Contra os Acadêmicos: ou o fim da intelectualidade pública
Apenas uma vontade: Um fim na Academia Piauiense de Letras.
Se minha vontade latente mais profunda fosse exercida, não haveria em minha mente uma dessas pulsões sexuais freudianas, mas apenas uma vontade: Um fim na Academia Piauiense de Letras. Ocorreria que algum destes abastados sem consciência estética compraria o prédio, iria enxotar seus membros como se faz com esses tipos invasores de terras e se abriria ali uma dessas tabacarias que está na moda. Decerto o ‘vape’ causaria menos males para os jovens do que os ditos intelectuais que andam por aqueles corredores.

Pode-se objetar que estão ali os maiores pensadores do Piauí, mas isso é uma falsidade de perspectivas. Imaginemos em outros termos essa questão.
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É verdade que o melhor jogador da Seleção de Tonga é Patueli Tokataha, mas também é verdade que a Seleção Toguense é a pior seleção do mundo. Daí seja verdade que não é Patueli um bom jogador, só é melhor que os outros jogadores. O mesmo vale para a intelectualidade Piauiense.
Nossa aridez intelectual é capaz de tornar o medíocre em alguém aparentemente sensato, mas vejam bem, aparentemente. Pois, sob a luz de um escrutínio, não passam daquilo que Roger Scruton chamou de ‘tolos, fraudes e militantes’.
Mas a crise da Academia Piauiense de Letras não é uma crise da instituição, é uma crise de pessoas, é o declínio da intelectualidade pública. Russell Jacoby em seu livro, 'The Last Intellectuals', aponta que a virada do intelectual de um ambiente livre e autônomo, onde era a vida das letras um ofício à parte, foi transportada para catedráticos e seu mundo acadêmico de jargões e interesses. Daí que todo intelectual seja agora antes de tudo um burocrata narcisista e suas relações são em essência com o estamento burocrático.
Ora, quem de nós imaginaria que Wellington Dias, com seus textos de estrutura infantil, seria elevado para uma cadeira da Academia. É grave, mas não tão grave quanto que neste mesmo período a Academia tenha recebido um repasse do Governo do Estado de RS 300.000, que causam dúvidas razoáveis.
É uma afronta dos atuais sequazes daquela casa com Lucídio Freitas, homem que vislumbrou outrora preservar nossa cultura e não degenera-la com mesquinharia e traição. Deve-se ser local de letrados e não de meninos defendendo militância pessoal ou grupos de poder, pois não se pode pensar quando já se define, petitio principii, o que e como pensar.
Xavier Zubiri escreverá, em ‘Naturaleza, Historia, Dios,’ sobre nossa situação intelectual. O filósofo espanhol tem razão ao dizer que estamos em momento de desorientação intelectual, mas ainda existe uma caminho, ou em suas palavras:
‘‘A primeira missão da inteligência consiste em esclarecer a própria situação a que chegou e convertê-la em problema’’.
Dirá ainda que a crise tem raiz na vida intelectual como um mero programa baseado na utilidade e aquelas curiosidades profundas agora são objetos de desdém e descarte. Grosso modo, a Academia é útil para alguém, mesmo que isso anule nossa intelectualidade.
São dialéticos, os inúteis mais úteis.
Fonte: Por José Ribas Doran