Pesquisador aponta que aumento de prisões fortaleceu o crime organizado
Modernização da segurança pública nas últimas décadas resultou em crescimento exponencial de prisões, fortalecendo facções criminosas, afirma Bruno Paes Manso
A modernização da segurança pública nas últimas duas décadas, com um aumento significativo no número de prisões, teve como efeito colateral o fortalecimento das facções criminosas dentro dos presídios. Essa é a análise do jornalista e escritor Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudo da Violência da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, durante o lançamento de seu mais recente livro "A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil do século XXI", Manso critica a abordagem adotada pelo Estado, afirmando que o remédio se tornou um veneno.

O livro aborda a atuação do Estado nas periferias e comunidades pobres, destacando a omissão em prover condições adequadas de moradia, infraestrutura, educação, saúde, cultura e lazer. Diante dessa ausência estatal, as igrejas evangélicas ganham espaço, oferecendo suporte social, conforto espiritual e recursos de sobrevivência em áreas tomadas por milícias e facções criminosas.
Na entrevista, Manso destaca a alta mortalidade em operações policiais, apontando-a como um sintoma da perda de controle dos governos estaduais sobre suas polícias. Ele também compara as formas de domínio exercidas por milícias e facções criminosas nas comunidades, discutindo os problemas enfrentados pelos moradores.
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Ao longo de 20 anos de estudo sobre a violência no Brasil, o pesquisador aponta a superlotação do sistema prisional como um dos principais problemas, contribuindo para o fortalecimento das facções dentro das prisões. Ele destaca casos isolados de iniciativas eficazes na redução da criminalidade, como o Pacto pela Vida em Pernambuco, mas ressalta que a guerra ao crime e a superlotação prisional continuam sendo a base da política de segurança pública no país.
Manso critica a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada para portos e aeroportos em São Paulo e no Rio de Janeiro, considerando-a um equívoco. Ele aponta a necessidade de uma abordagem diferente para lidar com as fronteiras e destaca a importância de iniciativas sociais nos territórios da paz no Pará.
Sobre a relação entre crime e fé nas periferias, Manso destaca o papel das igrejas evangélicas como uma porta de saída importante da cena criminal. Ele discute como o discurso da violência e o discurso evangélico se articulam, oferecendo diferentes propósitos de vida para os envolvidos.
Finalmente, Manso aborda a exportação do modo de funcionamento do crime, mencionando o caso específico do Rio de Janeiro, onde traficantes passaram a controlar territórios usando discursos religiosos. Ele ressalta que o diálogo entre crime e sociedade está presente em todo o Brasil, mas as características específicas do Rio podem não ser exportadas para outros lugares.
Fonte: Agência Brasil