Deslumbrados na República
Deslumbrados na República
É aceitável, afinal de contas são jovens que alçaram ao poder máximo do país por um “milagre”, como disse o pai em Dallas, EUA. O que tem prejudicado os filhos de Bolsonaro é o deslumbramento com a República. Estão contagiados pelo charme do poder e ainda não fincaram os pés no chão.
Verdade! O poder que inebria e entontece! O mundo é assim. E não seria diferente no Brasil. Filhos que falam pelo pai como se cada um fosse um presidente da República a seu modo, para opinar, autorizar e desautorizar.
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Um verdadeiro estado de espírito de encantamento! Na Presidência, o pai se confunde com os filhos e vice-versa. Um deslumbramento como sentimento de estar diante de algo vasto, que transcende o entendimento deles sobre as coisas comuns.
Por isso é que, pela sabedoria política, dizem que o Senado Federal é o “céu”. E, talvez, o Palácio do Planalto, com seus tentáculos, seja o “paraíso” que tanto tem encantado os pimpolhos do presidente.
O poder é sedutor e deslumbra. Porque nos coloca “acima de todos”, no grau superlativo. Vamos buscá-lo quando precisamos dele para disfarçar nossa inferioridade. Então, impomos, controlamos, manipulamos, mentimos e precisamos dele para manter o sucesso a qualquer preço... (lição de Buda em "A causa do sofrimento é a cobiça").
Como disse publicamente o próprio Bolsonaro, “minha eleição devo aos meus filhos”. Paparicados e reconhecidos pelo pai arrogante, manipulador, todos se compenetram como “intelectos” políticos da vitória eleitoral recente. E, agora, encantados com a iluminação que o poder propicia, turvam suas mentes com o excesso de “luz” e de “brilho” pela glorificação.
Em outubro de 2018, o presidente da Itália, Sergio Mattarella, fez um alerta velado a seus seguidores políticos: “Nossa Constituição tem um sistema complexo de pesos e contrapesos. Por quê? Porque a história ensina que o exercício do poder pode provocar o risco de se inebriar, de perder o senso de serviço e de fazer surgir, em vez disso, o senso de domínio no exercício do poder”.
Ao que parece, os filhos do presidente do Brasil não conhecem a aconselhável lição do italiano que varou o mundo como exemplo a ser seguido. Se a conhecem, não a praticam.
O pensador Pablo de Paula Bravin diz que “o poder inebria e paralisa a mente”. E, ainda consoante seu magistério de pensador, o poder costuma confundir a mentira com a verdade; e vice-versa.
Um dado interessante colhido nos arquivos da República brasileira tem por ensinamento o fato de que o deslumbramento faz com que as pessoas no poder de uma hora para outra se transformam em enófilos, passam a não ter limites para comprar uma garrafa de Cheval Blanc, safra 1947, um dos vinhos mais caros do mundo, ao preço de aproximadamente R$ 30.000 reais no Brasil.
É verdade! Quando chegam ao poder arrebatador, de repente, esquecem o velho e batido Johnnie Walker em troca do melhor vinho do Porto. A cena é comum nas orgias dos grandes bailes, bares e restaurantes.
Em pesquisas informativas e culturais, Branca Nunes e Marina Pinhoni registraram para os nossos anais republicanos: enquanto o uísque foi a bebida que dominou as rodas políticas na maior parte do século XX, com o inveterado dançarino Juscelino Kubitschek deliciando-se com Buchanan’s, Ballantine’s e Chivas, Jânio Quadros tomando todas, João Goulart e Fernando Collor embriagando-se com Logan, entre seus grandes apreciadores o vinho ganhou cada vez mais admiradores nas últimas décadas. Alguns dos enófilos, autoproclamados grandes conhecedores da bebida, já passaram – ou correm o risco de passar – alguns dias a pão e água.
Deslumbrados, os filhos do presidente não conhecem as premissas do “poder do encantamento”, como essenciais para as grandes conquistas no sentido de cativar, envolver as pessoas e chamar a atenção. Não somente pelo talento de cada um como políticos que são juntos ao pai e aos seus partidários, mas pelo encanto que poderiam proporcionar aos brasileiros com atitudes positivas, construtivas e decentes.
Com o pai falando o que pensa e o que quer sem quaisquer limites, irrefletidamente, envaidecido e atiçando a todos para o confronto com os contrários e as instituições, os filhos, inebriados, incentivados e eufóricos, acabam se perdendo pelos “labirintos encantados” do poder como problemas a mais, transformando a governabilidade num alçapão.