A jornalista Ravenna Castro, mãe de uma criança com TDAH e outros transtornos, divulgou uma nota de repúdio à fala do candidato Fábio Novo (PT) durante debate na TV Antena 10. O candidato mencionou uma “pandemia de autistas” em Teresina, o que gerou ampla repercussão negativa entre familiares e ativistas da causa. Após as críticas, Fábio Novo pediu desculpas pelo uso do termo e reafirmou seu compromisso com políticas públicas para pessoas com deficiência.
No debate, Fábio Novo utilizou o termo “pandemia de autistas” ao falar sobre o aumento de diagnósticos de autismo na capital. A frase foi considerada inadequada e ofensiva por muitas famílias e defensores dos direitos de pessoas autistas.
Ravenna Castro, mãe de uma criança neurodivergente, destacou que a fala de Novo foi ofensiva e desinformada, sugerindo uma analogia inadequada entre autismo e uma pandemia, conceito relacionado a doenças infecciosas. Ela ressaltou que autismo é uma condição de neurodesenvolvimento e não uma doença contagiosa, e que a escolha de palavras do candidato reforça preconceitos e pode aumentar a exclusão social das pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Fábio Novo, após a repercussão, usou suas redes sociais para se retratar, admitindo o erro ao utilizar o termo e pedindo desculpas. Ele destacou seu histórico de apoio à causa autista, mencionando emendas e legislações aprovadas para beneficiar a comunidade. No entanto, o candidato criticou o uso político do episódio por adversários, afirmando que houve a disseminação de notícias falsas relacionadas ao caso.
Apesar do pedido de desculpas, o episódio abriu um debate sobre a sensibilidade necessária ao tratar temas ligados à inclusão e respeito às diferenças, especialmente em um contexto eleitoral.
Na nota, Ravenna ainda exigiu que Fábio Novo utilizasse seu tempo eleitoral para esclarecer a fala e se retratar publicamente, pedindo maior sensibilidade em temas relacionados à inclusão e ao respeito às pessoas neurodivergentes.
Veja a nota na íntegra
NOTA DE REPÚDIO AO CANDIDATO FÁBIO NOVO (PT)
Eu, Ravenna Castro, aqui na condição de mãe atípica, sendo jornalista, advogada, que já exerci o magistério superior como professora no curso de Direito em algumas faculdades em Teresina, atuando na área da educação, carreira que tive que interromper por ter sido abençoada como mãe atípica, de uma menina de hoje 10 anos, portadora de TDAH, TOD, Dislexia, Transtorno do Sono e que também tenho sobrinhos e primos, familiares, afilhados e filhos de amigos (as), crianças que amo muito e acompanho diariamente, portadoras do autismo – Transtorno do Especto Autismo (TEA), inclusive, uma delas adotiva, tendo sido parte de rede de apoio de várias delas, repudiar as infelizes palavras ditas pelo candidato Fábio Novo contra a Comunidade Autista de Teresina e do Piauí.
Sou militante na causa autista, ativista em defesa dos direitos da Saúde de pessoas Neurodivergentes, dentre outros e PCDs físicas também, como cadeirantes, também menciono o câncer e a síndrome de down, que prestamos assistência voluntária, que são amigos(as), pessoas maravilhosas, as quais eu quero muito bem e tenho vontade de acolher, de abraça-las uma por uma, no intuito de minimizar suas dores oriundas da imposição da vida, da carga diária na luta pela saúde física e mental, incluindo as guerreiras e heroínas das mães atípicas, que recebem toda a sobrecarga psicológica dos desafios de seus filhos e demais membros familiares que acompanham de perto essa luta diária dos autistas e demais neuroatípicos.
Fincados na fé, no amor, na paciência, na resiliência e esperança de dias melhores é que prosseguimos como mães e pais atípicos ao lado de nossas crianças. Algumas mães solo, outras não. Da minha luta pessoal, do meu apego e amor pelas crianças e da sensibilidade pela vontade de minimizar a dor e sofrimento do próximo, é que nasceu a nossa entidade, o Instituto de Apoio aos Neurodivergentes do Piauí, com intuito de prestar apoio pessoal e psicológico, na medida do possível, a famílias, crianças, adolescentes, mães e cuidadores (familiares mais próximos que cuidam dos neuroatípicos) que necessitam de ajuda.
