O Nós & Elis
O Nós & Elis
Ainda no período da Ditadura Militar, foi aberto, em Teresina, o Bar Nós & Elis que, sem dúvida, foi o ambiente mais politizado desta Capital. Nos tempos atuais de retrocesso, obscurantismo e intolerância política no País faz falta na Cidade Verde, que completa 167 anos, um point com os conceitos do Nós & Elis. A propósito, relembro o artigo da minha autoria publicado em 27 de outubro de 2010 sobre o prazeroso estabelecimento noturno, conforme abaixo, na íntegra:
O Nós & Elis
Cheguei em Teresina em março de 1985. Naquela época o bar Nós & Elis já havia se firmando como point da frequentadores de vários matizes: estudantes, intelectuais, artistas, políticos, profissionais liberais, boêmios etc. E passei a frequentá-lo assiduamente, até os seus estertores em 1994. O Nós & Elis nos deu a oportunidade de fazer amizade, encontrar pessoas e conhecer novos talentos piauienses.
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O tempo passou e ficaram gravados na minha memória inesquecíveis recordações do bar, até que um dia vi numa banca de revista o livro organizado pelo jornalista Joca Oeiras com o título “No Nós & Elis a gente era feliz - e sabia”, que me remeteu a lembranças de fatos e acontecimentos ocorridos e vivenciados naquela local de entretenimento.
Para fazer esse trabalho primoroso, o jornalista Joca Oeiras, que não conheceu o Nós & Elis, correu atrás dos tradicionais frequentadores e, como arguto escritor, organizou uma coletânea de crônicas e textos deliciosos. O Nós & Elis era um ambiente social saudável, aconchegante, performático, politicamente libertário, além de expressar manifestações artísticas e culturais de vanguarda, ou melhor, era uma casa que aliava boemia com produção cultural.
Como casa noturna politicamente de esquerda (criada à imagem e semelhança do saudoso Elias Ximenes do Prado Júnior, posteriormente deputado estadual pelo PDT), também era frequentetado pela direita e por isso as discussões políticas tornavam-se bastante acaloradas. Lá também era ponto de encontro social, onde flertes, namoros, noivados, casamentos e desilusões amorosas também aconteciam.
No Nós & Elis desfilaram vários artistas da terra, como Geraldo Brito, Edvaldo Nascimento, Aurélio Melo, a família Fonteles, Roraima, Carla Ramos, Patrícia Melo, Netinho da Flauta, os grupos Candeia e Varanda, entre outros, transformando-se num marco da cultura piauiense, com manifestações de várias tendências artísticas, como a Quarta Poética, representações teatrais e humorísticas, no mesmo clima de abertura política vivida naquele período no Brasil.
Não poderia deixar de destacar o prodigioso músico sanjoanense Netinho da Flauta, de saudosa memória, que praticamente fez do bar Nós & Elis a sua casa, e por isso mesmo fez lá apresentações memoráveis no grupo Candeia, pois era sem dúvida um dos artistas mais identificados com o bar. Artista de raro talento, mas que muito cedo nos deixou, ficando na lembrança o som afinado da sua inseparável “Carminha”. Era assim que ele chamava a sua flauta. Mas era como disse o baixista Paulo Aquino na sua crônica “O irreverente Nós & Elis” no mencionado livro: “Netinho era um show à parte, com sua energia, irrequieto, com sua marcante presença de palco, seus fungados e trejeitos, suas caras e bocas, uma figura, uma grande figura, que Deus o tenha”.
De fato, foi uma grande sacada de Joca Oeiras produzir o livro, porque além de resgatar um espaço que se tornou referência de uma geração de piauienses no processo de redemocratização do País, prestou uma grande homenagem ao seu idealizador Elias Ximenes do Prado Júnior, que, sem o seu espírito efervescente, o Nós & Elis jamais teria atingido a magnitude que alcançou e, por conseguinte, não teria ensejado tão magistral obra.