STF torna Bolsonaro e mais sete réus por tentativa de golpe
Com quatro votos favoráveis a denúncia da PGR se aproxima de ação penal contra os acusados
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, nesta quarta-feira (26), para tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado em 2022. A decisão ocorre após quatro dos cinco ministros do colegiado votarem pelo recebimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Os votos favoráveis foram dados pelos ministros Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Resta apenas o posicionamento do ministro Cristiano Zanin. Se a maioria for confirmada, os denunciados passarão a responder a um processo penal, podendo ser condenados a penas de prisão.
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Quem são os denunciados?
A PGR acusa oito pessoas de integrarem um "núcleo crucial" da tentativa de ruptura democrática, sendo eles:
- Jair Bolsonaro (ex-presidente da República)
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin)
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha)
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
- Augusto Heleno (ex-ministro do GSI)
- Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência)
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
- Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro)
A PGR argumenta que o grupo teria atuado de forma coordenada para desacreditar o sistema eleitoral e viabilizar um golpe de Estado, utilizando as Forças Armadas para tentar manter Bolsonaro no poder mesmo após sua derrota nas eleições.
Os votos dos ministros
Alexandre de Moraes (relator)
O ministro Alexandre de Moraes abriu a votação com um extenso voto de 1h50min, defendendo o recebimento da denúncia. Ele destacou que:
- Havia organização criminosa com divisão de tarefas e hierarquia;
- Bolsonaro teria liderado o esquema, disseminando mentiras sobre o sistema eleitoral para justificar o golpe;
- O grupo agiu até janeiro de 2023, buscando enfraquecer o Estado Democrático de Direito;
- Vídeos da invasão aos Três Poderes em 8 de janeiro foram exibidos para ilustrar a gravidade da tentativa;
- Bolsonaro teria incentivado militares a divulgarem notas técnicas para manter seus apoiadores mobilizados.
"Não houve um domingo no parque", afirmou Moraes ao citar os atos de vandalismo ocorridos em Brasília.
Flávio Dino
O ministro Flávio Dino seguiu o relator e enfatizou que as defesas não negaram a tentativa de golpe, mas buscaram isentar seus clientes de culpa. Ele apontou que:
- Há materialidade dos crimes e as provas apresentadas pela PGR são robustas;
- O ataque ao Estado Democrático foi violento e poderia ter causado danos ainda maiores;
- A tentativa de golpe deve ser analisada em detalhes, pois seu êxito poderia ter resultado no fechamento do STF.
"Se fosse consumado, não teria juízes para julgar", alertou Dino.
Luiz Fux
O ministro Luiz Fux consolidou a maioria favorável ao recebimento da denúncia, mas divergiu quanto ao local de julgamento, defendendo que a decisão deveria ser do plenário do STF e não da Primeira Turma.
Entre os pontos principais do seu voto, Fux ressaltou que:
- A democracia brasileira precisa ser protegida contra ameaças golpistas;
- O julgamento deve considerar o contexto dos atos e das pessoas envolvidas;
- Há possibilidade de sobreposição entre os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, o que será analisado durante a instrução processual;
- Atos preparatórios e tentativa fazem parte do caminho do crime e devem ser levados em conta na decisão final.
"Todo crime tem atos preparatórios. Todo crime tem tentativa. Está na lei", argumentou.
O que acontece se a denúncia for aceita?
Caso o ministro Cristiano Zanin também vote pelo recebimento da denúncia, os oito investigados passarão à condição de réus. Isso significa que uma ação penal será aberta, permitindo que PGR e defesas apresentem provas e depoimentos.
Ao final do processo, os ministros do STF decidirão se houve crime e, em caso de condenação, quais serão as penas aplicadas.
Acusações e crimes apontados pela PGR
A Procuradoria-Geral da República acusa Bolsonaro e seus aliados de formar uma organização criminosa para promover um golpe de Estado. Os crimes imputados são:
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Golpe de Estado
- Organização criminosa
- Dano qualificado ao patrimônio da União
- Deterioração de patrimônio tombado
O que dizem as defesas?
Os advogados dos acusados argumentaram que a denúncia da PGR é inepta e pediram sua rejeição. Durante a sessão desta terça-feira (25), as defesas alegaram que:
- Não houve golpe, mas sim manifestações políticas;
- Seus clientes não participaram de articulações golpistas;
- A acusação se baseia em documentos volumosos, aos quais não tiveram acesso integral.
Próximos passos
A votação será concluída com o voto do ministro Cristiano Zanin. Caso a denúncia seja aceita, Bolsonaro e seus aliados enfrentarão uma ação penal que pode resultar em penas de prisão.
Fonte: Com informações G1