Quanto ao posicionamento do deputado Fábio Novo (PT), foi desnecessário e triste ver, dentro da política, o candidato Fábio Novo ostentar um histórico de mandatos políticos e ir numa TV proferir linguajar
incompatível e que machuca as famílias de autistas tão já sobrecarregadas pelas exaustivas lutas diária das crianças e membros portadores do TEA. Ver um candidato a prefeito que se apresenta como “o Novo” e como “o amigo das crianças e dos portadores de deficiências” se referir ao maior bem e o mais sagrado que Deus nos deu, os nossos filhos, os filhos de famílias e pais azuis, de mães azuis, falar que Teresina apresenta “uma pandemia de crianças autistas” é no mínimo triste, desolador, desnecessário, dramático e até por demais desrespeitoso, tudo isso. As crianças e suas famílias não merecem ouvir essas palavras tão ríspidas. Esperava-se do senhor uma comunicação não violenta, ao menos para esse público tão calejado. Não há necessidade disso! A ideia é diminuir a sobrecarga exaustiva deles e não causar ainda mais sofrimento às famílias.
Da última pandemia que sofremos em Teresina, em 2019/2020, candidato petista, não temos recordações boas, salvo raros casos dos que se salvaram e sobreviveram ao covid 19. Faltou-lhe preparo, orientação, estudo, conhecimento de sua parte para lhe dar com a temática do autismo e dos neurodivergentes. Acabamos de passar por um longo período de pandemia (Covid 19) e esse termo em si é tão traumático a todos, que só nos remete a tristeza e o senhor usar um termo desses relacionando a crianças, os gatinhos mentais dispararam na hora, de associação ao sofrimento, dor, desespero, escassez de medicações, falta de médicos, massacre pelo déficit na saúde pública a céu aberto, que nos colocou de joelhos, rendidos a uma doença pandêmica, alguns até deitados para nunca mais levantar, dizimou famílias. Vimos o encerramento da vida de muitos por uma pandemia e tais gatilhos vieram a tona na hora nas nossas cabeças. Rogamos a Deus que isso nunca mais se repita. E não haverá pandemia de autistas. Eles não são uma doença!
Ademais, sobre o termo técnico pandemia, não precisa nem ser médico, basta estudar o assunto, para saber que a palavra pandemia nada tem a ver com a condição do neurodesenvolvimento e permanente do autista. Foi um desserviço, uma palavra bem pesada que o “senhor jogou em cima dos autistas e de suas famílias” e que não sabemos nem que tipo de consequências de repercussão negativa e prejuízos sua fala, como autoridade, pode ter causado a eles. O autismo não é um vírus, uma doença infecciosa, uma doença que se passa por contágio através de contato pessoal como as doenças de pandemia. É uma condição permanente que não põe em risco de saúde pública ninguém que conviva com a pessoa autista. E bom e
necessário que se explique isso. Sugiro, como forma de reparação, além de um pedido público de desculpas, que o senhor use seu largo tempo eleitoral na TV (o eleitoral, pois foi nele que foi feita a ofensa) para explicar que os autistas não são doentes “e que não devem ser excluídos ou isolados do convívio da sociedade”. Sugiro que o faça de forma voluntária, sem precisar do Ministério Público recomendar. Fica mais digno. O senhor deve isso aos pais e mães de autistas, além das crianças, convenhamos!
E deputado, candidato a prefeito de Teresina, Fabio Novo (PT), se nós já lutávamos pela inclusão, o senhor com três palavras pode ter criado ai um muro gigantesco e altamente desnecessário aos pais de autistas que lutam todos os dias para ver seus filhos tratados em condições de igualdade as demais crianças. Acredito que vamos precisar de um trabalho para reparar o dano que o senhor, uma autoridade, jogou em cima dos autistas e de suas famílias em apenas três infelizes e descabidas palavras. O senhor não tem filhos, não conhece as rotinas diárias enfrentadas pelos “pais de crianças azuis” e as barreiras que eles precisam ultrapassar diariamente e nós sabemos na pele a nossa luta diária com crianças neurodivergentes (aqui incluo todas disfunções neuroatípicas) por inclusão social e saúde digna. Quando uma autoridade fala, a sociedade tem como verdade o que ela diz. E agora, deputado, o que fazer para reparar o erro que o senhor cometeu contra as mães, pais e crianças autistas em Teresina, no Piauí?
