O eleitor de Bolsonaro

O eleitor de Bolsonaro

Na campanha eleitoral de 2018 para a Presidência da República, diziam que estavam cansados da crise econômica, dos escândalos de corrupção e de se sentirem inseguros. Por isso, optariam por votar em Jair Bolsonaro, considerado, veja só, o "mito". De diversas classes sociais, desde a alta até a mais baixa, propalavam pelos quatro cantos do Brasil que Bolsonaro iria impor a ordem e proteger os "cidadãos de bem", defender os “valores da família tradicional” e que, igual a ele, não havia “político mais honesto", que não tinha, inclusive, a família envolvida em crimes e corrupção. Ufa!

Concluída a eleição, constatou-se que Bolsonaro se saiu melhor entre os eleitores de classe alta e escolaridade elevada do que entre os mais pobres. Melhor entre os homens que entre as mulheres. Entre os eleitores com ensino superior completo, mais de 45% votaram em Bolsonaro. Entre as famílias com renda inferior a dois salários mínimos, o “mito” recebeu voto de mais de 25% do eleitorado. E, por último, 51% dos que ganham mais de cinco salários mínimos votaram no “homem honesto”.

Outro segmento em que Bolsonaro recebeu votação significativa foi entre os eleitores evangélicos. Hoje, representados por quase um terço da população brasileira. Que continuam afirmando que Bolsonaro é quem mais defende os bons costumes.

Passado um ano de mandato, a realidade mostra a “face” verdadeira de Bolsonaro. Desrespeitoso, considerado um presidente “boca suja”, afeito a palavrões para desqualificar os outros (seja quem for, do Papa Francisco a Greta Thunberg, encrenqueiro dentro e fora do país, Bolsonaro mostra-se um indivíduo que não tem bons costumes, um deseducado incentivando o desrespeito mútuo.

Passado um ano de mandato, a “ficha criminal” da família do presidente mostrou para o Brasil que pelo menos um de seus filhos não poderá mais ser incluído na lista dos homens decentes e honestos, no rol das pessoas sérias e ilibadas.

Passado um ano de mandato, o Brasil constatou que Bolsonaro não tem nenhum interesse em combater as milícias e a corrupção, as organizações criminosas que têm raízes fincadas no Estado do Rio de Janeiro e espalhadas por todo o País, com envolvimento da própria família, de policiais e de ex-policiais engajados no “Gabinete do Crime”.

Passado um ano de mandato, constatou-se que Bolsonaro assumiu a presidência com um direcionamento muito claro: proteger familiares e milicianos próximos.

Para muitos, o que atraiu na eleição passada foi o discurso dele de combate à violência e à corrupção. No entanto, a violência aumentou e a corrupção insiste em se agravar. Tudo grassa sem punição. Até a Lava Jato não é mais a mesma no governo Bolsonaro. Pesquisas apontam que para a maioria da população brasileira Bolsonaro assumiu como presidente e ninguém não vê nada de resultado positivo. Perdem-se as esperanças. Não se vislumbra, portanto, um bom futuro para o Brasil.

Muito do apoio que Bolsonaro recebeu foi mais por rejeição ao PT do que por merecimento próprio ou identificação com qualquer bom projeto. Aliás, Bolsonaro passou mais tempo da campanha eleitoral deitado num leito de hospital “tuitando” do que apresentando propostas ou plataformas para se eleger presidente da República.

Segundo o economista e pesquisador Maurício Moura, fundador do Instituto Ideia Big Data, muitos eleitores votaram em Bolsonaro sem conhecer bem as ideias do presidente. Votaram no “escuro”, na esperança apenas de derrotar os adversários. Nada mais!

Vejam como eram as frases construídas em 2018 para endeusar o “mito” e provocar emoções: “Precisamos de mudança”; “Chega de PT e de corrupção”; “O Brasil está numa situação econômica terrível”; “Ele vai combater a criminalidade com leis mais duras”; “Ele é temente a Deus e a favor da família”; “Bolsonato vai colocar todos os corruptos na cadeia”; “Bolsonaro é mais honesto que todos”;... Eram alguns dos motivos pelos quais o eleitorado tentava explicar por que votaria em Bolsonaro.

