Governador do PT recebe críticas da CUT e MST por defender agrotóxicos no Ceará
Governador Elmano de Freitas (PT) defendeu pulverização com drones como medida alternativa para preservar saúde de trabalhadores
Movimentos sociais historicamente ligados ao campo político do PT, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a CUT-CE (Central Única dos Trabalhadores do Ceará), manifestaram críticas à proposta de regulamentação da pulverização aérea de agrotóxicos por drones no Ceará. O tema foi defendido pelo governador Elmano de Freitas (PT) durante o evento Cresce Ceará, realizado no último dia 6 de dezembro, em encontro com empresários e representantes do setor agropecuário.
Para o MST, a medida representa um retrocesso. Em nota, o movimento afirmou que a prática pode gerar impactos ambientais e sociais, como contaminação de solo e água, além de riscos à saúde de trabalhadores. “Essa prática deve ser combatida e não regulamentada, pois suas consequências são prejudiciais não apenas à agricultura familiar, mas à população em geral”, destacou o comunicado.
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A CUT-CE também se posicionou contra a proposta, mencionando um “grave retrocesso ambiental, social e sanitário”. A entidade citou a Lei Zé Maria do Tomé, sancionada em 2019, que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos no estado. Segundo a central, a iniciativa do governo desvirtua os princípios dessa legislação, considerada um marco na defesa ambiental e da saúde pública no Ceará.
Elmano de Freitas defendeu o uso de drones como alternativa para reduzir a exposição direta de trabalhadores aos agrotóxicos. “Os deputados estaduais têm discutido e querem votar a possibilidade de uso de drones na agricultura cearense. Da minha parte, há apoio, para que possamos garantir mais saúde e segurança aos trabalhadores”, disse o governador.
Ele destacou que a decisão final sobre a regulamentação cabe à Assembleia Legislativa, mas reafirmou sua posição favorável à medida.
Estudos científicos foram citados pelos críticos para embasar a oposição à proposta. A CUT-CE mencionou uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), que relaciona o uso indiscriminado de agrotóxicos ao aumento de doenças como câncer, infertilidade masculina e malformações congênitas.
O MST e a CUT também alertaram para possíveis conflitos sociais gerados pela prática, como impactos em comunidades próximas às áreas de cultivo e danos à agricultura familiar. Ambos os movimentos defenderam a ampliação de políticas voltadas à agroecologia como alternativa ao uso de agrotóxicos.
Leia as notas na íntegra:
MST
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem a público manifestar repúdio à proposta anunciada pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), que visa à liberação da pulverização aérea por drones em atividades agrícolas no Estado do Ceará.
Essa medida representa um grave retrocesso nas políticas de proteção ao meio ambiente e à saúde pública. A pulverização aérea, por sua natureza, aumenta os riscos de contaminação do solo, das águas e da biodiversidade, além de comprometer a saúde das pessoas, expondo trabalhadores/as e comunidades ao uso indiscriminado de agrotóxicos. Essa prática também causa conflitos nos territórios, incluindo o assassinato de trabalhadores.
É nosso entendimento que essa prática deve ser combatida e não regulamentada, pois suas consequências são prejudiciais não apenas à agricultura familiar, mas à população de um modo geral.
A defesa da agricultura familiar camponesa requer investimento em práticas agroecológicas que respeitem a vida, o meio ambiente e a natureza. Essa postura é contraditória para alguém que sempre acompanhou as lutas populares no combate ao uso de agrotóxicos.
Exigimos que o governo do Ceará reconsidere essa proposta e priorize políticas que garantam a soberania alimentar, por meio da produção de alimentos saudáveis nos territórios camponeses.
A luta continua, agrotóxicos não! Em defesa da vida, seguimos firmes!”
CUT-CE
“A Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT-CE) vem a público expressar veemente repúdio à proposta de liberação da pulverização aérea de agrotóxicos por drones, anunciada pelo governador Elmano de Freitas durante o evento Cresce Ceará, no último dia 6 de dezembro.
Tal medida representa um grave retrocesso ambiental, social e sanitário, contrariando princípios e conquistas que têm colocado o Ceará como referência nacional e internacional em defesa da vida e do meio ambiente.
Causa-nos profunda perplexidade que o governador, coautor da Lei Estadual n° 16.820/2019, conhecida como Lei Zé Maria do Tomé, que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos, defenda uma proposta que desvirtua os pilares dessa legislação histórica. Instituída em homenagem ao líder comunitário e ambientalista Zé Maria do Tomé, brutalmente assassinado por sua luta contra o uso indiscriminado de agrotóxicos, essa lei é um marco na construção de uma agricultura mais sustentável e na proteção da saúde coletiva.
Estudos científicos amplamente reconhecidos apontam os impactos devastadores da pulverização aérea para o meio ambiente e a saúde humana. A contaminação de solos, rios, aquíferos e pescados, além da dispersão de agrotóxicos em áreas habitadas, eleva drasticamente os riscos à saúde, incluindo doenças graves como câncer.
Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), conduzida pela Dra. Raquel Rigotto, demonstrou que o consumo de alimentos contaminados com agrotóxicos pode causar leucemias, linfomas, cânceres de pulmão, estômago, próstata e testículos, além de desencadear malformações congênitas, infertilidade masculina e desregulações endócrinas.
A liberação dessa prática representa uma afronta ao compromisso global no combate às mudanças climáticas, promovendo um modelo de produção que agrava a degradação ambiental e compromete a saúde pública.
Defendemos o fortalecimento da agroecologia como um caminho para a produção de alimentos saudáveis, livres de venenos, em harmonia com a preservação ambiental e os direitos das populações rurais.
Diante disso, a CUT-CE exige que o governador Elmano de Freitas desista dessa proposição e reforce políticas públicas que assegurem o fortalecimento da agricultura familiar, a soberania alimentar e o direito humano à alimentação saudável. É fundamental priorizar investimentos em práticas agrícolas sustentáveis, que consolidem o Ceará como referência na luta pela vida e pela preservação do meio ambiente.”
Fonte: Portal AZ