EDITORIAL: Wellington Dias e o Ministério do Compadrio Social

Ou: Como transformar cisternas e quentinhas em moeda política podre

Por Redação do Portal AZ,

O Brasil é esse país onde a tragédia social anda de mãos dadas com a esperteza institucional. E nenhum personagem sintetiza melhor essa alquimia podre do que Wellington Dias — o eterno governador do Piauí, agora fantasiado de ministro do Desenvolvimento Social, num papel que deveria cuidar dos pobres, mas parece mais interessado em cuidar dos amigos.

Foto: Divulgação/ PTWellington Dias
Wellington Dias

Quatro mandatos no governo do Piauí foram suficientes para que Wellington montasse um império de compadrio. Era “toma lá, me dá tua ONG”; “me dá um contrato, te dou um silêncio”. O Piauí virou laboratório de um populismo tecnocrático, com cheiro de café velho em repartição pública e tinta de edital mal explicado.

E eis que ele chega ao ministério com o mesmo manual. Logo nos primeiros meses do governo Lula, Wellington já estava na corda bamba — incompetência técnica, escândalos discretos, má gestão e um gabinete que mais parecia centro de convenções do PT. Lula, que andava tentando fazer seu terceiro mandato parecer um primeiro, se queixou. Mas aí veio Janja, a nova sacerdotisa do Planalto, e blindou o companheiro. Não se toca em Wellington, ele é "de casa".

Só que agora o caldo entornou de vez. A mídia nacional descobriu que em fevereiro o Ministério do Desenvolvimento Social — vejam bem, Desenvolvimento Social! — contratou por R$ 5,6 milhões uma entidade comandada por um ex-assessor do partido para distribuir quentinhas a pessoas em situação de rua.
Mas as marmitas... não chegavam. Era como alimentar fantasmas.

Ou seja: o dinheiro público foi usado para uma simulação de empatia. Uma encenação grotesca de solidariedade, onde o alimento vira recibo, e o sofrimento alheio, capital político.

E como tragédia nunca anda sozinha no Brasil, agora sabemos que 85% das verbas de um programa para construção de cisternas foi parar na conta de uma ONG liderada por... adivinha? Petistas. Companheiros. Irmãos de partido e de pauta.


R$ 640 milhões — isso mesmo, milhões — concentrados numa entidade escolhida a dedo. Uma ONG de Teresina, terra natal do ministro, recebeu R$ 9 milhões. E, claro, a qualidade do serviço é duvidosa. Mas quem liga? O importante é que os amigos estejam felizes e abastecidos. Água para os pobres? Talvez depois.

O cinismo é de fazer inveja a qualquer roteirista de tragédia. Porque a população que espera cisterna é a mesma que vê o gado morrer de sede no sertão. E enquanto isso, a ONG do camarada pinta relatórios e carimba projetos, sorrindo nas fotos de prestação de contas.

Wellington Dias não é um caso isolado. Ele é a regra, não a exceção. É o símbolo desse país onde o poder público virou braço financeiro de militâncias travestidas de ação social. Onde quem manda não é quem entende de política pública, mas quem tem chave do diretório.

E o mais trágico: ainda vai ficar. Porque Lula viaja, Janja intervém, e o Congresso dorme — anestesiado com emendas e cargos. A máquina gira, mas não entrega. O povo espera cisterna e recebe promessa. Espera comida e recebe ofício. Espera ética e recebe cinismo.

Wellington Dias deveria ser demitido com estardalhaço. Mas no Brasil, incompetência e compadrio raramente são punidos — são redistribuídos.

No fim, o que sobra é isso: um país onde até a fome vira negócio. Onde a seca rende contrato. Onde a miséria é uma oportunidade.


E enquanto a água não chega, o dinheiro escorre. Rápido. Sempre na direção certa: a dos amigos.

Fonte: Portal AZ

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