Escassez de profissionais de TI ameaça desenvolvimento tecnológico no Brasil

Déficit crescente e assédio de multinacionais agravam crise de talentos no setor

Por Dominic Ferreira,


O Brasil enfrenta uma crise significativa na formação e retenção de profissionais de Tecnologia da Informação (TI), com previsões de um déficit de 530 mil especialistas até 2025, segundo um relatório da Google for Startups. Esse cenário é impulsionado pela crescente demanda por serviços tecnológicos em todos os setores da economia, ao mesmo tempo em que o sistema educacional nacional não consegue formar profissionais em número suficiente para suprir essa necessidade.

Foto: Reprodução/DC Studio/FreepikDéficit crescente e assédio de multinacionais agravam crise de talentos no setor de TI.
Déficit crescente e assédio de multinacionais agravam crise de talentos no setor de TI.

A expansão digital das empresas e a adoção de novas tecnologias criaram uma alta demanda por especialistas em áreas como desenvolvimento de software, segurança da informação, e inteligência artificial. No entanto, a oferta de talentos qualificados não acompanha esse ritmo. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), apenas 53 mil profissionais se formam anualmente entre 2021 e 2025, um número muito abaixo do necessário.
Essa escassez se torna ainda mais crítica no Distrito Federal, onde a necessidade de proteger dados governamentais sensíveis é elevada. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que somente no DF serão necessários mais de 100 mil profissionais até 2025, destacando a urgência de formar e reter talentos na região.
Outro fator que agrava a situação é a dificuldade do mercado brasileiro em reter profissionais seniores, que são frequentemente atraídos por ofertas de trabalho mais lucrativas de multinacionais. "Com o aumento da demanda de profissionais da área e a desvalorização do real, os talentos mais qualificados, especialmente aqueles com fluência em inglês, são constantemente assediados por empresas estrangeiras", explica Ciro Jacob, CEO do Meu RH 360. Essa fuga de talentos experientes não apenas esvazia o mercado nacional, mas também prejudica a transferência de conhecimento e a formação de novos especialistas.
A pandemia de COVID-19 acelerou a transformação digital, ampliando ainda mais a demanda por profissionais de TI, especialmente em áreas como automação, segurança cibernética, e desenvolvimento de software. Contudo, a resposta do mercado tem sido insuficiente, com a "juniorização" dos profissionais disponíveis, como observa Jacob. "Muitos se autodenominam seniores, mas na realidade estão no nível de júnior ou pleno", alerta, destacando o risco de um déficit crescente de profissionais experientes no mercado nacional.
Para mitigar essa crise, especialistas sugerem a necessidade de tornar o mercado nacional mais atrativo. Propostas incluem a regulamentação mais rigorosa das práticas de trabalho, promoção de contratos CLT, e criação de planos de carreira claros e pacotes de benefícios competitivos. "Essas medidas podem ajudar a reter talentos e evitar a fuga para o mercado internacional", argumenta Jacob.
Áreas estratégicas como segurança da informação e inteligência artificial são particularmente vulneráveis a essa escassez de profissionais. Segundo Washington Fábio de Souza Ribeiro, coordenador dos cursos de TI do Centro Universitário Uniceplac, a falta de especialistas nessas áreas pode comprometer a capacidade do Brasil de proteger dados críticos e implementar tecnologias inovadoras. "Setores como segurança da informação estão em risco devido à sua importância estratégica", enfatiza.
Além disso, uma pesquisa recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que 37% dos empregos no Brasil poderão ser afetados pela inteligência artificial, impactando cerca de 37 milhões de brasileiros. A qualificação contínua é vista como essencial para que os profissionais de TI se mantenham competitivos e relevem as necessidades do mercado. "A constante atualização através de cursos, certificações e eventos é indispensável", conclui Ribeiro, ressaltando a importância do networking e da participação ativa em comunidades tecnológicas.

Fonte: Correio Braziliense

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