Frigoríficos param de fornecer carne ao Carrefour em retaliação a boicote

A decisão do CEO global da rede contra carnes do Mercosul gerou conflito com fornecedores brasileiros

Por Carlos Sousa,

A decisão do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de boicotar carnes dos países do Mercosul gerou uma forte resposta no Brasil. Frigoríficos como JBS e Masterboi suspenderam o fornecimento de carne à rede de supermercados, causando tensão no setor de abastecimento.

Foto: ReproduçãoComerciantes brasileiro interrompem fornecimento de carne à rede Carrefour
Comerciantes brasileiros interrompem fornecimento de carne à rede Carrefour

Retaliação dos frigoríficos

A JBS, maior fornecedora do Carrefour no Brasil, anunciou na quinta-feira (21) a interrupção imediata do envio de carnes, incluindo os produtos da marca Friboi, que representam 80% das vendas de carne da rede varejista. No dia seguinte, a Masterboi também suspendeu a entrega de 250 toneladas de carne.

Apesar da reação dos fornecedores, o Carrefour Brasil negou desabastecimento nas lojas. "A comercialização ocorre normalmente. Nenhuma loja está desabastecida", afirmou a empresa em nota. O grupo lamentou a decisão dos frigoríficos e destacou esforços para retomar o abastecimento rapidamente.

Especialistas alertam, no entanto, que a falta de carne poderá ser sentida nos próximos dias. Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, explica que carnes in natura têm alto giro de estoque e reposição diária. "A ruptura será evidente em breve, mesmo com a busca por fornecedores alternativos", disse.

Contexto do boicote

A decisão de Bompard foi anunciada como uma forma de solidariedade ao agronegócio francês, que critica o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Agricultores franceses argumentam que os países sul-americanos têm vantagens competitivas desleais por não seguirem as mesmas regras ambientais e de produção.

Embora o Carrefour Brasil tenha tentado se distanciar da declaração, a rede francesa controla mais de 60% das operações no país. A posição do CEO gerou reações de entidades brasileiras e autoridades, como o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, que sugeriram boicote à rede.

Manifesto das entidades brasileiras

No sábado (23), 44 entidades da cadeia produtiva divulgaram uma carta aberta repudiando a decisão do CEO do Carrefour. O documento considera o boicote uma atitude protecionista que fere os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional.

"A exclusão das carnes do Mercosul demonstra incoerência, sobretudo considerando que o Brasil é referência mundial em produtividade sustentável", afirmaram. Segundo os representantes, a pecuária brasileira aumentou sua eficiência em 172% nos últimos 30 anos, enquanto reduziu em 16% a área de pastagem.

Eles também apontaram que a decisão poderá gerar inflação e maior impacto ambiental, devido ao transporte de carnes locais menos eficientes. "Se a carne brasileira não serve para o Carrefour na França, é difícil entender como ela pode ser adequada para outros mercados", concluem.

Fonte: CNN Brasil

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