EDITORIAL: TCE, o novo síndico da falência
No meio do caos, Teresina virou uma espécie de condomínio endividado
No Brasil, a responsabilidade nunca é de quem governa — é sempre de quem avalia, analisa, orienta, observa. Agora, segundo o prefeito Silvio Mendes, o rombo de quase R$ 1 bilhão na Prefeitura de Teresina virou assunto de mesa do Tribunal de Contas do Estado. A bomba explodiu, mas quem vai decidir quem paga a conta é o TCE. E enquanto isso, o povo, os credores, esperam.

Silvio, com seu jeito técnico e controlado, autoritário, apareceu na mídia como quem descobre que a casa foi saqueada e agora espera que o zelador diga por onde começar a limpar. Disse que já fez sua parte: levantou o buraco, empacotou os papéis e despachou para o Tribunal. Agora, como um aluno aplicado que termina a prova antes da hora, aguarda a correção.
Mas aqui está o problema: a cidade não pode esperar boletim. As dívidas não têm paciência institucional.
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No meio do caos, Teresina virou uma espécie de condomínio endividado. E o síndico da vez é o TCE. Um tribunal que, em tese, deveria fiscalizar, mas que agora virou gerente de crise. Está lá decidindo quem recebe, quando e quanto — como se justiça administrativa se fizesse com cronograma e boa vontade. Enquanto isso, fornecedores afundam, servidores esperam, e os buracos nas ruas se tornam metáforas urbanas da paralisia política.
Silvio, claro, joga com as regras do sistema. Entrega os dados ao Tribunal e lava as mãos como se estivesse diante de Pilatos digitalizado. “O TCE é quem vai orientar”, diz ele. Traduzindo: se algo der errado, a culpa é do parecer. É a nova arte da governança brasileira — a transferência de culpa com protocolo carimbado.
Mas vamos ao cerne da questão: se o prefeito identificou irregularidades, por que não age? Por que terceiriza a moralidade? Desde quando a responsabilidade de um gestor termina no envio de um dossiê?
Ora, se a prefeitura tem dívidas, que as audite, investigue e priorize com transparência. Esperar o TCE é o mesmo que ligar para o SAMU e perguntar se pode dar os primeiros socorros.
E aqui, como sempre, quem sangra é o povo. O comerciante que forneceu e não recebeu. O trabalhador terceirizado que segue com salário atrasado. O morador que vê o serviço parado porque a prefeitura “aguarda orientações”. E o TCE, com seus prazos burocráticos e pareceres demorados, reina absoluto no atraso. Um tribunal cheio de politicos adestrados que virou divindade — ouve-se, consulta-se, espera-se. Enquanto isso, a cidade morre de inanição contábil.
A verdade nua, crua e impagável é essa: Teresina foi saqueada por uma gestão sem rumo, desonesta, omissa e agora é congelada por um sistema que prefere parecer correto a ser eficiente.
E Silvio, com seu discurso de quem “fez o que pôde”, esquece que governar não é apenas identificar o problema. É enfrentá-lo. Mesmo quando dói. Mesmo quando compromete aliados.
Porque no fim, não importa se a dívida é de R$ 500 milhões ou R$ 1 bilhão — o rombo real é outro: é a ausência de coragem. Coragem para agir sem empurrar. Coragem para governar sem pedir permissão. Coragem para ser gestor e não só repassador de relatórios.
Teresina não precisa de parecer. Precisa de ação. E depressa — antes que até a esperança entre na lista de credores.
Fonte: Portal AZ