EDITORIAL - Jornalismo contra os covardes de plantão
Quando políticos atacam a imprensa, o alvo é a democracia
Nos regimes livres, a crítica é um antídoto contra a vaidade dos poderosos. Em democracias sérias, o jornalista não é bajulador de gabinete, mas fiscal de interesses públicos. E é justamente por isso que alguns políticos brasileiros, como o deputado federal Jadyel Alencar (Republicanos), parecem reagir com urticária sempre que confrontados por uma imprensa que não se ajoelha. O caso recente envolvendo ataques do deputado ao Portal Dito Isto e a jornalistas que ousaram questionar sua atuação é mais um episódio lamentável dessa cruzada contra a liberdade de expressão e o jornalismo independente.

Jadyel, incomodado com uma crítica legítima sobre sua postura política, preferiu adotar a estratégia da ofensa e da calúnia, atribuindo, sem qualquer prova, crimes graves como tentativa de extorsão, “patrocínio forçado” ao veículo e a seu articulista. Não é a primeira vez. Em episódio anterior, o mesmo deputado acusou falsamente o jornalista Arimatéia Azevedo de receber dinheiro enquanto preso, afirmação desmontada por laudos da penitenciária, pela defesa e por um promotor de Justiça. O resultado? Constrangimento em juízo.
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Quando um político reage à crítica com ataques rasteiros, o que está em jogo não é sua honra, mas sua vaidade. O que está em risco não é sua reputação, mas a liberdade de todos. A imprensa não é um serviço de relações públicas nem um apêndice de gabinete de indivíduos que ganharam poderes públicos antes de se tornarem homens. Não existe para massagear egos nem para repetir slogans. Existe para investigar, apurar, questionar e, quando necessário, denunciar.
Atacar jornalistas não é sinal de coragem, mas de covardia. É a valentia de quem só enfrenta o contraditório pelas redes sociais, de quem nunca aprendeu a diferença entre autoridade e autoritarismo. É o velho truque de projetar nos outros os próprios vícios, acusando de chantagem quem apenas está fazendo jornalismo.
A tentativa de intimidar a imprensa com ofensas ou processos não é um ato isolado. Faz parte de uma escalada mais ampla de desrespeito às instituições democráticas por parte de políticos que ainda não entenderam seu papel no jogo republicano. Se figuras públicas, especialmente parlamentares eleitos, não suportam ser criticadas por suas decisões e alianças, talvez o cargo que ocupam não seja compatível com a sensibilidade de seus egos. Política não é lugar para quem quer aplausos fáceis e bajulação. É lugar de prestação de contas.
Num país onde jornalistas ainda são alvos de perseguições, censuras veladas e processos abusivos, é preciso reafirmar o óbvio: a imprensa não deve satisfação a políticos. Quem deve satisfação à sociedade são os eleitos pelo voto popular e é justamente a imprensa que garante que essa cobrança não se perca no silêncio.
Deputados não estão acima da crítica. Nem portais de notícia estão abaixo da dignidade. É urgente que se denuncie esse tipo de conduta antidemocrática, que se proteja a liberdade de imprensa como bem coletivo, e que se coloque cada político em seu devido lugar: sob o olhar vigilante e incômodo da opinião pública.
Porque quando a imprensa é calada, quem perde não é o jornalista. Quem perde é a democracia.
Fonte: Portal AZ