Mão Santa chama enfermeiros em greve de “moleques e vagabundos”; Coren divulga nota

Senatepi também rebateu declaração do prefeito de Parnaíba; assista ao vídeo

Por Marcelo Gomes,

O prefeito de Parnaíba, Mão Santa (Democratas) chamou os enfermeiros que aderiram ao movimento grevista no município de “moleques e vagabundos”. Em nota nas redes sociais, o Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren) rebateu as declarações do gestor municipal. (Veja a nota do prefeito ao final da reportagem). 

Mão Santa chama enfermeiros em greve de “moleques e vagabundos” (Foto: reprodução)

As críticas de Mão Santa aos profissionais de saúde ocorreram durante coletiva de imprensa na sexta-feira (26). Os enfermeiros defendem o retorno da gratificação em decorrência da Covid-19. Eles deflagraram greve em 10 de novembro e encerraram ontem depois que o Sindicato dos Servidores do Município (Sindserm) foi notificado da ilegalidade da greve pelo TJ-PI.

“Não tem greve nenhuma, tem uns moleques aí, uns vagabundos porque está tudo funcionando. Quem não for trabalhar, eu vou cortar o ponto. Onde está a greve? O governo é forte, muito forte. Eles viviam aqui perto esculhambando. Vocês viram algum grito agora? O governo é forte e o povo acredita e está apoiando”, criticou o prefeito de Parnaíba. 

Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren-PI) repudiou a declaração de Mão Santa e afirmou que a Constituição Federal assegura o direito de greve a todo trabalhador. 

“O código de Ética da Enfermagem, em seu artigo 44, Capítulo II, estabelece que será respeitado o direito de greve e, nos casos de movimentos reivindicatórios da categoria, deverão ser prestados os cuidados mínimos que garantam uma assistência segura, conforme a complexidade do paciente”, diz trecho.

O Coren-PI pontuou ainda que os profissionais de saúde são responsáveis diretos pela imunização e reestabelecimento da saúde da população e que eles “não merecem esse tipo de insulto, que fica ainda mais grave quando parte de um gestor público”.

Diante do ocorrido, o Conselho destacou também que tomará as previdências cabíveis sobre o caso.

Veja abaixo a nota na íntegra:

O Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren-PI) repudia a declaração desrespeitosa do prefeito do município de Parnaíba, Mão Santa, em que se refere aos profissionais da Saúde, em sua maioria de Enfermagem, que encabeçam um movimento grevista na cidade. O prefeito utiliza os termos: “moleques, vagabundos e baderneiros”.

A Constituição Federal, em seu artigo 9º, e a Lei nº 7.783/89 asseguram o direito de greve a todo trabalhador. O código de Ética da Enfermagem, em seu artigo 44, Capítulo II, estabelece que “será respeitado o direito de greve e, nos casos de movimentos reivindicatórios da categoria, deverão ser prestados os cuidados mínimos que garantam uma assistência segura, conforme a complexidade do paciente”.

Neste contexto de pandemia, a importância de cada profissional de Enfermagem ficou ainda mais evidente. Responsáveis diretos pela imunização e reestabelecimento da saúde da população, não merecem esse tipo de insulto, que fica ainda mais grave quando parte de um gestor público. O Coren-PI reconhece a validade das reivindicações dos profissionais de Enfermagem de Parnaíba e defende a luta pela valorização, reconhecimento e condições adequadas para o exercício profissional.

Diante do ocorrido, informamos que tomaremos as providências cabíveis. Nenhuma manifestação de desvalorização e desrespeito à categoria será aceita!

O que diz a prefeitura?

Ao Portal AZ, a Superintendência Municipal de Comunicação de Parnaíba informou que o prefeito Mão Santa se referiu exclusivamente a servidores que “não cumprem seus expedientes como deveriam”. 

“Não se trata também de nenhuma referência direta aos servidores da saúde cuja a recente greve foi considerada ilegal por decisão obtida no Tribunal de Justiça do Piauí. Neste caso, o prefeito somente deixou claro que aqueles que não retornarem aos seus postos de trabalho conforme decisão judicial terão seus pontos devidamente cortados”, destacou.

Veja abaixo a nota na íntegra: 

Sobre a entrevista coletiva concedida na manhã desta sexta-feira (26), a Superintendência Municipal de Comunicação de Parnaíba vem a esclarecer que o prefeito Mão Santa se referiu exclusivamente a servidores que não cumprem seus expedientes como deveriam, como fica claro dentro do que foi mencionado. Mão Santa afirmou a necessidade de que os servidores de todas as áreas trabalhem em prol da população.

Não se trata também de nenhuma referência direta aos servidores da saúde cuja a recente greve foi considerada ilegal por decisão obtida no Tribunal de Justiça do Piauí. Neste caso, o prefeito somente deixou claro que aqueles que não retornarem aos seus postos de trabalho conforme decisão judicial terão seus pontos devidamente cortados.

Ainda sobre saúde pública, o prefeito Mão Santa reafirma o caráter fundamental da mesma na vida de todos os cidadãos e seu compromisso com a prestação de um serviço de qualidade pelo município. Por isso é necessário que os profissionais estejam nas unidades para que nenhuma pessoa deixe de ser atendida. O prefeito também ressaltou que o quadro da administração municipal é composto, em sua extensa maioria, por profissionais que contribuem com excelência, amor e dedicação ao município.

Supcom

Senatepi também se posiciona

Ao Portal AZ, o Sindicato dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Estado do Piauí (Senatepi) também divulgou nota de repúdio contra as declarações de Mão Santa. 

“É inaceitável que um gestor público, representante eleito pelo povo use termos de baixo calão para se referir aos profissionais que prestam importantes serviços a toda comunidade, especialmente em meio a uma pandemia”, relatou.

Veja abaixo a nota na íntegra: 

Diante das declarações ofensivas feitas pelo prefeito de Parnaíba, Francisco de Assis Moraes Sousa, que durante entrevista coletiva se referiu aos profissionais de enfermagem e odontologia como “moleques”, “vagabundos” e “baderneiros” o Sindicato dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Estado do Piauí- SENATEPI vem a público repudiar tais falas.

É inaceitável que um gestor público, representante eleito pelo povo use termos de baixo calão para se referir aos profissionais que prestam importantes serviços a toda comunidade, especialmente em meio a uma pandemia.

Para o SENATEPI, esse tipo de linguagem não coaduna com a postura de uma autoridade e ofende toda a classe. Além
disso, menospreza o direito dos profissionais de reivindicarem melhores condições de trabalho e salários dignos, cerceando a livre manifestação de pensamento.

Por fim, o SENATEPI lamenta que tais palavras tenham sido proferidas por um profissional da área de saúde e diante dos fatos, a direção do sindicato informa que adotará as providências cabíveis quanto ao referido incidente, e que a assessoria jurídica da entidade já busca meios para uma retratação.

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