Candidato pé de chumbo
Candidato pé de chumbo
Duas eleições marcaram de modo significativo o eleitorado de Teresina no processo de consolidação democrática no Brasil: de 1996, quando elegeu pela primeira vez Firmino Filho, atual prefeito da capital piauiense; e de 2004, quando Teresina colocou no Palácio da Cidade o médico Sílvio Mendes. Respectivamente, concorreram contra Alberto Silva e Adalgisa Moraes Sousa, os adversários mais diretos e mais fortes nos respectivos pleitos eleitorais.
Firmino Filho iniciou sua vida pública em 1993 quando assumiu o cargo de secretário de Finanças da Prefeitura de Teresina na gestão do falecido ex-prefeito Wall Ferraz, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Sílvio Mendes, por seu turno, deu seus primeiros passos na gestão pública do Município de Teresina como secretário da Saúde ainda no último mandato de Wall Ferraz, substituindo o também médico Wilson Martins.
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Em março de 1995, morre Wall Ferraz e assume o comando da prefeitura seu vice, Francisco Gerardo da Silva, o conhecido Chico Gerardo. Logo após, deflagra-se o processo sucessório de 1996. O ex-governador Alberto Silva apresentava-se como um candidato imbatível, insuperável. O PSDB, agora sob o comando do então prefeito Chico Gerardo, tinha uma dificuldade tremenda para escolher de seus quadros um candidato que pudesse enfrentar Alberto Silva. Apresenta, enfim, o nome de Firmino Filho, um jovem político completamente desconhecido. Isso depois de enfrentar uma verdadeira “guerra” política interna em uma Convenção histórica.
Como se diz no jargão popular, o PSDB colocava para o eleitorado teresinense em 1996 um “candidato pé de chumbo”, com mínima projeção de intenção de voto para vencer a corrida eleitoral rumo ao Palácio da Cidade. Na época, do início até a metade da campanha eleitoral, as pesquisas apontavam o candidato Alberto Silva com aproximadamente 60% das intenções de votos válidos para se eleger prefeito de Teresina. Resultado final: Firmino se elegeu com aproximadamente ou um pouco mais de 1% de diferença, como a primeira exceção à regra.
Em 2004, após a reeleição de Firmino Filho, o Palácio da Cidade e o PSDB enfrentam novamente outra dificuldade para escolher o sucessor do prefeito. Para sucedê-lo, Firmino Filho colocava à mesa de discussões pelo menos cinco nomes com prováveis possibilidades para enfrentar a esposa do então governador do Piauí, Mão Santa, dona Adalgisa Moraes Sousa.
Após muitas reuniões e encontros políticos, puxa pra lá e puxa pra cá, ataques diretos e indiretos, o PSDB, enfim, encontra em Sílvio Mendes o nome capaz de enfrentar a disputa contra a “santinha” de Mão Santa, dona Adalgisa, que chegou a se aproximar de Alberto Silva em termos de percentuais nas pesquisas eleitorais homéricas de Teresina: quase 57% de aprovação. Outra vez o PSDB escolhia um “candidato pé de chumbo”. E outra vez saía vitorioso das urnas de forma espetacular. Outra eleição ovacionada como a segunda exceção à regra.
Em eleição, como mostram fatos aqui e alhures, mormente em um eleitorado esclarecido como o de Teresina, é erro político grave achar que um candidato adversário é apenas um “pé de chumbo”, um nome “pesado” para se viabilizar e vencer. Aliás, um deboche que acaba depondo contra quem o espalhar para a opinião pública. Porque passa a ideia de arrogância e menosprezo. E isso é fatal em qualquer processo político.
No linguajar político-eleitoral, o candidato pé de chumbo é aquele cujo nome encontra muita dificuldade para ser aceito pelo eleitorado. Por mais que seja um cidadão ou um político trabalhador, dedicado, pontual, honesto,... Um obediente a seus deveres. Isso, infelizmente, não serve como regra. Porém, dependendo do trabalho de cada grupo envolvido na campanha eleitoral, um “pé de chumbo” poderá, sim, transformar-se em um fenômeno. Exemplos não faltam! O difícil, no entanto, fica somente a cargo do risco de uma derrota. Com outras opções possíveis e viáveis, ainda que como muita dificuldade, dificilmente um partido aposta num “pé de chumbo”. Como o seguro morreu de velho, não é aconselhável arriscar!
Em verdade, para ser bem sincero com todos, eleger um candidato pé de chumbo para um cargo Executivo não é tarefa fácil. Porque é muito difícil alguém apostar na dúvida, em um nome sem carisma que possa contagiar o eleitorado. Em política, o candidato carismático é aquela pessoa irresistível, adorável, inimitável, iluminada, inspiradora, conquistadora,... E, acima de tudo, confiável, com poderes para “derreter” corações, que seja sedutora para o eleitorado. Pessoa ao lado de quem haveremos de nos sentir mais fortes e mais seguros. No mínimo, respeitados. Pessoa com quem nos identificamos pela confiança, capaz, portanto, de nos representar como mandatário.
Em política, carisma e sedução andam com as mãos da união.
Sem a conotação da lisonja, Firmino Filho e Sílvio Mendes têm uma aura magnética cada um a seu modo. Nem mais e nem menos. Indiscutivelmente, convencem pela presença e por atitudes. Moldaram-se por si e por modos próprios. É a tal história, em termos de carisma político e sedução eleitoral, uns têm tanto e outros não têm nada. Reconheça-se, nenhum dos dois tem um discurso eloquente; mas, um carisma e uma sedução envolvente. A cada tempo, todos movimentam paixões e emoções. E se viabilizam de ‘per si’ como apostas políticas e eleitorais factíveis no transcorrer da história. Um fato: além de carismáticos, sabem ouvir. A propósito, Tancredo Neves gostava de dizer que uma boa reunião era aquela da qual ele saía “rouco de tanto ouvir”.
Uma lição: Candidato que não é carismático e sedutor congela a esperança do eleitor.