Ministério da Cultura formaliza o tombamento de igreja em Teresina

Arte Santeira em Madeira do Piauí será inscrita no Livro das Formas de Expressão

Por Redação do Portal AZ,

A edição desta segunda-feira, 13, do Diário Oficial da União traz a portaria 179 do Ministério da Cultura (Minc) que homologa o tombamento da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, seu acervo de bens móveis. 

Foto: Reproduçãook

O templo católico que agora é patrimônio histórico, artístico e cultural do país. está situada na Praça Padre Francisco das Chagas Carvalho, bairro Vermelha, zona sul de Teresina.

Foto: Reproduçãook

Esta é a primeira vez que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) promove ação de reconhecimento que abrange, ao mesmo tempo, o registro de um bem imaterial e o tombamento de uma edificação e seu acervo. 
Com a decisão do Iphan ratificada por portaria do Minc, a Arte Santeira em Madeira do Piauí será inscrita no Livro das Formas de Expressão e a Igreja Nossa Senhora de Lourdes será inscrita no Livro do Tombo das Belas Artes, Livro do Tombo Histórico e Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. 
A igreja recebeu tombamento provisório em 2011, e a proteção, agora definitiva, compreende seu acervo de bens móveis e integrados, assim como a poligonal de entorno. 
De acordo com o conselheiro José Reginaldo Gonçalves, relator do processo, a Igreja da Vermelha, como é conhecida localmente, possui forte ressonância na comunidade dos artistas santeiros do Piauí. “É parte de seus mitos de origem [da Arte Santeira]. Constitui-se num lugar de memória, altamente significativo para a memória coletiva e para a autopercepção dos artistas enquanto uma cultura”, destaca o relator em seu parecer técnico.
O documento acrescenta, ainda, que o acervo de obras que se abriga na igreja possui valor não apenas estético, mas principalmente social e religioso. “A igreja foi construída segundo pressupostos da Teologia da Libertação, para a qual a ênfase deveria estar em igrejas simples, despojadas e ao alcance do povo mais pobre. A arte em madeira é simbólica e socialmente parte inseparável desse discurso”, explica o parecer.
Construída entre as décadas de 1960 e 1970, a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes tem imenso valor histórico, etnográfico e artístico. Seu processo de tombamento definitivo tramitou em conjunto com o processo de registro da Arte Santeira em Madeira do Piauí. 
A construção de um novo espaço litúrgico no bairro da Vermelha, na capital piauiense, foi idealizada após o Concílio Vaticano II. A edificação pretendia uma aproximação entre a Igreja Católica e a população, em especial, as camadas trabalhadoras. Para isso, o espaço da igreja foi concebido com diversos elementos que buscavam reforçar essa aproximação, incorporando ao ambiente litúrgico a expressão cultural popular e o imaginário local.
A ideia era construir um templo rústico e sem muitos adornos, uma “oficina de almas”. Assim, a construção da sede da paróquia proposta à comunidade, e realizada em mutirão com os moradores do bairro, tinha como objetivo a constituição de um espaço amplo e simples. 
Em todos os aspectos buscou-se aproximação com a realidade dos fiéis que se juntaram à construção, privilegiando os materiais e soluções construtivas de uso da população. 
Desse modo, a convite do pároco local, Francisco Carvalho, os mestres Dezinho e Expedito, ambos fazedores de ex-votos, esculpiram em madeira peças de devoção e decoração, a partir de referências do artista plástico Afrânio Castelo Branco, também autor das pinturas de cavalete presentes na igreja. A construção do templo é, portanto, um evento marcante para a produção santeira a partir dos anos 70, uma vez que os santeiros criaram peças especialmente para o acervo da igreja.
Processo de reconhecimento
A solicitação de registro da Arte Santeira em Madeira do Piauí como Patrimônio Cultural do Brasil foi realizada em 2008 pelo Conselho de Jovens Artesãos e Memorial Mestre Dezinho. O pedido foi endossado por um abaixo-assinado com 21 assinaturas do Conselho de Jovens Artesãos. 
O pedido passou então por uma primeira fase que consistiu em análise documental, que considerou pertinente o pedido. Em 2011, o processo foi corroborado pelo resultado do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), realizado pelo próprio Iphan, com um resumo do universo de santeiros em mestres, localidades e saberes inventariados. TV

Fonte: Portal AZ

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