Governo avalia retorno do horário de verão devido à crise hídrica e energética

Diante da crise hídrica enfrentada no Brasil, o governo federal está considerando a volta do horário de verão, suspenso desde 2019. O Ministério de Minas e Energia (MME) deve concluir em breve um estudo sobre a necessidade e viabilidade dessa medida, em meio a um cenário de seca recorde no país. A proposta está sendo analisada no contexto de medidas para enfrentar o impacto da falta de chuvas sobre os reservatórios de hidrelétricas e o aumento do consumo de energia.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) retomou a discussão sobre as ações para mitigar os efeitos da estiagem. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a carga de energia em setembro apresentou uma alta de 3,2% em relação ao mesmo período de 2023, com o consumo médio estimado em 79.679 megawatts. No entanto, o nível dos reservatórios das hidrelétricas, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste, deve atingir apenas 46,9% da capacidade até o final do mês, inferior à previsão inicial.

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O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já indicou que deve propor o retorno do horário de verão à Casa Civil, ressaltando que a decisão final dependerá do Palácio do Planalto. Silveira destacou que a medida seria uma resposta à atual crise hídrica e ao aumento da demanda por energia durante os horários de pico, entre 18h e 20h, quando a produção de energia solar e eólica é reduzida, e há a necessidade de acionar usinas térmicas.

Crise hídrica e histórico do horário de verão

O horário de verão foi criado em 1931, com o objetivo de aproveitar ao máximo a luz solar, economizando energia elétrica. A medida foi adotada de forma contínua a partir de 1985, mas foi suspensa em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, sob a justificativa de que a economia de energia gerada não compensava os possíveis impactos no bem-estar da população.

Agora, diante da crise hídrica e das mudanças climáticas que agravam a escassez de água e aumentam a demanda por energia, o governo avalia a possibilidade de retorno da medida. A seca extrema afeta atualmente 25 das 27 unidades federativas do país, com exceção de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Segundo o ministro Silveira, embora não haja risco imediato de uma crise energética, o horário de verão ajudaria a aumentar a segurança e resiliência do sistema energético brasileiro. Além disso, o retorno da medida poderia beneficiar setores como o comércio e o turismo, ao prolongar a atividade econômica nos dias mais longos.

Efetividade

A eficácia do horário de verão é um tema que gera controvérsias. Especialistas apontam que, embora a medida tenha gerado economia de energia em anos anteriores, o impacto foi reduzido nos últimos tempos, principalmente devido ao aumento do uso de ar-condicionado, que atinge seu pico de consumo no meio da tarde, e não mais no início da noite.

O professor da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes, explicou que o consumo de energia elétrica tem se mantido elevado em 2024, devido às altas temperaturas e à falta de chuvas. Ele destacou que o consumo registrado em agosto deste ano foi superior a todos os picos de consumo dos anos anteriores, o que reflete a intensidade da crise climática e o aumento do uso de equipamentos de refrigeração.

Apesar dessas divergências, o governo segue avaliando a viabilidade do retorno do horário de verão como uma das medidas para lidar com os desafios energéticos e a crise hídrica no país. A decisão final será baseada nos resultados do estudo do MME e nas discussões entre os diferentes órgãos governamentais.

Fonte: Correio Braziliense