As leituras mais focadas do Censo Demográfico do IBGE mostram que em três décadas “aumentou” em 118,75% o número de pessoas residentes no Piauí que se declararam de cor ou raça preta. O número contrasta com a expansão demográfica no Estado entre os Censos de 1991 e 2022, que foi de 26,68%.
O IBGE apenas faz uma contagem, não havendo análises sobre as estatísticas. Assim, fica a indagação sobre o que fez com que em três décadas o contingente de pessoas pretas tenha aumentado quatro vezes e meia mais que o aumento populacional do Piauí no mesmo período?
É possível que a resposta esteja no fortalecimento dos movimentos sociais liderados por pessoas negras e nas políticas públicas de ação afirmativa em favor da população preta, que serviram para ampliar espaços afirmação da identidade dos negros, de busca e ocupação de espaços socioeconômicos aos quais os acessos se limitavam antes.
Outra explicação possível está no próprio Censo: entre 1991 e 2022 houve um recuo de 10,43% no número de piauienses que o Censo do IBGE registrou como de raça ou cor parda, ou seja, parte dos que agora se declaram pretos podem ter em outras contagens populacionais terem sido relacionados como de raça ou cor parda.
Segundo o IBGE, em 1991, havia no Piauí 2.582.075 pessoas ante 3.271.199 moradores em 2022, em uma expansão de 26,68% no período.
No mesmo período, em recorte para a cor ou raça da população, registrava-se em 1991 somente 5,6% de pessoas declaradas de cor ou raça preta. Trinta anos depois, esse estrato demográfico subiu para 12,25% - o que representa um incremento de 118,75% na participação de pessoas pretas no conjunto da população piauiense.
Em termos quantitativos, a população preta apresentava um contingente de 144.593 pessoas em 1991 no estado, tendo passado para 400.662 pessoas em 2022. São 256.069 pessoas a mais – algo como uma vez e meia a população de Parnaíba, a segunda maior cidade do Piauí.
No Brasil também apresentou crescimento da participação da população de cor ou raça preta no total da população, tendo passado de 5% em 1991 para 10,17% em 2022, uma elevação de cerca de 103,4%, pouco inferior à registrada pelo Piauí.
São informações de Identificação étnico-racial da população brasileira, obtidas através do Censo Demográfico 2022, de acordo com autodeclaração das próprias pessoas entrevistadas.
Crescimento de brancos na população foi de somente 3,5%
No lado inverso da expansão demográfica, pode-se dizer que a população de cor ou raça branca teve apenas crescimento nominal. Isso porque o aumento do número de pessoas nesse estrato demográfico no Piauí foi de apenas 3,56% - bem abaixo do aumento no conjunto dos residentes no Estado, que somou 26,68%.
Em 1991, as pessoas de raça ou cor branca representavam 21,85% da população total do Piauí, tendo passado a 22,63% em 2022, um crescimento de 3,56% na participação naquele período. Merece destaque que a população branca já registrou participação maior que a de 2022, tendo chegado a 26,47% em 2000 e 24,35% em 2010.
Em termos quantitativos, a população branca segue maior que a de pessoas pretas. Era de 564.220 pessoas em 1991 e passou para 740.322 pessoas em 2022, crescimento de 176.102 pessoas no período.
No Brasil, a população de cor ou raça branca representava 51,56% do total da população em 1991, tendo passado para 43,46% em 2022, uma redução na sua participação da ordem de 15,71%.
Pardos são maioria entre os piauienses
Mesmo tendo reduzido sua participação no conjunto dos residentes no Piauí, com queda de 10,43% em três décadas, as pessoas de cor ou raça parda seguem como maioria no Piauí.
A população de cor ou raça parda em 1991 representava 72,38% da população do Piauí, tendo reduzido sua participação no total da população para 64,83% em 2022, queda de 10,43% no período.
Em termos quantitativos, em 1991 havia 1.868.869 pessoas, tendo passado para 2.120.880 pessoas em 2022, um crescimento de 252.011 pessoas em 3 décadas.
No Brasil, a população de cor ou raça parda representava 42,45% do total da população em 1991 e passou a representar cerca de 45,34% em 2022, crescimento de 6,81% no período