Julgamento sobre desastre de Mariana será retomado no Reino Unido em janeiro
Ação no tribunal britânico pode responsabilizar mineradora angloaustraliana pelo rompimento da barragem da Samarco em 2015
O julgamento que decide a responsabilização ou não da mineradora angloaustraliana BHP pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), será retomado em 13 de janeiro de 2025 na Corte de Tecnologia e Construção de Londres. O caso, iniciado em outubro, foi suspenso no final de 2023 devido ao recesso de fim de ano da Justiça britânica, após a apreciação de documentos e depoimentos de diversas testemunhas.
A tragédia, que ocorreu em 5 de novembro de 2015, resultou em 19 mortes, três desaparecidos, 600 desabrigados e a destruição do distrito de Bento Rodrigues. Aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração foram despejados no meio ambiente, atingindo 49 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo e percorrendo 663 quilômetros até o litoral capixaba.
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O processo corre contra a BHP, que é uma das acionistas da Samarco, sendo a Vale a outra sócia. A ação foi movida pelo escritório de advocacia Pogust Goodhead (PG), que representa 620 mil pessoas, 46 municípios e 1.500 empresas atingidas pelo desastre, buscando responsabilizar a BHP no Reino Unido. A Vale não é ré nesta ação.
Segundo os advogados das vítimas, a Samarco já sabia desde 2013 que a barragem estava operando acima dos limites de segurança e que não havia um plano adequado de evacuação na região de Bento Rodrigues, onde a estrutura estava localizada. Além disso, um ex-engenheiro da BHP teria admitido, em depoimento, que sabia de rachaduras na barragem em 2014, mas nenhuma medida preventiva foi tomada.
Os advogados alegam também que a BHP tinha controle sobre as operações da Samarco, incluindo auditorias e decisões estratégicas, além de práticas de remuneração e gestão. O escritório de advocacia defende que, como acionista majoritário, a BHP deve ser responsabilizada pelas falhas operacionais e pela tragédia, com base no conceito de responsabilidade corporativa.
Durante o julgamento, especialistas em direito societário estão sendo ouvidos para esclarecer se um acionista majoritário pode ser considerado responsável por incidentes em uma empresa da qual é sócio. Em janeiro e fevereiro, a Corte britânica ouvirá especialistas em direito ambiental brasileiro e geotecnia para aprofundar a análise técnica do caso.
Em sua defesa, a BHP argumenta que o caso já foi resolvido no Brasil por meio de um acordo de reparação firmado entre a Samarco, Vale e BHP com as vítimas, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2024. A mineradora afirma que o acordo, no valor de R$ 170 bilhões, destina-se à reparação dos danos ambientais e sociais causados pelo rompimento.
A BHP também destaca que, por meio da Fundação Renova, criada em 2016, mais de R$ 38 bilhões foram destinados a auxílios emergenciais, indenizações, reparação do meio ambiente e infraestrutura para aproximadamente 430 mil pessoas, empresas locais e comunidades indígenas e quilombolas afetadas pela tragédia. A empresa refuta, no entanto, os pedidos feitos no tribunal britânico, reforçando seu compromisso com o processo de reparação no Brasil.
Caso a BHP seja considerada responsável no Reino Unido, um novo julgamento será realizado para definir os valores de indenização, que o escritório PG estima em cerca de R$ 230 bilhões. As partes envolvidas também devem preparar alegações finais entre 5 e 13 de março de 2024. O processo é considerado um dos maiores da história do país e segue em análise, com expectativa de decisão da Justiça britânica ainda em 2025.
Fonte: Agência Brasil