Persiste impasse entre STF e Câmara sobre emendas parlamentares
Dino mantém suspensão de R$ 4,2 bilhões e rejeita argumentos da Câmara sobre indicações
O embate institucional entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Câmara dos Deputados sobre a execução de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares persiste. O ministro Flávio Dino, responsável pela decisão que suspendeu os pagamentos, afirmou nesta sexta-feira (27) que a Câmara não apresentou as informações necessárias para o desbloqueio dos recursos, reiterando críticas à falta de transparência no processo.
A suspensão dos valores ocorreu na última segunda-feira (23), quando Dino apontou que as chamadas emendas RP-8, vinculadas às comissões permanentes, não cumpriram os critérios de transparência e rastreabilidade exigidos pelo STF. O pagamento dos recursos estava previsto para o final do ano.
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Dino condicionou a liberação à identificação dos parlamentares responsáveis pelas indicações. Contudo, o procedimento adotado pela Câmara lista apenas 17 líderes de bancada como responsáveis pelas emendas, sem revelar os verdadeiros autores das indicações, prática considerada inconstitucional pelo ministro.
Argumentos da Câmara
A Advocacia da Câmara apresentou documentos ao STF alegando que o processo seguiu orientações jurídicas de órgãos do governo federal, como os Ministérios da Fazenda e do Planejamento, além da Casa Civil. Segundo a Casa, as indicações foram realizadas de forma transparente, respeitando a legislação vigente e com aprovação das comissões permanentes.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), destacou que o procedimento utilizado foi respaldado pelo governo Lula e acusou o STF de direcionar críticas apenas à Câmara, ignorando que o Senado adotou práticas idênticas.
Resposta de Dino
Para Flávio Dino, os argumentos apresentados não foram suficientes para resolver as questões apontadas. Ele rejeitou a distinção entre "aprovação" e "indicação" de emendas defendida pela Câmara e enfatizou que o mecanismo adotado cria uma modalidade de "emendas de líderes", não prevista na legislação.
“O ordenamento jurídico brasileiro não reconhece emendas de líderes. Essa prática dificulta a identificação dos autores e viola os princípios constitucionais de transparência e rastreabilidade”, afirmou o ministro.
Diante da ausência de informações imprescindíveis, Dino prorrogou o prazo para a Câmara apresentar novos esclarecimentos até as 20h da sexta-feira (27).
A suspensão das emendas gerou forte repercussão política. Além das disputas entre Legislativo e Judiciário, o tema foi discutido em uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e líderes do governo na Câmara. O encontro, realizado na Granja do Torto, abordou possíveis saídas para o impasse, mas nenhuma solução definitiva foi anunciada.
Enquanto isso, a Polícia Federal foi acionada para investigar o mecanismo de apadrinhamento das emendas, com o objetivo de identificar irregularidades e responsabilizar eventuais envolvidos.
Fonte: Correio Braziliense