Com o filho investigado, Bolsonaro não fala sobre corrupção.

Para a pesquisadora Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Bolsonaro mostrava-se como uma figura nova, como um outsider, como um antissistema,... Apenas mostrava-se! A realidade, no entanto, mostra um outro homem. O Bolsonômetro, por exemplo, ferramenta que reúne afirmações do presidente checadas e contextualizadas, Bolsonaro dá uma declaração falsa ou imprecisa a cada quatro dias. É um fato inédito no mundo em se tratando de um chefe de Estado.

Para uma grande maioria da população consciente, Bolsonaro seria uma espécie de “mitomaníaco”, uma pessoa viciada em mentir. Pesquisa Datafolha divulgada recentemente aponta que 43% dos brasileiros jamais confiam nas declarações de Bolsonaro. E que 37% dizem que confiam apenas às vezes no presidente. No mundo não parâmetro para uma avaliação de chefe de Estado. É uma excrescência!

Hoje, sem mais as expectativas da eleição passada, sem os sonhos e a emoção contagiante pelo “mito” fabricado para vencer o pleito, os eleitores de Bolsonaro agora são assim identificados:

1.  Os que perderam quatro eleições presidenciais seguidas e ainda se sentem magoados, preocupados em perder outra;
2.  Os eleitores decepcionados com os tucanos FHC, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves;
3.  Os pefelistas e ex-pefelistas que com a extinção do PFL disseminaram-se em agrupamentos políticos distintos sem norte;
4.  Os milicianos, maus policiais e os criminosos das redes sociais;
5.  Os políticos sonegadores, devedores contumazes da Previdência, do BNDES, do Banco do Nordeste, etc., etc.;
6.  Os maus empresários que querem lucrar pagando salários miseráveis, sem pagar direitos e obrigações sociais;
7.  Os banqueiros de corações duros como pedra, os malvados rentistas do capitalismo;
8.  Por fim, os bolsonaristas que querem convencer e abrigar tarados de todos os tipos.

Toda essa gente tem um capital educacional para saber o que estava e está em jogo. Conscientemente, fez - e continua fazendo - a opção por uma “coisa” autoritária, completamente desqualificada para que fosse estabelecida no Brasil uma anarquia institucional, com o desnivelamento social. Na verdade, veem em Bolsonaro uma oportunidade para legitimar antigos preconceitos contra a “gentalha” brasileira, o populacho, a corja, a escória, a plebe, a ralé, o zé-povinho que eles odeiam. Lembremos, a propósito, da frase histórica do pefelismo assumido e enrustido: “Nunca se sabe que tipo de “gentinha” pode vir da rua”.

É toda essa gente que projetou - e continua projetando – o preconceito, a discriminação, a raiva e o ódio no Brasil. Muito lastimável! E que sempre joga a culpa nos outros. Ainda que como “falsos moralistas”, diga-se de passagem. Procura - ainda que como cúmplice de um passado político sujo - desacreditar a classe política como um todo com o carimbo na testa da “culpa no cartório”.

“O bolsomínion de raiz, por exemplo, é um psicopata perigoso e se você tiver um perto de você, cuidado! São sociopatas tenebrosos. Muitos são tarados, pedófilos, nazistas, racistas, violentos, enfim, ameaças à sociedade. O núcleo duro do eleitorado de Bolsonaro é composto pela essência de tudo que há de ruim na sociedade brasileira. Os eleitores e apoiadores mais fanáticos de Bolsonaro são, em geral, pessoas extremamente perigosas. O que o Brasil precisa entender é que Bolsonaro não se encerra em si mesmo. As forças que o elegeram, entre grandes empresários, sonegadores, latifundiários e toda a escória correlata, é talvez até mais perigosa do que ele, porque Bolsonaro vai passar, mas essa gente vai continuar solta por aí. O Brasil precisa ficar atento a essas hordas que acompanham Bolsonaro”, avalia o jornalista Eduardo Guimarães.

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