EDITORIAL - A União Progressista e o casamento por interesse

Com todo direito a buffet pago com o meu, o seu, o nosso imposto

Por Redação do Portal AZ,

A união do PP com o União Brasil soa como aquelas bodas arranjadas da política brasileira: ninguém se ama, mas todo mundo quer herdar o terreno. A tal União Progressista, com nome de startup falida e discurso de livro de autoajuda, aparece agora como “bússola da democracia”. Bússola? Talvez. Mas gira mais que bêbado em roda de samba.

Foto: ReproduçãoCiro e Rueda: a confusão entre o público e o privado.
Ciro e Rueda: a confusão entre o público e o privado.

No papel, é lindo: acabar com a polarização, destravar a economia, modernizar o Estado, salvar a pátria, transformar o Brasil num agro de alta performance. Uma maravilha. Só falta combinar com a realidade — e com os próprios interesses dos noivos.

Porque sejamos francos: essa federação não é fruto de um grande projeto de nação, e sim de um pequeno projeto de poder. 


A motivação não é programática, é orçamentária. São partidos que se unem não porque compartilham uma visão de futuro, mas porque compartilham o mesmo apetite por emendas, ministérios e cargos de terceiro escalão com ar-condicionado.

Querem “romper com a estagnação da Nova República”, como destaca Ciro Nogueira que,  cá pra nós,  publicou um texto nas eedes sociais que seguramente é da sua habilidosa assessoria. No mesmo texto ele esquece de mencionar que são os mesmos nomes, os mesmos caciques, as mesmas figuras que estiveram no centro dessa estagnação desde o começo. 


Estão hoje, no governo, na oposição, no Centrão, no fundo e na superfície — são como mofo: silenciosos, resistentes e difíceis de eliminar.

E mais: dizem querer “parar com falsas polêmicas” enquanto montam a maior base fisiológica já vista fora de uma convenção de candidatos a vice-prefeito. Como acreditar que isso vai gerar um projeto sólido de país, se o que une essas legendas é a necessidade de sobrevivência eleitoral, e não a convicção?


Quem garante se essa facção, opa, essa composição não se esfacela, se desfaz, antes mesmo da eleição de 2026, quando uma banda seguirá firme com Lula e a outra com Bolsonaro?

Há algo de profundamente irônico no Brasil: sempre que um grupo se diz preocupado com o futuro, está de olho no presente — mais precisamente, no cofre do presente. Falam em “choque de prosperidade” com a mesma boca que negocia cargos nos cafezinhos do Congresso. Falam em “responsabilidade com o povo” enquanto ajustam a retórica para a próxima eleição.

A verdade é que não há projeto de governo que sobreviva a esse tipo de união. Porque projeto exige coesão, sacrifício, visão de longo prazo. E o que temos aqui é um condomínio de interesses, com síndicos rotativos e agenda definida por conveniência. É o futuro sendo hipotecado por quem vive de passado.

Então, sejamos duros, realistas: essa federação não representa uma mudança de rota, mas um redirecionamento de GPS — daqueles que te fazem dar voltas para chegar no mesmo lugar de sempre: o pântano da política brasileira, onde tudo muda para que nada mude.

O Brasil não precisa de mais siglas combinadas. Precisa de vergonha na cara, memória histórica e uma faxina ética que vá além do PowerPoint das promessas. Porque no fim, essa “união pelo Brasil” parece mais uma separação consensual da verdade.

Fonte: Portal AZ

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