Presidente do Cruzeiro estuda renúncia após rebaixamento e culpa oposição por momento do clube

Em primeira entrevista após queda no Brasileiro, Wagner Pires de Sá afirma que irá conversar com aliados para estudar saída; presidente aponta Zezé Perrella como eventual substituto

Por Globo Esporte,

Pela primeira vez após o rebaixamento inédito para a Série B do Brasileiro, o presidente do clube mineiro, Wagner Pires de Sá, se pronunciou sobre o rebaixamento e sobre o futuro do clube mineiro. Questionado sobre sua manutenção no cargo, devido à pressão política e da torcida que sofre, o dirigente admitiu ao GloboEsporte.com que está repensando a continuidade.

- Estou repensando seriamente. Mas ainda vou ouvir meus pares, conselheiros, que são quase 300, 200 e tantos conselheiros que me apoiam. E colocar se compensa continuar ou se tem alguém que possa ou queira receber o clube na condição que a oposição deixou. O dialogo meu com eles é aberto e tranquilo. Vamos analisar isso – disse o presidente.


Wagner Pires de Sá, Cruzeiro — Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Wagner Pires de Sá se defendeu e disse que tentou ajudar o Cruzeiro nestes dois anos de presidência, sem querer nada em troca. De acordo com ele, sua ida à presidência foi a pedido dos conselheiros, que não viam outra solução para o cargo em 2017.

- Eu não tenho o Cruzeiro a não ser a dedicação. Eu dei ao Cruzeiro, tentei levar o nome do Cruzeiro, é o que me tornou, me fez ir ao encontro do pedido dos próprios conselheiros. Eles falaram: “você é o único que posse assumir a presidência”, na época. Eles acharam que outros candidatos eram candidatos que não tinham a ver com a história do Cruzeiro. Eu fui levado à presidência por esses conselheiros. Incrivelmente, eles que me apoiam até hoje e querem que eu fique. Eu que estou pensando seriamente se compensa o sacrifício que venho fazendo. Não tenho pretensão política. Eu não preciso do Cruzeiro para me tornar, profissionalmente, melhor. É só uma dedicação.

Zezé como substituto

Wagner Pires ainda não se decidiu se deixará o cargo, mas demonstrou que vê Zezé Perrella como o mais provável em caso de saída. Entretanto, o presidente ainda tem dois vice-presidentes: Hermínio Lemos e Ronaldo Granata. Ambos não são investigados pela Polícia Civil e Federal e não pensam, neste momento, em deixar os cargos. Em caso de saída, é Hermínio quem assumiria o posto, por ser o primeiro vice-presidente.


Wagner Pires de Sá apontou Zezé Perrella como seu eventual substituto — Foto: Bruno Haddad

- O Zezé quer continuar e, de repente, seria uma dedicação interessante. O Zezé tem pretensões outras que não sei. Não sei se tem outras pretensões, mas ele foi presidente do Cruzeiro por muitos anos, conhece, é um homem do futebol, sabe das dificuldades, mas eventualmente pode tocar a coisa se, eventualmente, os meus pares acharem, porque o sacrifício é muito grande.

"Queda anunciada"

Wagner Pires de Sá afirmou que o rebaixamento do Cruzeiro já estava escrito e era o desejo da oposição no clube mineiro. Ele citou que o time até o fim do Mineiro e início do Brasileiro era um dos melhores do Brasil em 2019.

- Nós ganhamos o Mineiro invicto, tivemos a Copa do Brasil (2018), fizemos uma das melhores campanhas na fase de classificação da Libertadores, com um desempenho excepcional, só perdemos para o Emelec. A partir daí, o time caiu de produção. O mesmo time, aquele que era um dos melhores do país, passou a não mais, não vencemos mais nenhum. Conseguimos empatar uma e com muito custo. A queda foi anunciada. O desejo da oposição, que era pequena, foi completada e satisfeita. Eles conseguiram jogar o Cruzeiro na Série B. Já era uma carta escrita, assinada, predestinada. Agora estamos na Série B. Temos que reconstruir o Cruzeiro, fazer da grandeza que ele é. Só tenho que agradecer o apoio que a torcida nos deu até o último segundo.

Além disso, Wagner Pires admitiu novamente que a divulgação da investigação de irregularidades apontadas no Cruzeiro impediu que o clube contraísse o empréstimo de quase R$ 300 milhões com um fundo inglês para pagar as dívidas de curto prazo.

- Nós, desde uma reportagem que saiu na própria Globo, deixou o Cruzeiro numa situação muito difícil, porque eu já tinha exposto ao Conselho Deliberativo sobre a situação anterior do Cruzeiro. Nós já tínhamos uma dívida muito grande, uma dívida de R$ 400 milhões, sendo que, dessa dívida, R$ 300 milhões eram curtíssimo prazo. Eu tinha que pagar, como se pode dizer, no dia seguinte, como salários atrasados, direitos de imagem atrasados, fornecedores atrasados, atraso no pagamento da compra de jogadores e intermediários, que a gente chama de dívidas da Fifa. Se não paga (dívidas da Fifa), seria rebaixado. E saiu uma reportagem da Globo baseado acusação numa denúncia anônima, que o próprio delegado, na época, definiu como uma denúncia apócrifa. Mas, com isso, conseguiram, não sei porque, nem de que forma, colocar no Fantástico, e essa situação um prato cheio para o restante da imprensa e para as redes sociais. Nós então não conseguimos, porque já estávamos com o empréstimo garantido e assinado, e o grupo inglês, quando viu a situação e o mercado financeiro é muito rígido quanto a essas coisas, e ele declinou do empréstimo ao Cruzeiro. A partir daí, tivemos muitas dificuldades financeiras.

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