Cortes orçamentários na Aneel revelam crise no setor energético brasileiro

Aneel demite 145 funcionários e reduz horário de atendimento; riscos de apagões aumentam

Por Dominic Ferreira,

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enfrenta uma grave crise financeira que se agrava com os sucessivos cortes orçamentários. Na última semana, a agência anunciou a demissão de 145 funcionários terceirizados, o que representa 15% de sua força de trabalho. A medida, que entrará em vigor a partir de 1º de julho, ressalta a fragilidade das agências reguladoras no Brasil e compromete a fiscalização e a resposta a possíveis apagões.

Foto: Paulo Pinto/ Agência BrasilApagão na Grande São Paulo em outubro do ano passado afetou 1,6 milhão de pessoas
Apagão na Grande São Paulo em outubro do ano passado afetou 1,6 milhão de pessoas

Atualmente, a Aneel conta com 552 servidores efetivos e 487 terceirizados. A redução de pessoal é resultado de um orçamento aprovado de R$ 155,64 milhões para 2025, que sofreu um corte de R$ 38,62 milhões devido a um decreto presidencial em maio, reduzindo o total para R$ 117,01 milhões. Segundo o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, essa situação forçará a agência a ajustar contratos de terceirização, o que afetará suas atividades fundamentais.

A partir de julho, a Aneel também reduzirá seu horário de funcionamento para 8h às 14h e interromperá o atendimento humano da Ouvidoria, além de diminuir drasticamente as atividades de fiscalização e suspender vários serviços.

O especialista em direito de energia, Urias Martiniano, alerta que a redução drástica no orçamento impacta diretamente as operações da agência, que já enfrenta uma sobrecarga de pedidos administrativos. A falta de recursos compromete não apenas a atuação da Aneel, mas também a qualidade do serviço prestado aos consumidores. Ele enfatiza que a ausência de fiscalização eficiente pode resultar em apagões mais frequentes, como os ocorridos em São Paulo em 2023 e 2024.

O engenheiro elétrico Roberto D'Araújo fez uma comparação com o Federal Energy Regulatory Commission (FERC) dos Estados Unidos, que conta com cerca de 1.400 funcionários. Ele observa que a estrutura atual da Aneel é insuficiente para fiscalizar um país de dimensões continentais, o que pode levar ao sucateamento das instituições reguladoras brasileiras.

A falta de coordenação entre autoridades também tem sido um fator crítico para os problemas no fornecimento de energia. As responsabilidades pela manutenção da vegetação e as podas de árvores, frequentemente apontadas como causas de interrupções, têm gerado um "jogo de empurra" entre as distribuidoras de energia e o poder público.

A expectativa é de que a situação se agrave no próximo verão, com a possibilidade de novos apagões. A solução, segundo D'Araújo, passa pela criação de agências reguladoras estaduais especializadas que possam acompanhar de perto as condições de cada região. A Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) também alerta que os cortes orçamentários resultarão em um enorme prejuízo para a população, especialmente em um momento em que os consumidores já enfrentam aumentos nas contas de luz.

Fonte: Correio Braziliense

Comente

Pequisar