Hackers da China invadem sistemas no Brasil para vencer licitações, diz especial
Empresa de segurança aponta espionagem digital em obras públicas para favorecer interesses chineses
Um relatório da empresa de cibersegurança CrowdStrike revelou que o Brasil foi o país mais atacado por hackers na América Latina em 2024. Ao todo, 119 das 291 vítimas de ransomware na região foram brasileiras, o que representa um aumento de 15% em relação ao ano anterior. O levantamento, divulgado pelo site TecMundo, mostra como o país está no centro de uma disputa cibernética que envolve desde criminosos locais até ações coordenadas por governos estrangeiros.

O vice-presidente da CrowdStrike, Adam Meyers, explicou que o ransomware — um tipo de vírus que sequestra dados e exige pagamento para liberar o acesso — é apenas uma das frentes de atuação dos grupos cibercriminosos. Segundo ele, a empresa monitora seis desses grupos na América Latina, todos com nomes de "aranhas": Plump Spider, Ocular Spider, Samba Spider, entre outros.
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Meyers destacou o caso do grupo Plump Spider, que atua principalmente com golpes de vishing (golpes por ligação telefônica) contra brasileiros. A investigação desses grupos, segundo o executivo, depende de cooperação com autoridades locais e muitas vezes é prejudicada pela falta de equipes especializadas ou pela lentidão da Justiça em alguns países.
Um exemplo de sucesso foi a prisão de um brasileiro conhecido como "USDoD", suspeito de vazar 2,7 bilhões de dados pessoais nos Estados Unidos. Segundo a CrowdStrike, ele foi identificado enquanto operava em Portugal e preso pela Polícia Federal meses depois.
Ciberataques com motivação política e econômica
A entrevista também revela uma preocupação com a ação de governos estrangeiros, como China e Coreia do Norte, que estariam espionando países latino-americanos. “Eles hackeiam governos e empresas para obter vantagem em licitações, especialmente em grandes obras de infraestrutura”, afirmou Meyers. Ele citou como exemplo projetos como ferrovias e extração de energia no Brasil, em que hackers estrangeiros buscam informações privilegiadas para beneficiar empresas chinesas.
Grupos ligados à China, apelidados de “pandas” pela CrowdStrike — como Aquatic Panda e Vixen Panda — estariam atuando para aumentar a influência do país na América Latina. Segundo Meyers, além de espionagem econômica, há também interesses políticos, como pressionar países a não reconhecerem Taiwan.
Inteligência artificial nos dois lados do combate
Outro tema abordado foi o papel crescente da inteligência artificial (IA) nos cibercrimes. Meyers afirmou que governos e empresas precisam equilibrar o uso da IA de forma segura e responsável, já que ela pode ser tanto uma ferramenta poderosa quanto um risco. A CrowdStrike, por exemplo, utiliza IA desde 2011 para automatizar a detecção de ameaças e treinar profissionais em segurança digital.
Por outro lado, os cibercriminosos também estão adotando IA para tornar seus ataques mais sofisticados e difíceis de detectar.
Apagão global e os desafios da cibersegurança
A entrevista também relembrou um episódio marcante de 2024: um apagão global causado por uma falha no Falcon Sensor, um sistema da própria
CrowdStrike. O problema derrubou sistemas bancários, companhias aéreas e outras empresas ao redor do mundo. Meyers reconheceu o erro, pediu desculpas no Congresso dos EUA e afirmou que medidas foram tomadas para evitar que isso ocorra novamente.
Apesar do incidente, a empresa já recuperou seu valor de mercado e segue com planos de expansão no Brasil. “O país precisa de ferramentas de proteção mais modernas. É o principal alvo de ataques na América Latina e um aliado estratégico dos EUA”, disse Meyers.
A reportagem completa do TecMundo mostra que a cibersegurança está no centro das tensões geopolíticas e empresariais do século 21 — e o Brasil está no olho do furacão.
Fonte: Com informações da Tecmundo