Macron parte para o “tudo ou nada” contra a extrema direita na França
O presidente dissolveu a Assembleia Nacional após derrota nas eleições europeias, convocando novas eleições legislativas
O presidente francês Emmanuel Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional, a câmara baixa do Parlamento francês, após a derrota significativa nas eleições do Parlamento Europeu. A decisão, considerada audaciosa e arriscada, busca relançar seu governo em meio às crescentes vitórias da extrema direita no país.

Macron tomou a decisão após as pesquisas de boca de urna revelarem que a lista de eurodeputados do partido de extrema-direita de Marine Le Pen, o União Nacional, obteve 32% dos votos, contra 15% do partido centrista de Macron, o Renascimento. O partido de esquerda Place Publique ficou em terceiro lugar, com 14%. A extrema direita vem ganhando força na Europa, explorando temas como imigração, criminalidade e crise inflacionária.
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Em um discurso em rede nacional no domingo (9), Macron anunciou a dissolução da Assembleia e convocou novas eleições legislativas, com o primeiro turno marcado para 30 de junho e o segundo para 7 de julho, poucos dias antes do início das Olimpíadas de Paris. Durante o anúncio, o presidente reconheceu sua derrota:
— Eu não poderia, no final deste dia, agir como se nada tivesse acontecido. Acima de tudo, é um ato de confiança. Confio em vocês, meus queridos compatriotas, na capacidade do povo francês de fazer a escolha mais justa para si e para as gerações futuras.
A decisão de dissolver a Assembleia é vista como extremamente arriscada, especialmente considerando que Macron já perdeu a maioria absoluta parlamentar nas eleições legislativas de 2022. Desde então, tem enfrentado dificuldades para governar, como na aprovação da Reforma da Previdência, que teve que ser forçada com o uso do artigo 49.3 da Constituição.
Interlocutores próximos a Macron afirmam que ele já considerava a dissolução há seis meses, como uma tentativa de relançar seu segundo mandato e recuperar a maioria parlamentar. No entanto, com o partido de Le Pen obtendo o dobro dos votos nas eleições europeias, a fragilidade do governo de Macron se torna ainda mais evidente.
Esta é a sexta vez que a Assembleia Nacional é dissolvida na França desde a instauração da Quinta República, em 1958. Nas cinco vezes anteriores, em quatro a maioria presidencial foi confirmada. No entanto, a atual situação política, marcada pela ascensão da extrema direita, apresenta um novo desafio.
Críticos comparam a decisão de Macron com eventos passados, como a dissolução bem-sucedida de Charles de Gaulle em 1968, após as revoltas estudantis, e a dissolução de Jacques Chirac em 1997, que resultou na vitória dos socialistas.
Se as novas eleições garantirem a maioria parlamentar a Marine Le Pen, Macron provavelmente não renunciaria, mas seu governo enfrentaria uma coabitação, onde o presidente e o primeiro-ministro pertencem a campos políticos opostos. Le Pen e Jordan Bardella, candidato do União Nacional, enquadraram as eleições europeias como um referendo sobre o mandato de Macron. Agora, Macron convoca os eleitores para um novo referendo, colocando em jogo o futuro de seu governo.
Fonte: CNN Brasil