Deputados do Piauí estão desde março sem prestar conta de verbas indenizatórias

Nas despesas, há compra de sanduíche em São Paulo, refeição de peixe e carne de sol e passagens aéreas

Desde março deste ano, portanto há quatro meses, não estão disponíveis as prestações de contas mensais das verbas indenizatórias que os deputados estaduais do Piauí recebem para “custear gastos exclusivamente vinculados ao exercício da atividade parlamentar, observados os limites mensais estabelecidos”, conforme estabelece o Ato da Mesa Diretora nº 235/2017, de 4 de agosto de 2017, reeditado em 23 de janeiro de 2020, que fixou a cota em R$ 32 mil por deputado.

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Assembléia Legislativa do Piauí (Alepi)

Na última prestação de contas disponível, contudo, é possível ver que a transparência pode ser bem reveladora sobre gastos e gostos dos deputados estaduais. Os deputados concentram as despesas reembolsáveis em compra de gasolina e diesel; contração de advogados, contadores e jornalistas; no aluguel de veículos e eventualmente em alimentação.

No que se refere à alimentação, houve gastos com a compra de refeições de peixe e carne de sol, de sanduíches e refrigerantes em cadeia de fast-food e até o pagamento de uma garrafa de água num posto de combustíveis.
Nas despesas lançadas em maio no site da Casa, o presidente da Assembleia Legislativa, Franzé Silva, apresentou gastos de R$ 36.744,15, mas não há um só comprovante das despesas.

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No mesmo mês, consta que Henrique Pires (MDB) gastou R$ 5,5 mil com aluguel de uma picape; 7 mil com assessoria de imprensa para uma empresa chamada Êxito Comunicação. Mas teve despesas menores, como um lanche de R$ 30,00 (guaraná mais sanduíche) comprado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ou uma água mineral de R$ 3 paga junto com nota de combustível em um posto na cidade litorânea de Luís Correia. Os gastos dele somaram R$ 36.963,63
Severo Neto do MDB foi bem mais gastador em alimentação que seu colega de partido Henrique Pires. As despesas do parlamentar com alimentação somaram R$ 2,7 mil em uma lanchonete na cidade de Picos. As despesas pagas por ele com verbas indenizatórias somaram R$ 37.150,32 e incluíram gastos de R$ 12 mil com locação de veículos.
Pagar despesas de alimentação com verbas indenizatória parece um traço comum entre os emedebistas. A deputada Ana Paula gastou R$ 1,2 mil em um restaurante de Teresina, especializado em peixe e outros R$ 470 em restaurante especializado em carne de sol; e R$ 170 em restaurante franqueado. Em março, a parlamentar teve despesas de R$ 11.260,00 com a locação de veículos e somou R$ 36.897,78 em despesas reembolsáveis.

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No PP, quem usou verbas indenizatórias para pagar alimentação foi Marden Meneses, com despesas de R$ 125 em um açougue gourmet em Teresina e R$ 31 numa cadeia de fast-food especializada em sanduíches.
Já Georgiano Neto é um deputado viajador. Em março o filho do deputado federal Júlio Cesar e da senadora Jussara Lima (PSD) gastou R$ 9.610,48 com passagens aéreas para Brasília; e R$ 14 mil em aluguel de veículos, somando despesas de R$ 39.585,78.
Ainda em março, Rubens Vieira (PT) gastou R$ 8.000,00 com serviços da Azevedo & Moraes Sociedade de Advocacia. Mas mesmo tendo gastado com outros serviços, o petista não apresentou as notas. Gastos somaram R$ 36.930,00.
Gracinha Moraes Sousa – ou Mão Santa – (MDB) gastou R$ 12,7 mil com pagamento de serviços de comunicação à empresa Verniere Consultoria; R$ 11,2 mil com locação de duas picapes; R$ 8 mil com serviços advocatícios.  Ela gastou em março R$ 36.930,00.

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Jeová Alencar, do Republicanos, queimou R$ 6,5 mil em com gasolina e diesel; R$ 4,3 mil com advogados; R$ 13 mil com aluguel de veículos. Gostos totais somaram 36.831,47
Gastar com advogados é uma regra geral, porque Simone Pereira (MDB) gastou R$ 8 mil pagando serviços jurídicos, assim como aluguel de veículos com o que a deputada emedebista gastou em março deste ano, R$ 10 mil. A deputada gastou R$ 36.922,44.

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Outro gasto recorrente dos deputados estaduais é com serviços contábeis. Bessah Araújo Costa Reis Sá, do PP, torrou 12 mil com esse tipo de serviço em março, mas também usou R$ 1.999,95 na aquisição de lápis, papel, canetas e grampeador, além de outros materiais de expediente e R$ 13 mil com advogados. Seus gastos em março somaram R$ 36.999,95.

