Presidente Lula defende flexibilização das metas de inflação em entrevista
"O Brasil não precisa ter uma meta de inflação tão rígida, como estão querendo impor agora"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou sua opinião nesta quinta-feira (29) de que o Brasil não precisa adotar um sistema de metas de inflação "tão rígido". A questão do alongamento das metas será discutida durante a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que deve acontecer ainda hoje.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, Lula argumentou: "O Brasil não precisa ter uma meta de inflação tão rígida, como estão querendo impor agora, sem alcançar. A gente tem que ter uma meta que a gente alcança; alcançou aquela meta, a gente pode reduzir e fazer mais um degrau, descer mais um degrau. É para isso que a política monetária tem que ser móvel, ela não tem que ser fixa e eterna, ela tem que ter sensibilidade em função da realidade da economia, das aspirações da sociedade".
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No dia anterior, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia defendido o modelo de meta contínua. Atualmente, o Banco Central (BC) persegue uma meta de inflação estabelecida anualmente, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Já o sistema de meta contínua, adotado por diversos países desenvolvidos, permite um horizonte mais amplo, com prazos superiores a um ano, como 18 ou 24 meses.
A meta de inflação estabelecida para este ano no Brasil é de 3,25%, e para 2024 e 2025, de 3%, todas com a mesma margem de tolerância. O CMN, composto por Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, se reúne mensalmente para tomar decisões. Normalmente, as deliberações são tomadas por consenso, mas, em caso de divergências, a maioria dos votos prevalece.
Lula afirmou esperar que Haddad e Tebet tomem uma decisão madura em relação ao tema. Além disso, o presidente criticou mais uma vez a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. A taxa está no seu patamar mais alto desde janeiro de 2017 e é determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) como principal instrumento para atingir a meta de inflação estabelecida pelo CMN.
Lula questionou a necessidade da taxa de juros permanecer tão elevada diante da baixa inflação no país. Ele argumentou: "Nós não temos inflação de demanda. Não tem um setor da economia, a não ser o setor financeiro [a favor], todo mundo [é] contra esse absurdo dessa taxa de juro, que ninguém pode captar dinheiro para investir, a 14%, 15%, 16% de juros as pessoas vão quebrar. Então, é preciso reduzir a taxa de juros para que ela fique compatível, inclusive com a inflação. A inflação em 12 meses está menos que 5%, por
que a taxa de juro tem que estar nesse nível? Qual é a explicação? Não existe explicação".
Lula também cobrou uma maior atuação do Senado em relação ao presidente do BC, Campos Neto, cuja nomeação foi aprovada quando a autonomia do Banco Central foi estabelecida. O presidente enfatizou que o BC tem a responsabilidade não apenas de lidar com a inflação, mas também de cuidar do crescimento econômico e do emprego, o que, segundo ele, não estaria sendo feito adequadamente.
Durante a entrevista, Lula mencionou o novo programa de infraestrutura do governo, que destinará R$ 5,7 bilhões para o Rio Grande do Sul em estradas e pontes, além de R$ 2 bilhões provenientes de parcerias público-privadas. Ele ressaltou que o governo solicitou aos governadores uma lista de obras prioritárias e que o plano de investimentos será anunciado nos próximos dez dias, com um total de aproximadamente R$ 23 bilhões destinados ao setor de transportes em todo o país.
Fonte: Agência Brasil