Estudantes protestam contra escolha do presidente Bolsonaro para reitoria da UFPI

Foi nomeado reitor da instituição, o professor Gildásio Guedes

Por Fernanda Gil Lustosa,

Um grupo de estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) realizou um ato na manhã desta segunda-feira (23)em protesto contra a posse do novo reitor Gildásio Guedes. O professor e mestre em matemática foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro, na última quarta-feira (18). 

Estudantes manifestando (Foto:Alexandre Ferreira)

No protesto organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e os Centros Acadêmicos, os estudantes carregavam faixas com a frase “Gildásio interventor”. “Mais uma vez Jair Bolsonaro vem fazendo o desmonte na educação, assim como o reitor empossado que não foi eleito pela comunidade acadêmica e muito menos pelo Conselho Universitário. Nós não aceitaremos um reitor que de fato não foi eleito, não aceitaremos um golpe na nossa Universidade. É um ato em defesa da autonomia universitária e da democracia, reafirmando que não reconhecemos o reitor empossado e estaremos em luta contra o desmonte da educação em todos os setores”, disse Éllica Ramona, presidente do DCE da UFPI.

Ainda segundo a presidente do DCE, as eleições do ano de 2020 não foram amplamente divulgadas, o que prejudicou o processo eleitoral.  “Não podemos aceitar qualquer medida autoritária que suprime a própria escolha da comunidade, continuamos chamando: reitor eleito, é reitor empossado e não com intervenção na reitoria da UFPI”, fala.

Éllica Ramona fazendo discurso em protesto em frente a reitoria (Foto:Alexandre Ferreira)

A diretora de planejamento do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPI, Thays Dias, conta que a decisão já era esperada, uma vez que ações semelhantes têm ocorrido no governo Bolsonaro. “É mais um retrocesso à democracia e à Educação”, destaca. 

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, ressalta a posição de repúdio e indignação da entidade quanto a atitude do governo federal. “A postura do governo é de exatamente tentar impor um certo controle político nas universidades e que não dialoga com a autonomia universitária, que é um direito constitucional”, observa.

Protesto em frente a reitoria (Foto:Alexandre Ferreira)

Outras nomeações

Para a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o professor doutor Fábio Josué Souza dos Santos foi escolhido para ser o reitor da instituição. A nomeação causou controvérsia porque o presidente escolheu o terceiro mais votado de uma lista tríplice enviada pela instituição ao Ministério da Educação (MEC).  Segundo a Lei, o presidente pode nomear qualquer um dos três nomes apresentados, sem apresentar justificativa para o nome escolhido. No entanto, a escolha pelo primeiro colocado era uma tradição adotada desde o primeiro governo Lula.

Para a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o indicado foi Valdiney Veloso, que foi o menos votado da lista tríplice. O novo reitor da UFPI, Gildásio Guedes ficou em terceiro lugar na consulta à comunidade acadêmica e era o segundo colocado da lista tríplice.

O poder do presidente na nomeação é alvo de questionamento no STF

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin concedeu cinco dias para que Bolsonaro explique as nomeações para reitoria das universidades. A ordem é parte da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

O poder de nomear um postulante não aprovado nas urnas também é questionada por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo Partido Verde e que conta com informações da União Nacional dos Estudantes (UNE). A atitude do presidente contraria uma tradição de décadas e é vista como um ataque à autonomia universitária.

Confira a nota na íntegra

Ato contra a intervenção de bolsonaro na UFPI

Ontem foi oficialmente confirmado a posse do reitor interventor da UFPI, o prof. Gildásio Guedes, através da escolha de Bolsonaro, ferindo a autonomia universitária e invalidando o processo eleitoral realizado a alguns meses atrás. Nós, estudantes da UFPI, convocamos toda a comunidade acadêmica para um ato em defesa da autonomia universitária e da democracia, reafirmando que não reconhecemos o reitor empossado e estaremos em luta contra o desmonte da educação em todos os setores.

O Diretório Central dos Estudantes junto dos Centros Acadêmicos decidiu em reunião de Conselho de Entidade de Base repudiar essa decisão do governo Bolsonaro que não acolhe aos direitos democráticos da universidade. Sabemos que isso não é um caso isolado, diversas universidades como UFC e UFPB tiveram suas reitorias nomeadas por Bolsonaro, isso faz parte de um projeto nacional que oriente as universidades do Brasil a um processo de privatização e sucateamento da educação pública. Além disso, busca-se também perseguir e censurar diferentes formas de produzir conhecimento ameaçando professores e estudantes que lutam em defesa da educação pública e gratuita

O movimento estudantil sempre lutou pela participação completa da comunidade acadêmica nas decisões da própria instituição, prezamos pelas eleições paritárias onde estudantes, professores e funcionários tenham o mesmo peso de votação, e sejam amplamente participativas e democráticas. Destacamos que as eleições do ano de 2020 não foram amplamente divulgadas, e diante da pandemia, grande parte das estudantes não possuíam internet e pouco sabiam do processo de escolha a nova gestão da UFPI. Por isso, não podemos aceitar qualquer medida autoritária que suprime a própria escolha da comunidade, continuamos o chamado reitor eleito, é reitor empossado e não a intervenção na reitoria da UFPI.

*Com colaboração de Alexandre Ferreira 

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