UFPI designa estagiária como intérprete para aluna surda que fez vaquinha
Após a mobilização de colegas, a universidade justificou a demora com cortes feitos ainda no governo Bolsonaro
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou, nesta quinta-feira (27), a seleção de uma estagiária do curso de Letras-Libras para acompanhar a estudante Ana Beatriz Aragão, de 20 anos, que cursa Arquitetura e Urbanismo. A jovem, que é surda, enfrentou dificuldades para assistir às aulas, o que levou familiares e colegas a organizarem uma vaquinha para custear um intérprete particular.

O pró-reitor de Assuntos Estudantis e Comunitários, Emídio Matos, informou que uma estudante aceitou o estágio na quarta-feira (26) e que o processo de contratação está em andamento. No entanto, a família de Ana Beatriz critica a demora para a nomeação de um profissional.
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Família critica demora na contratação
A mãe da estudante, Maria Aparecida Aragão, lamentou o tempo prolongado para a solução do problema.
"Andamento de tartaruga. Está exaustivo o tempo de espera, já são três semanas nisso. A contratação deveria ser providenciada antes de começar as aulas."
Segundo Emídio Matos, a UFPI tomou conhecimento da situação no dia 28 de fevereiro, antes do início do período letivo. No entanto, como instituição pública, a universidade precisa seguir procedimentos burocráticos e prazos legais para efetivar contratações.
Ele ressaltou que a UFPI está impedida de realizar concurso público para intérpretes de Libras, devido a uma decisão do governo anterior, e que a demanda por profissionais dessa área tem crescido. Atualmente, 14 estudantes surdos precisam do serviço na instituição.
"Fizemos uma reunião com a Coordenação do Curso de Arquitetura, a Coordenação de Letras Libras, a estudante e seus familiares para explicar as medidas que estamos adotando", afirmou o pró-reitor.
A universidade providenciou alunos bolsistas para auxiliar Ana Beatriz, mas explicou que esses estudantes não podem atuar sozinhos e necessitam de um profissional qualificado para garantir a acessibilidade.
Medidas adotadas pela UFPI
Diante da necessidade urgente, a Fundação de Amparo à Pesquisa lançou um edital na quarta-feira (26) para contratar mais dois intérpretes de Libras. Além disso, uma professora do curso de Letras Libras propôs utilizar tecnologia de tradução em tempo real para auxiliar na compreensão das aulas.
No entanto, essas medidas ainda não garantiram o acompanhamento integral de Ana Beatriz, que teme ter que abandonar o curso.
Estudante relata dificuldades
Nas redes sociais, Ana Beatriz desabafou sobre a situação.
"Os recursos acabaram. Meu sonho de fazer um curso superior vai ficando para trás. Vou começar a faltar as aulas por falta do intérprete de Libras. Me esforcei muito para ser aprovada no Enem, cheguei aqui e estou sendo excluída."
A jovem ressaltou que foi a primeira estudante surda a ingressar no curso de Arquitetura da UFPI e que sua conquista inspirou outros surdos.
"Tenho vontade de estudar aqui e tenho sonhos", afirmou Ana Beatriz.
A família e os colegas seguem cobrando uma solução definitiva, para que a estudante tenha assegurado seu direito à educação inclusiva e acessível desde o primeiro dia de aula.
Fonte: Portal AZ