Duas em cada dez brasileiras já sofreram ameaça de morte

Pesquisa revela que 60% das mulheres conhecem vítimas; negros são maioria entre os casos.

Por Carlos Sousa,

Uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, em parceria com a Consulting do Brasil, revelou um dado alarmante sobre violência doméstica no Brasil: duas em cada dez mulheres (21%) já foram ameaçadas de morte por parceiros ou ex-parceiros românticos. Além disso, seis em cada dez brasileiras conhecem alguém que vivenciou uma situação semelhante, com maior incidência entre mulheres negras.

Foto: FreePikViolência doméstica
Violência doméstica

O estudo, intitulado Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio, foi divulgado nesta segunda-feira (25), com apoio do Ministério das Mulheres e recursos viabilizados pela deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP).

Principais dados da pesquisa

Reação das vítimas: 60% das mulheres ameaçadas romperam com o agressor. Entre as negras, esse índice é maior que entre as brancas.

Medo versus denúncia: 44% das vítimas afirmaram ter sentido muito medo, mas apenas 30% registraram queixa e 17% solicitaram medidas protetivas.

Impunidade: 66% das entrevistadas acreditam que os agressores ficam impunes, e somente 20% acham que eles acabam presos.

Crescimento dos casos: 90% das participantes afirmam que os feminicídios aumentaram nos últimos cinco anos.

Rede de apoio insuficiente: 80% acreditam que o sistema de atendimento é bom, mas não atende à demanda.

Ciclo de violência e impacto psicológico

A pesquisa também revelou que muitas mulheres não percebem o risco real associado às ameaças de morte: 42% acreditam que os agressores não cumprirão o que prometem. Essa percepção, combinada com fatores como dependência emocional e medo, contribui para que muitas vítimas permaneçam em ciclos de violência.

Zilma Dias, diarista e sobrevivente da violência doméstica, exemplifica a realidade de muitas mulheres. Ela viveu anos de abusos psicológicos, físicos e patrimoniais nas mãos de seu companheiro, que posteriormente assassinou outra parceira. "Eu achava que obediência era um valor, mas era cárcere privado. Hoje vejo que ninguém merece viver assim", desabafou.

Casos emblemáticos de feminicídio

A sobrinha de Zilma, Camila, foi morta aos 17 anos por seu ex-companheiro, de quem tentava se afastar após engravidar. O agressor, que chegou a isolar a jovem de sua família, assassinou-a com 12 facadas diante da filha do casal. Ele foi condenado a 13 anos de prisão após ser capturado por outrocrime.

O caso da própria Zilma também foi marcado por um desfecho trágico. Seu ex-companheiro, após o término do relacionamento, matou e esquartejou outra mulher. Ele cumpre 25 anos de prisão.

Causas do feminicídio e desafios no enfrentamento

Quase todas as entrevistadas (89%) apontaram ciúme e possessividade como as principais causas de feminicídios praticados por parceiros ou ex-parceiros. Além disso, 80% destacaram a necessidade de campanhas que incentivem denúncias e vejam nas redes sociais ferramentas importantes para enfrentar a violência.

Apesar dos avanços na legislação e criação de medidas protetivas, a pesquisa evidencia que as mulheres ainda enfrentam barreiras para acessar apoio, seja por falta de estrutura no atendimento ou pela descrença no sistema de Justiça.

Rede de apoio e como buscar ajuda

Para vítimas ou pessoas próximas que precisem de auxílio, o telefone 180 oferece atendimento especializado em casos de violência doméstica. Além disso, delegacias especializadas e a Casa da Mulher Brasileira, presente em dez cidades, fornecem suporte jurídico e psicológico.

O estudo completo está disponível no site do Instituto Patrícia Galvão, que também oferece informações sobre prevenção e combate à violência doméstica. 

Fonte: Agência Brasil

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