Piauí registra 1.903 crimes ambientais em dois anos e lidera desmatamento

Relatório destaca alta incidência de crimes contra a fauna, conflitos com indígenas e quilombolas e alerta para desinformação sobre violência socioambiental

Por Carlos Sousa,

O estado do Piauí registrou 1.903 crimes ambientais entre 2023 e 2024, com quase 70% das ocorrências relacionadas à fauna, segundo aponta o boletim Além da Floresta: conflitos socioambientais e deserto de informações, divulgado nesta segunda-feira (17) pela Rede de Observatórios da Segurança.

Foto: DivulgaçãoCrime ambiental em São Raimundo Nonato

O levantamento, que reuniu dados oficiais obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e registros da imprensa, aponta ainda 627 crimes contra a flora, 204 por poluição, 17 relacionados à exploração mineral e 36 outras infrações ambientais. Apesar de uma leve queda de 0,52% nos registros de um ano para o outro, o relatório destaca que o volume geral de crimes segue elevado e revela desafios persistentes na proteção ambiental no estado.

Conflitos socioambientais e violência contra povos tradicionais

O estudo também mapeou 75 conflitos socioambientais no Piauí no período, o que representa 15,20% do total de casos monitorados nos nove estados analisados (Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo).

Entre os principais destaques, o Piauí liderou o número de ocorrências de desmatamento, com 41 casos, representando 42,27% dos registros desse tipo nos estados abrangidos pela pesquisa.

Outro ponto de preocupação são os crimes envolvendo ameaças e violências contra lideranças indígenas e quilombolas. Em especial, o relatório aponta que Teresina concentrou mais de 50% dos crimes contra indígenas no estado, sendo que a maioria das ocorrências envolveu ameaças diretas, que correspondem a 14,49% dos crimes ambientais cometidos contra essa população.

Falta de dados e “deserto de informações”

O relatório também faz críticas à falta de padronização na coleta e divulgação de dados ambientais pelos estados, o que, segundo a Rede, dificulta o desenvolvimento de políticas públicas eficazes.

Outro destaque é a baixa cobertura midiática sobre os conflitos socioambientais. De acordo com o estudo, apenas 1,20% das ocorrências registradas pelas secretarias estaduais foram noticiadas pela imprensa. No Piauí, o cenário segue o mesmo padrão: os casos mais graves tendem a ser invisibilizados, especialmente em áreas rurais e comunidades tradicionais.

A Rede também apontou a ausência de dados específicos sobre os impactos diretos em quilombolas, ribeirinhos e outros povos tradicionais, recomendando que os órgãos oficiais passem a incluir essa informação nos registros para permitir diagnósticos mais precisos e uma proteção mais eficiente a essas populações.

Fonte: Rede de Observatórios da Segurança

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