A Lei da Ficha Limpa e a direita brasileira

Coisa patética, de uma parte da sociedade do "pau oco"

Por Miguel Dias Pinheiro, advogado,

Em verdade, a direita política brasileira nunca tolerou a Lei da Ficha Limpa. Nascida em 2010 por iniciativa popular sob o comando do ex-juiz e, hoje, jurista Márlon Jacinto Reis, ela já barrou quase 5.000 candidaturas de políticos. Seu auge ocorreu em 2020, quando a referida lei impediu os planos eleitorais de mais de 2.300 políticos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 2014 e 2024.

Foto: ReproduçãoMiguel Dias Pinheiro
Miguel Dias Pinheiro

Para "salvar" Bolsonaro, tornado inelegível por 8 anos, a direita tenta agora desidratar a Lei da Ficha Lima através de uma reforma legislativa para reduzir o prazo de de 8 para 2 anos de inelegibilidade para políticos corruptos e malfeitores.

Inapelavelmente, a Lei da Fica Lima foi um avanço social e democrático. Que agora a direita quer retroceder para criar uma espécie de "institucionalização" da corrupção, de modo especial para "salvar" Bolsonaro e sua quadrilha, sua organização criminosa.

Para justificar a mudança da lei que poderá beneficiar corruptos, os bolsonaristas alegam que ela foi criada para prejudicar a direita: Não é verdade!

Veja o que diz o jurista o procurador do Ministério Público de São Paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu:

 "Ao longo do tempo, políticos de diversas ideologias — direita, centro e esquerda — tiveram seus direitos políticos restritos, cassados ou foram punidos com base na Lei da Ficha Limpa. Esse fato demonstra que a aplicação da legislação não é exclusiva a um único grupo. Se for feita uma análise mais aprofundada, fica evidente que esse argumento é completamente insustentável. Dizer que a lei está voltada para a direita, isso é inconsistente. Essa afirmação tem um caráter ignorante e infantil. Porque os elementos colocados na lei da ficha limpa são de natureza objetiva. Não existe isso de esquerda ou direita, se existe a condenação confirmada por um órgão colegiado, a pessoa sofre as consequências".

Sinceramente, a direita brasileira perdeu o prumo, a noção do ridículo. A psicóloga Laura Ruiz Mitjana assinala que o ridículo é "quando queremos dizer algo que pode ser considerado extravagante, grotesco, chocante… É um sentimento que nos paralisa na hora de agir, justamente por esse medo de ficar mal ou de que os outros percebam nossos ” erros “, riam disso ou nos julguem".

Para psicologia de modo geral, um total falta de senso do ridículo (levado ao extremo) tem sido associada a personalidades psicopatas e antissociais, nas quais há um desrespeito exagerado pelas normas sociais e pela falta de respeito pelos outros. E também com o deboche às regras jurídicas, uma libertinagem explícita.

A direita tão decantada nos ambientes granfinos foi sempre considerada "bem criada", "bem nutrida", "moralista à prova de tudo",... Vejam só! O pensamento dela no Brasil foi - e continua sendo - para que as pessoas exerçam suas liberdades de forma absoluta (que não existe na lei). Inclusive para se tornarem corruptas, agressivas, criminosas, baderneiras,... E, agora, com a insistência para mudar a lei que criou a proteção aos recursos públicos, conhecida no mundo inteiro como Lei da Ficha Limpa. Coisa patética! Partindo de uma parte da sociedade do "pau oco".

A cientista política e pesquisadora Camila Rocha, premiada em tese de doutorado, autora do livro "Menos Marx, mais Mises: O liberalismo e a nova direita no Brasil", indica que o bolsonarismo é um fenômeno que persistirá, mesmo que haja derrota nas eleições. E exclamo: infelizmente!

Fonte: Portal AZ

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