Fila real do INSS ultrapassa 10 milhões de pedidos acumulados

Governo omite dados; número real de benefícios pendentes é quatro vezes maior que o divulgado

Por Viviane Setragni,

Apesar dos dados oficiais divulgarem uma fila de espera de cerca de 2,5 milhões de pedidos no INSS, a realidade é muito mais alarmante. Reportagem do G1 revelou que, ao considerar todos os tipos de benefícios represados — como o seguro-defeso, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), auxílios e revisões —, a fila real ultrapassa 10 milhões de solicitações em 2025 - o número verdadeiro é quatro vezes maior do que aquele apresentado pelo governo federal.

Foto: José Cruz/Agência BrasilPrevidência Social
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Segundo especialistas, o ocultamento de dados cria uma falsa percepção de controle sobre a crise no INSS e dificulta a criação de políticas públicas efetivas. A prática de não contabilizar certos benefícios na fila oficial vem sendo adotada por sucessivas gestões, mas o volume atual revela uma situação crítica e insustentável, que afeta diretamente a vida de milhões de brasileiros que dependem da Previdência Social para sobreviver.

Entre os casos ocultados estão mais de 4,3 milhões de pedidos de benefícios assistenciais, como o BPC para idosos e pessoas com deficiência, além de 1,3 milhão de solicitações de seguro-defeso para pescadores artesanais, cuja análise está totalmente paralisada desde 2023. Ainda há 1,4 milhão de solicitações em fase de recurso e outros 617 mil casos aguardando cumprimento de exigência, como apresentação de documentos. Todos esses processos não entram na contagem oficial, apesar de representarem espera real para os cidadãos.

O governo justifica a exclusão com base em critérios técnicos, alegando que apenas pedidos "habilitados e prontos para análise" entram na fila. No entanto, essa metodologia é criticada por especialistas em direito previdenciário, parlamentares e entidades da sociedade civil, que veem a prática como uma forma de maquiar o problema e adiar soluções concretas.

A fila invisível do INSS não é apenas uma estatística: ela representa brasileiros sem acesso a benefícios básicos, enfrentando insegurança alimentar, sem recursos para comprar medicamentos ou pagar contas. Para muitos, é uma espera angustiante que se arrasta por meses — e até anos — sem qualquer previsão de resposta. Em estados do Norte e do Nordeste, a situação é ainda mais grave, com milhares de segurados rurais e pescadores artesanais desassistidos.

Enquanto isso, medidas paliativas adotadas pelo governo, como a contratação de militares da reserva ou de peritos temporários, se mostraram insuficientes para resolver o gargalo. As promessas de digitalização do serviço também esbarram em dificuldades técnicas, exclusão digital e falta de acesso à internet por parte da população mais vulnerável — justamente a mais afetada pela lentidão do sistema.

Fonte: G1

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