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Oliveira Neto pagou R$ 6 mil por serviços advocatícios; R$ 11,9 mil por locação de veículos; R$ 7 mil por divulgação; R$ 6,4 mil por combustíveis; e R$ 5,6 mil por serviços contábeis. Os gastos dele somaram R$ 37.046,91.
Warton Lacerda, do PT, gastou R$ 5 mil com serviços de contabilidade. Gastou R$ 37.504,62 em março. Ele não apresentou notas das demais despesas.
Elisângela Moura, do PCdoB gastou R$ 13 mil com advogados; R$ 3 mil com gasolina e diesel; 14 mil com locação de veículos. No total, teve despesas e março de R$ 37 mil.
Vinícius Nascimento, do PT, em março queimou R$ 13,5 mil na locação de veículos e R$ 10 mil em combustíveis. No total teve despesas reembolsáveis de R$ 28.597,00.
Felipe Sampaio (MDB), filho do vice-governador Themistocles Filho, somou gastos totais de R$ 36.963,63, dos quais R$ 8 mil com advogado; R$ 14 mil com aluguel de veículos, somando despesas totais de R$ 36.963,63.
Barbara do Firmino (PP) gastou R$ 8 mil com advogado; R$ 4,8 mil com gasolina e diesel; R$ 5 mil com serviços contábeis e R$ 14 mil com locação de veículos, somando gastos totais de 36.898,94.
Thales Coelho (PP) somou despesas reembolsáveis de R$ 37 mil no mês de março, dos quais R$ 7 mil para divulgação da atividade parlamentar; R$ 8 mil para advogado; 5 mil para serviços contábeis.
O mesmo valor de R$ 37 mil foi gasto por Gil Carlos (PT), com R$ 17 mil em divulgação e R$ 12 mil em aluguel de veículos; e pelo também petista Hélio Rodrigues, que concentrou as despesas em serviços advocatícios (R$ 8 mil); locação de veículos (R$ 14 mil).
Também fechou a conta e passou a régua em exatos R$ 37 mil de despesas reembolsáveis o deputado Evaldo Gomes (Solidariedade), que gastou R$ 10 mil em divulgação; R$ 9 mil em combustíveis; 10 mil com advogado.
Fabio Novo, candidato do PT a prefeito de Teresina, faz parte dos que conseguiram gastar exatos R$ 37 mil em março, concentrando as despesas indenizatórias em consultoria e assessoria (R$ 15 mil), locação de veículos (R$ 14 mil) e combustíveis (R$ 6,5 mil).
Marcus Kalume, que é candidato a prefeito de Floriano pelo PT, teve despesas reembolsáveis de R$ 37.360,72 em março, sendo R$ 13 mil apenas em locação de veículos.
Dr. Hélio, do MDB, outro que é candidato a prefeito, em Parnaíba, somou gastos de R$ 36.890,32, dos quais R$ 11.260,00 com aluguel de veículos e R$ 8,5 mil com assessoria de imprensa.
Outro Hélio, o Isaías, do PT, somou despesas reembolsáveis de R$ 39.254,20, com maiores volumes em locação de veículos (R$ 14 mil) e contratação de assessorias e consultorias (R$ 16 mil)
O emedebista Ziza Carvalho é suplente, mas gasta como titular. Suas despesas reembolsáveis em março somaram R$ 36.994,00, dos quais R$ 11,3 mil com locação de veículos e R$ 8 mil com advogado.
Marden Meneses não segue o padrão dos colegas que concentram as aquisições de diesel e gasolina em uma só nota. O deputado do PP teve em março gastos de R$ 12.723.13 em combustíveis, com a emissão de 30 notas, sendo a menor de R$ 150 e a maior de R$ 1.898,35. Ele teve ainda gastos de R$ 15 mil com a locação de veículos, somando despesas reembolsáveis de R$ 38.880,03.
Francisco Limma (PT) é outro fora do padrão de gastos dos colegas com a compra de diesel e gasolina. Enquanto outros parlamentes pagam milhares de reais nessa rubrica e apresentam uma só conta, o petista teve gastos pulverizados – oito lançamentos, sendo o menor de R$ 50 reais e o maior de R$ 5.767,89. Ele gastou ainda R$ 7,5 mil em locação de veículos, somando R$ 34.287,02 em verbas indenizatórias.
Outro que também teve gastos pulverizados com a aquisição de combustíveis foi João Madison (MDB), com três notas – todas com valores abaixo de R$ 390,00. Mesmo assim suas despesas somaram R$ 37.010,11, sendo as mais expressivas com divulgação (R$ 23 mil); 
Gustavo Neiva (PP) teve despesas de R$ 37.089,91, sendo as mais expressivas na área de divulgação (R$ 15 mil) e locação de veículos (R$ 11.260,00).
O deputado Wilson Brandão, do PP, teve despesas de R$ 36.998,30, com valores maiores em aluguel de veículos (R$ 13.029,00), assessoria e consultoria (R$ 21 mil).

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