Morte de JK será investigada novamente por suspeita de sabotagem e atentado

Comissão analisará novas evidências que podem indicar assassinato durante a ditadura militar

Por Dominic Ferreira,

A morte de Juscelino Kubitschek, ex-presidente e fundador de Brasília, voltará a ser investigada pela Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. A decisão deve ser formalizada em uma reunião nesta sexta-feira (14), em Recife, após novas evidências apontarem que o acidente de carro ocorrido em 1976, na Rodovia Presidente Dutra, pode ter sido uma sabotagem.

Foto: ReproduçãoJuscelino Kubitschek.
Juscelino Kubitschek.

Informações coletadas por comissões estaduais da Verdade de São Paulo e Minas Gerais indicam que o caso pode estar relacionado à Operação Condor, um plano das ditaduras sul-americanas para eliminar opositores políticos. Na época, as investigações realizadas pelo regime militar concluíram que a morte foi uma fatalidade. Contudo, evidências posteriores sugerem que o motorista do carro, Geraldo Ribeiro, pode ter sido vítima de intoxicação ou até mesmo de um disparo de arma de fogo, como apontado por um perito em 1996, que encontrou uma perfuração no crânio do condutor.

Foto: Reprodução | Arquivo | EM | DA PressEm agosto de 1976, o Opala de Juscelino foi destruído em acidente na Via Dutra.
Em agosto de 1976, o Opala de Juscelino foi destruído em acidente na Via Dutra.

Em depoimento ao Ministério Público Federal em 2013, o motorista de um ônibus envolvido no acidente revelou ter recebido uma proposta de propina para assumir a responsabilidade pela colisão. O caso foi ainda mais comprometido devido à destruição do veículo Opala no pátio da delegacia, o que prejudicou análises mais detalhadas.

A advogada e pesquisadora Lea Vidigal Medeiros, autora de um livro sobre o tema, afirma que havia interesse do regime militar em eliminar JK, que era ativo em projetos de abertura democrática na época. Ela aponta que o acidente foi programado, com alterações nos relatórios periciais e manipulações das evidências.

"Ele foi cassado, perseguido, vítima de tentativas de assassinato. Juscelino saiu de São Paulo para o Rio em um momento em que ele estava agindo politicamente pela abertura democrática", diz. "Está também documentado que havia planos para assassinar Juscelino e havia uma preocupação da Operação Condor para eliminar oponentes. Isso tudo está no relatório.", explicou Lea.

Foto: ReproduçãoRubens Paiva.
Rubens Paiva.

Esse cenário reforça a hipótese de que JK foi vítima de um atentado político. A reabertura do caso é vista como uma oportunidade de reparação histórica. Assim como ocorreu no caso do deputado Rubens Paiva, a expectativa é de que a certidão de óbito de Juscelino Kubitschek seja alterada para constar que sua morte foi causada por ação do Estado. Lea Medeiros argumenta que, em situações de perseguição política, o ônus da prova se inverte, cabendo ao Estado comprovar que não foi o responsável pela morte. A nova investigação busca explicar as circunstâncias do caso e reforçar o compromisso com a verdade histórica sobre os crimes cometidos durante o regime militar.

Fonte: Correio Braziliense

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