Um fóssil descoberto há décadas em Santa Cruz do Sul (RS), que estava guardado na coleção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), oferece novas perspectivas sobre a origem dos dinossauros. O estudo, publicado nesta sexta-feira (30) na revista Scientific Reports, descreve a nova espécie batizada de Itaguyra oculta, analisada por paleontólogos brasileiros e argentinos. O fóssil é composto por dois ossos fossilizados que pertenciam à cintura pélvica do animal, especificamente um ílio e um ísquio.
A pesquisa indica que o fóssil data de aproximadamente 237 milhões de anos, período pouco documentado para os silessauros, um grupo de répteis que inclui os dinossauros e outras linhagens. Os pesquisadores confirmaram que o fóssil se enquadra no clado dos silessauros, e não como um cinodonte, que é o grupo dos mamíferos. Essa descoberta sugere que os silessauros foram parte integrante da linhagem dos dinossauros, especificamente dos ornitísquios, e não apenas seus parentes próximos.
O autor principal do estudo, Voltaire Paes Neto, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), destaca que a descoberta preenche um hiato temporal crítico na evolução dos dinossauros. Se a hipótese for confirmada, Itaguyra oculta poderá ser reconhecida como um dos dinossauros mais antigos do mundo. O diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner, ressalta que a compreensão da origem e diversificação das linhagens de dinossauros ainda é um enigma, e a nova descoberta traz um importante avanço nesse sentido.
A presença contínua dos silessauros no Brasil reforça a importância do sul do país como um território chave para entender a origem dos dinossauros. Pesquisadores de diversas instituições, incluindo a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), participaram do estudo, que foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pelo projeto INCT-Paleovert. O nome da nova espécie, Itaguyra, combina palavras da língua tupi, significando "pedra" e "ave", e "occulta" reflete o fato de que os restos permaneceram escondidos entre outros materiais por décadas.