a conflitos pela terra, foram registradas 1.572 ocorrências no país, o que representa um aumento de 16,70% em relação ao ano anterior. Ao todo, 181.304 famílias viveram diante da mira desse tipo de conflito no Brasil, um aumento de 4,61% em relação ao ano anterior. Esses casos são relacionados a violências contra a ocupação e a posse, contra as pessoas e às ações coletivas de ocupação de terras e acampamentos.
A Amazônia é uma das regiões mais atingidas pelos conflitos. Das unidades da federação com índices mais elevados de conflitos por terra, quatro integram a Amazônia Legal. A região concentrou, em 2022, um total de 1.107 conflitos no campo, o que representa mais da metade de todos os conflitos ocorridos no país (54,86%), aponta o relatório.
Dos 47 assassinatos no campo registrados no Brasil no ano passado, 34 ocorreram na Amazônia Legal, o que representa 72,35% de todos os assassinatos no país. A região é descrita no relatório como "palco de exploração e devastação, criando um verdadeiro campo minado, no qual foram atingidas 121.341 famílias de povos originários e comunidades camponesas em 2022".
O relatório da CPT indica que, ao longo de 2022, foram notificados 207 casos de trabalho análogo à escravidão no meio rural, com 2.615 pessoas envolvidas nas denúncias e 2.218 resgatadas, o maior número dos últimos dez anos. Em comparação ao ano anterior, o aumento foi de 22,53%.