Contra os Acadêmicos: ou o fim da intelectualidade pública

Apenas uma vontade: Um fim na Academia Piauiense de Letras.

Por Por José Ribas Doran,

Se minha vontade latente mais profunda fosse exercida, não haveria em minha mente uma dessas pulsões sexuais freudianas, mas apenas uma vontade: Um fim na Academia Piauiense de Letras. Ocorreria que algum destes abastados sem consciência estética compraria o prédio, iria enxotar seus membros como se faz com esses tipos invasores de terras e se abriria ali uma dessas tabacarias que está na moda. Decerto o ‘vape’ causaria menos males para os jovens do que os ditos intelectuais que andam por aqueles corredores.

Foto: Reprodução/InternetAcademia Piauiense de Letras

Pode-se objetar que estão ali os maiores pensadores do Piauí, mas isso é uma falsidade de perspectivas. Imaginemos em outros termos essa questão.

É verdade que o melhor jogador da Seleção de Tonga é Patueli Tokataha, mas também é verdade que a Seleção Toguense é a pior seleção do mundo. Daí seja verdade que não é Patueli um bom jogador, só é melhor que os outros jogadores. O mesmo vale para a intelectualidade Piauiense.

Nossa aridez intelectual é capaz de tornar o medíocre em alguém aparentemente sensato, mas vejam bem, aparentemente. Pois, sob a luz de um escrutínio, não passam daquilo que Roger Scruton chamou de ‘tolos, fraudes e militantes’.

Mas a crise da Academia Piauiense de Letras não é uma crise da instituição, é uma crise de pessoas, é o declínio da intelectualidade pública. Russell Jacoby em seu livro, 'The Last Intellectuals', aponta que a virada do intelectual de um ambiente livre e autônomo, onde era a vida das letras um ofício à parte, foi transportada para catedráticos e seu mundo acadêmico de jargões e interesses. Daí que todo intelectual seja agora antes de tudo um burocrata narcisista e suas relações são em essência com o estamento burocrático.

Ora, quem de nós imaginaria que Wellington Dias, com seus textos de estrutura infantil, seria elevado para uma cadeira da Academia. É grave, mas não tão grave quanto que neste mesmo período a Academia tenha recebido um repasse do Governo do Estado de RS 300.000, que causam dúvidas razoáveis.

É uma afronta dos atuais sequazes daquela casa com Lucídio Freitas, homem que vislumbrou outrora preservar nossa cultura e não degenera-la com mesquinharia e traição. Deve-se ser local de letrados e não de meninos defendendo militância pessoal ou grupos de poder, pois não se pode pensar quando já se define, petitio principii, o que e como pensar.

Xavier Zubiri escreverá, em ‘Naturaleza, Historia, Dios,’ sobre nossa situação intelectual. O filósofo espanhol tem razão ao dizer que estamos em momento de desorientação intelectual, mas ainda existe uma caminho, ou em suas palavras:

‘‘A primeira missão da inteligência consiste em esclarecer a própria situação a que chegou e convertê-la em problema’’.

Dirá ainda que a crise tem raiz na vida intelectual como um mero programa baseado na utilidade e aquelas curiosidades profundas agora são objetos de desdém e descarte. Grosso modo, a Academia é útil para alguém, mesmo que isso anule nossa intelectualidade.

São dialéticos, os inúteis mais úteis.

Fonte: Por José Ribas Doran

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