Alguns discursos pesam mais em cima de nós, sobretudo aqueles que vem com o argumento de autoridade, ditos por pessoas importantes como um agente público, um deputado igual o senhor, um familiar, alguém que vemos e entendemos como figura de autoridade. O senhor pesou na fala e causou prejuízos e machucou sim. Não se luta contra preconceitos externando preconceitos estruturais de natureza capacitistas. Nós, mães e familiares de neurodivergentes temos umas as outras, as vezes, temos famílias, quando não, temos amigos que entendem e se solidarizam com a luta das mães atípicas (aqui estendo a todas as formas de neurodivergências), as vezes encontramos pessoas boas no caminho, que nos acalma e faz acreditar que nós vamos conseguir mudar a realidade de nossos filhos para melhor e nos incentiva a não desistir deles e nem da vida (pasme, isso mesmo, o estresse e de uma mãe atípica é comparado a um soldado no campo de combate), mesmo até abdicando um pouco de nós.
Temos as igrejas, temos Deus o tempo todo nos segurando de pé. E como nós estamos acostumadas a aguentar agressões verbais, ataques, estresses diários, a brigar pelos direitos de nossos filhos, mesmo que tenha magoado, machucado, as suas palavras não vão nos deprimir. As suas palavras não vão nos parar e não vão nos fazer sentir menores ou incapacitadas para a nossa missão para com nossos filhos. Mães de neurodivergentes (incluindo autistas) se tornam guerreiras e heroínas no dia em que seus filhos nascem. E nós não costumamos perder essa luta.
Mas o senhor nos deve uma retratação e até uma reparação. Gostaria, inclusive, de ouvir a opinião do Conselho Tutelar, do Ministério Público Estadual, da Comissão de ética da Assembleia Legislativa e dos demais deputados, seus pares, dos médicos, advogados especialistas na causa, dos representantes das promotorias e juizados da infância, além dos pais de autistas e de crianças portadoras de neurodivergências e até da mães que não são mães de autistas, da sociedade no geral. Porque, como mãe de criança neuroatípica, a gente aguenta porrada quase todo dia, só não aguenta que batam nos nossos filhos. Isso a gente não vai tolerar nunca, senhor candidato a prefeito de Teresina, Fabio Novo (PT), que postula o título de “amigo das crianças (que era do Firmino) e amigo dos deficientes”. Volte, repito, volte (de voltar, retroceder) 13 casas, deputado de Bom Jesus, Piauí. O senhor ainda tem muito que aprender sobre respeito a mães, pais e crianças neuroatipicas. E vai ficar tudo bem.
Aos pais azuis (como são chamados os pais e crianças autistas), todo o meu abraço, a minha força, o meu acolhimento, admiração, respeito e aplausos e dizer que eu estou com vocês incondicionalmente para o que der e vier, assim como aos demais neurodivergentes.
Precisamos de uma saúde digna aos nossos filhos. De uma educação adaptada e inclusiva e de uma sociedade que nos respeite e respeite os nossos filhos em um local seguro de se viver. Deus é conosco e nós vamos conseguir. Contem conosco incondicionalmente. Estamos juntos(as), famílias! Levantem a cabeça. Ainda tem muito caminho a trilhar segurando na mão de Deus e dos nossos filhos (as). A gente vai passar por isso juntos(as) e vai vencer o obstáculo que tiver na nossa frente. Pelos nossos filhos (as). Deus vai mostrar e direcionar o caminho e vai dar tudo cento!
Eu quero andar com quem respeita e luta pelas nossas crianças. Não medirei esforços pelos bons e dignos. O Senhor é conosco. Estou com Silvio Mendes, que é médico e muito humano, pai, avô, experiente na Saúde e sei que ele tem muito a contribuir com a nossa causa. Entreguei o Dr. Silvio nas mãos de Deus, assim como a vida minha filha e a da minha também. Oro por Teresina. Sei que Deus é bom o tempo todo e não vai nos permitir errar de NOVO. É momento de reparação! Deus proteja e abençoes todos(as) vocês. A todos(as) um forte e feliz abraço dessa humilde mãe atípica assim igual a vocês.
Teresina, 29 de setembro de 2024.