Viva o Nordeste!

Viva o Nordeste!

Não é novidade o menosprezo do atual ocupante do Palácio do Planalto contra os nordestinos quando os chama de “paraíba” e discrimina o Estado do Maranhão como sempre se portou por achar que o nordestino é um pária da Nação. É assim que a grande maioria dos descendentes de imigrantes europeus das regiões Sudeste-Sul brasileiras se comporta, desconhecendo estupidamente a História do Brasil. E como presidente, desrespeita flagrantemente a Constituição do República e o Estado Democrático de Direito. Mas o pior é a cara óleo de peroba de alguns que, pelo poder a qualquer custo, acham tudo isso normal, e até engraçado, e assim o País, por ignorância da sua classe dirigente, em vez de buscar o rumo do progresso e desenvolvimento vai cada vez mais rolar-se de ladeira abaixo. Mas para mostrar o contrário de quem pensa erroneamente sobre o Nordeste, no dia 3 de janeiro de 1998 foi publicado artigo da minha autoria intitulado “Viva o Nordeste!”, conforme abaixo, na íntegra:

Viva o Nordeste! 

Por Deusval Lacerda de Moraes 

Quantos de nós nordestinos questionamos sobre o crônico atraso econômico-cultural que sempre permeou o sofrido Nordeste brasileiro? Pois é. Por enquanto, isso é coisa do passado. No ano de 1997, o Nordeste foi a região que mais se desenvolveu no Brasil. Acredite. Seu PIB cresceu 4% naquele ano. Segundo estimativas, o próprio Brasil só atingiu 2,5% no período. Por incrível que pareça, nenhuma outra região do País cresceu tanto. Não por obra e graça do governo Fernando Henrique Cardoso, pois, como é do conhecimento de todos, a maioria dos paulistas tem verdadeira ojeriza aos nordestinos. E até agora, o governo federal tem se pautado como se o Nordeste não existisse. Em três anos de gestão, não implementou qualquer ação governamental de porte Infraestrutural na região, a não ser o aprimoramento da caduca prática da liberação individual de recursos para os parlamentares que lhe dão sustentação política no Congresso Nacional. Além do total esvaziamento e do mais completo abandono da Sudene. 

A propósito, há setores políticos em Pernambuco - dizem que afiançados pelo governo federal - propugnando pelo fechamento da Sudene. O que é inadmissível. É verdade que a Sudene não cumpriu fielmente o papel para o qual foi concebida pelo então presidente JK e pelo seu idealizador, o renomado economista paraibano Celso Furtado, como órgão alavancador do desenvolvimento econômico-social da região. 

Muito pelo contrário. Sabe-se que na ditadura militar a Sudene serviu exclusivamente para atender os mais mesquinhos interesses das oligarquias nordestinas que politicamente apoiavam o regime de exceção -sempre agraciados com os recursos do Finor. Os governos da Nova República, por incompetência ou má vontade, nunca definiram um projeto para o Nordeste, muito menos planos para a Sudene. Assim, com a experiência dos erros cometidos no passado, com o conhecimento técnico e socioeconômico adquirido ao lango do tempo e a assunção de um novo compromisso com o progresso da região, o governo FHC deveria, ao invés de pensar em desativar a Sudene, provê-la de uma nova mentalidade e estabelecer novas diretrizes que se adequassem ao cumprimento de uma nova etapa para com o sofrido Nordeste do Brasil. 

Mas, Sudene e governo federal à parte, o fato é que o Nordeste vem cumprindo inexoravelmente a sua sina. Não se abate em momento algum. O tão decantado fenômeno El Nino vai ser tirado de letra, pois já está acostumado com a severidade das estiagens e também com os desvios de recursos públicos para combatê-las. Apesar da maioria dos políticos da região sempre jogar em faixa própria no Congresso Nacional, não há de ser nada, pois é questão de cultura, e por isso demanda muito tempo para exorcizá-la, o que não lhe impede de prosseguir intrépido na sua longa e dura caminhada. 

A rigor, toda caminhada do Nirdeste lhe custa muito caro. Logo, o surto de industrialização que ora experimenta a maioria dos estados nordestinos não fica atrás. Tal fato deve-se a uma generosa oferta de incentivos fiscais concedidos pelos respectivos governos estaduais às empresas que aqui se instalam e que certamente demorarão a obter os lucros nas suas políticas públicas bem como uma oferta de mão de obra barata em relação a outras regiões do País que, com isso, tornarão os produtos mais competitivos no mercado doméstico e internacional. Não obstante, o Nordeste trilha o seu rumo, ultrapassando os difíceis obstáculos que sempre se lhe apresentam e, dessa forma, tenta conquistar dias melhores no porvir. 

Piauí e Alagoas lamentavelmente estão fora do boom industrial que está ocorrendo no Nordeste. Alagoas, porque até parece que o caos se instaurou lá. O Piauí porque, enquanto sua classe política não erradicar os princípios provincianos de que política é projeto pessoal ou familiar, nunca se inserirá em qualquer contexto desenvolvimentista. Para se ter uma ideia, em 1997, os estados de Pernambuco, Bahia e Ceará receberam investimentos de mais de um bilhão de reais cada um. Os estados de Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão e Paraíba receberam quase meio bilhão de reais cada um. O Piauí, salvo melhor juízo, não atingiu 30  milhões de reais em investimentos empresariais. 

Dessa maneira, o Nordeste, apesar das terríveis adversidades, vem seguindo o seu destino e, a duras penas, tentando amenizar os seus dramáticos índices de pobreza, desemprego e analfabetismo. Por isso, implora por mais respeito e consideração por parte do governo federal e dos homens de boa vontade.
 

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