A Polícia Federal concluiu, nesta terça-feira, um inquérito que investiga possíveis irregularidades na utilização da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O relatório final, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), indiciou o vereador Carlos Bolsonaro e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, além do atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa. A investigação apurou se a Abin foi usada de forma ilegal para atender a interesses políticos e pessoais do ex-presidente e de sua família.
O inquérito, que teve início em março de 2023, revelou que a Abin foi supostamente aparelhada para realizar ações de espionagem que visavam monitorar adversários políticos e produzir notícias falsas. A PF identificou que servidores da agência invadiram dispositivos eletrônicos sem autorização judicial, utilizando um software denominado FirstMile para localizar e monitorar indivíduos. Entre os alvos do que foi chamado de "Abin paralela" estavam ministros do STF, políticos, jornalistas e membros da CPI da Covid.
A investigação não apenas abordou a utilização irregular da Abin, mas também apontou uma conexão com o "gabinete do ódio," um grupo que atuava para disseminar desinformação e atacar opositores nas redes sociais. O inquérito sugere que Alexandre Ramagem foi o responsável por organizar esse monitoramento ilegal, e que Carlos Bolsonaro estava à frente da gestão do gabinete do ódio. Além disso, a PF encontrou indícios que ligam a operação a tentativas de deslegitimar o sistema eleitoral, evidenciando uma trama mais ampla de desvio de poder.
Após a conclusão do inquérito, a Procuradoria-Geral da República (PGR) terá que decidir se apresentará acusações formais contra os indiciados. Enquanto isso, a reação de Carlos Bolsonaro foi de ironia, afirmando que o indiciamento tem motivações políticas, especialmente em um ano eleitoral. A União dos Profissionais de Inteligência de Estado (Intelis), representando os servidores da Abin, pediu a exoneração de Luiz Fernando Corrêa, alegando que é inadmissível que alguém sob investigações graves mantenha um cargo de comando na agência.