o que sobra depois

o que sobra depois que tudo acaba também merece ser cuidado — porque é desse resto que a gente renasce

Por enrico pierro,

ninguém fala muito sobre o depois. falam do fim, da dor, do rompimento. mas ninguém fala sobre o que sobra. sobre o que fica ali, espalhado pela casa, pela pele, pelos pensamentos. o depois não é o fim, é a continuação silenciosa dele. é o eco da ausência, o som abafado de tudo que não foi dito, a bagunça que a gente precisa recolher sozinho.

Foto: Reprodução/DivulgaçãoEnrico Pierro

depois que acaba, fica o hábito de olhar pro lado na hora de contar uma novidade. fica o impulso de dividir uma coisa boba do dia. fica aquele tipo de saudade que não é mais sobre a pessoa, mas sobre quem a gente era quando estava com ela. o depois é esse espelho estranho que mostra não só o que se perdeu, mas também quem fomos — e quem não somos mais.
e é nesse depois que a gente reaprende. não de forma bonita, linear, cinematográfica. mas aos tropeços. entre uma recaída e outra, entre um “agora vai” e um “ainda não”. o depois é feito de tentativa. de sobrevivência emocional. de se reconstruir sem saber ao certo o que fazer com os cacos.
no fim, o depois não é o vilão da história. ele é só o espaço em branco onde a gente pode escrever alguma coisa nova. às vezes tremendo, às vezes errado, mas ainda assim escrevendo. porque, mesmo que não dê pra apagar o que passou, dá pra continuar. e continuar, mesmo sem saber como, já é um recomeço.


@enricopierroofc

Fonte: Portal AZ

Saiba mais sobre:

Comente

Pequisar