Alimentação não inflamatória e atividade física protegem saúde mental feminina

Glúten e lactose não são os vilões

Por Redação do Portal AZ,

Um estudo do Grupo de Pesquisa em Avaliação do Consumo Alimentar (GAC) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP conecta o sedentarismo e uma dieta pró-inflamatória aos Transtornos Mentais Comuns (TMC) – distúrbios como a depressão e ansiedade, que não apresentam casos de psicose – em mulheres com mais de 40 anos.

Foto: ReproduçãoAlimentação influencia na saúde mental
Alimentação influencia na saúde mental

O potencial inflamatório da dieta foi estimado por um índice já existente na literatura científica, desenvolvido a partir de estudos epidemiológicos e de laboratório. São exemplos de alimentos com potencial inflamatório aqueles com altas quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples, como os com farinhas brancas ou altos em açúcar adicionado. Já as frutas, os legumes e alguns óleos vegetais são considerados anti-inflamatórios.

Os resultados apontaram que transtornos mentais comuns estavam associados ao grupo de mulheres com maiores índices inflamatórios dietéticos e baixo grau de atividade física. Além disso, esses transtornos também estavam relacionados com a presença simultânea de três ou mais doenças não transmissíveis, como hipertensão, diabete, artrite e artrose.

Glutem e lactose

João Valentini Neto, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação Nutrição em Saúde Pública e um dos autores do artigo, ressalta que a pesquisa foge de “simplismos nutricionais” e que o objetivo não é generalizar nem estigmatizar alimentos como leite e pão, por exemplo. “Quando tocamos nesse assunto, não estamos falando em condenar a lactose e o glúten”, comenta o pesquisador, referindo-se a alguns conteúdos equivocados divulgados na imprensa e nas mídias sociais.

O Índice Inflamatório Dietético (IID) utilizado foi desenvolvido por pesquisadores estadunidenses e leva em conta diferentes aspectos da dieta a partir de cálculos específicos da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos. 

Frutas, legumes, verduras, especiarias, óleos que contenham ômega 3 – como óleo de peixe ou azeite de oliva – cebola, alho, gengibre e chás são considerados alimentos anti-inflamatórios pelo índice. 

Por sua vez, alimentos com maiores quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples – como a farinha branca – são considerados pró-inflamatórios.

Valentini Neto explica que uma alimentação anti-inflamatória deve se aproximar das dietas tradicionais – praticadas por grupos culturais antes da introdução de alimentos industrializados – e se afastar da dieta ocidentalizada – caracterizada pelo consumo excessivo de ultraprocessados, grãos refinados e alimentos pré-embalados.

O pesquisador aponta que o objetivo não deve ser meramente excluir alimentos pró-inflamatórios, mas, especialmente, acrescentar estímulos que façam efeito contrário. Ele explica que o índice avalia como substâncias pró-inflamatórias e anti-inflamatórias reagem. Para ele, a população deve buscar um equilíbrio alimentar.

O indicador, diz ele, “engloba desde a quantidade de orégano até a mensuração de ativos como os flavonóides antioxidantes”, referindo-se às substâncias presentes em alguns vegetais que protegem as células contra os efeitos danosos dos radicais livres.


Efeitos do sedentarismo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a população faça, no mínimo, 150 minutos de atividade física por semana – de preferência, dividida em diferentes sessões ao longo do período. Pessoas que se exercitam com uma frequência abaixo desta recomendação são consideradas sedentárias. 

O estudo utilizou a classificação da OMS como parâmetro de investigação e dividiu os correspondentes em sedentários ou ativos, a partir do Questionário Internacional de Atividade Física – ou seja, pessoas que não praticavam exercício de maneira consistente, mas se movimentavam bastante durante a semana, também foram classificadas como ativas.

“Nós observamos que mulheres que seguiam a referência da OMS estavam mais protegidas contra os transtornos mentais comuns”, comenta Valentini Neto. Ele explica que a atividade física, por si só, já é um estímulo anti-inflamatório – tanto pela regulação do sistema imunológico quanto pelo aumento do metabolismo antioxidante. 

Assim como no caso da dieta, o pesquisador aponta que é importante não generalizar e explica que a prática excessiva de exercícios também pode ter um efeito pró-inflamatório.

“Inflammaging” em mulheres
Valentini Neto afirma que, em qualquer faixa etária, os transtornos mentais prevalecem no gênero feminino. Entre as próprias mulheres, porém, o índice de TMC é maior naquelas com idade próxima e posterior à menopausa.  

O pesquisador comenta que no envelhecimento tende a se desenvolver um quadro de inflamação sistêmica de baixo grau, considerada subclínica. Esse processo recebe o nome de “inflammaging”, aglutinação dos termos da língua inglesa “inflammation” (inflamação) e “aging” (envelhecimento). Cientistas da área estudam como esses dois fatores se retroalimentam. 

A relação entre inflamação e transtornos mentais é abordada, especialmente, nos estudos sobre o eixo intestino-cérebro. Alterações na saúde intestinal podem ser associadas a neuroinflamação e neuroprogressão. Por isso, uma das hipóteses dos pesquisadores era de que alimentação pró-inflamatória e sedentarismo poderiam ser fatores de influência dos transtornos mentais comuns em mulheres com mais de 40 anos. 

Fonte: Com informações do Jornal da USP

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