Eleições de 2020: O caso Luzilandense
Eleições de 2020: O caso Luzilandense
A análise de conjuntura tem como um de seus fundamentos a compreensão das estratégias e cálculos que orientam os agentes políticos envoltos no processo eleitoral em eleições presidenciais, para governadores e municipais. Exige, sobretudo, um conhecimento técnico da política real por parte do politólogo e grande desapego às suas convicções particulares, sejam políticas ou filosóficas. Assim, se constitui numa das tarefas mais difíceis de ser praticada com competência e zelo no estudo da política cotidiana.
Embora sendo assim, nas próximas linhas alinharei alguns comentários referentes as eleições de 2020 no município de Luzilândia. A ideia é fazer uma leitura retrospectiva dos últimos 5 (cinco) pleitos para, em seguida, se antecipar provável cenário que poderá advir no horizonte da competição eleitoral e política naquela localidade.
- Participe do nosso grupo de WhatsApp
- Participe do nosso grupo de Telegram
- Confira os jogos e classificação dos principais campeonatos
Um diagnóstico empiricamente orientado (fundamentado em resultados eleitorais) se faz necessário pois auxiliará na análise dos possíveis desdobramentos o cenário principal que assumirá a competição ao cargo de prefeito em Luzilândia em 2020. O quadro evolutivo das eleições é um indicador apropriado para se mensurar vários aspectos da competição eleitoral e partidária.
O total de eleitores luzilandenses é de 18.752 (dezoito mil setecentos e cinquenta e dois) segundo o site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PI). Três grupos, basicamente, disputarão esse montante de votos: o primeiro liberado pelo atual prefeito Ronaldo Gomes (SOLIDARIEDADE), o segundo conduzido por Ismar Marques (MDB) e um terceiro capitaneado por Janaina Marques (PTB). As eleições desde 2000 foram e vêm sendo disputadas por esses segmentos políticos. Na tabela seguinte somente serão exibidos os resultados para o vencedor e o segundo colocado nas respectivas eleições em comento.
Diante dos resultados dessas 5 (cinco) eleições, quais leituras poderão ser feitas? Que tendências, se há, emergiram das disputas eleitorais? Em geral, 3 (três) macrotendências surgem dos dados: a primeira é o domínio do grupo liderado pelo ex-deputado Ismar Marques (MDB). A segunda indica a entrada da deputada Janaina Marques (PTB) e sua ascendência ao proscênio da política no plano estadual bem como sua relativa perda de influência na política local a partir das eleições disputadas em 2012. A terceira, constatada na eleição disruptiva de 2016, é a chegada de um ator político externo ao poder público municipal luzilandense em contraposição aos dois grupos anteriormente majoritários.
A hegemonia na política luzilandense foi exercida pelo ex-deputado Ismar Marques até as eleições de 2000 quando vence com folga o candidato João Fernandes da Silva (PPS). O ex-deputado foi bem-sucedido nas disputas locais até tal pleito. Uma consideração digna de nota é o contraste entre êxito estadual e perda de influência relativa nas competições políticas de Luzilândia. Sua capacidade de transferência de votos apresenta-se limitada quando comparada com suas respectivas votações para deputado estadual. Todavia, saliente-se, tal característica é comum também a Deputada Janaina Marques (PTB) como se mostrará posteriormente.
Porém, há um dado que marca a trajetória no desempenho eleitoral do ex-deputado Ismar Marques (MDB) em solo luzilandense: em nenhuma das eleições que disputou o cargo de deputado estadual, entre 1990 e 2014, sua votação ficou aquém de 4.000 (quatro mil votos). Tal fato o torna um ator político com potencial para influenciar o jogo político num cenário de competição política acirrada, a exemplo de 2016.
Na segunda tendência, a Deputada Janaina Marques (PTB) exibe, também, uma trajetória pendular: exitosa num período e influência limitada noutro. Nas duas eleições que concorreu ao cargo de deputada estadual, 2014 e 2018, obteve respectivamente, 6.456 (seis mil e quatrocentos e cinquenta e seis votos) e 6.949 (seis mil e novecentos e quarenta e nove votos). No caso específico de Janaina Marques (PTB) algumas menções são importantes. É bem-sucedida ao eleger um candidato numa eleição suplementar e elegeu uma preposta no pleito de 2012.
Todavia, mesmo dando suporte a dois ex-gestores, não conseguiu eleger a candidatura que apoiou em 2016. Sofre, assim, sua principal derrota em que pese suas excelentes votações para deputada estadual. O que, eventualmente, explicaria o contraste entre sua ascensão no plano estadual e limitado domínio na política luzilandense? A resposta não parece ser difícil: a lógica de uma eleição majoritária difere duma proporcional. As eleições nos municípios brasileiros e, notadamente no Piauí, assume uma configuração bipartidária. Isto é, uma polarização entre dois grandes blocos. Sendo assim, o fenômeno de transferência de votos não é automático e é dependente de várias circunstâncias.
A terceira tendência é a entrada do atual prefeito Ronaldo Gomes (SOLIDARIEDADE) ao bloco hegemônico da política luzilandense. Ao eleger-se em 2016, tendo como vice candidata Jaqkeline Aguiar (MDB), introduz um ponto de inflexão na competição política local. Ou dizendo melhor, consolida o quadro iniciado em 2012 quando Ema Flora (PTB) foi eleita. Tal candidata não pertencia aos quadros políticos luzilandenses assim como o atual prefeito.
Especificamente, no caso de Ronaldo Gomes (SOLIDARIEDADE), é proveniente de outro colégio eleitoral em município contíguo a Luzilândia. Sua vitória para muitos representou uma surpresa. Entretanto, a devida observação já sinalizava uma disputa eleitoral não exitosa aos dois grupos políticos majoritários até então em Luzilândia. O prefeito atual soube canalizar insatisfações de gestões antecessoras e foi bem-sucedido em sua articulação e negociação política. Ademais, uma conjunção de fatores o favoreceu no sentido da obtenção da vitória eleitoral. A conjuntura mudancista que assolou o país parece ter tido algum efeito, mesmo em pequeníssima proporção, e o beneficiou naquela conjuntura.
Feitas essas considerações assentadas nos resultados eleitorais dos pleitos desde 2000, qual o cenário probabilisticamente parecerá mais provável de surgir nas eleições em Luzilândia? Uma resposta plausível poderá ser: uma acirrada disputa eleitoral entre três candidaturas extremamente competitivas.
O peso do governismo local é preponderante. Sendo a população luzilandense dependente fundamentalmente de seus vínculos empregatícios com o poder público (prefeitura), o gestor atual, Ronaldo Gomes (SOLIDARIEDADE), tem grandes chances na disputa eleitoral. Sua reeleição não representaria nenhuma surpresa. A força do governismo estrutural. Por sua vez, Ismar Marques (MDB), em eventual candidatura, mostra grande potencial de se beneficiar nesse cenário em virtude de seus desempenhos pessoais em eleições passadas no município. Janaina Marques (PTB) é outra liderança que busca sua reabilitação no contexto partidário luzilandense. Precisaria construir uma candidatura que não enfrentasse rejeição de parte do eleitorado local.
Em síntese, as eleições de outubro exibirão quadro competitivo elevadíssimo a se configurar com três candidaturas. O segredo da vitória residirá na maneira como se darão as alianças e coligações tendo em vista que, isoladamente, favoritismos não há por parte de quaisquer desses três segmentos. Articulações com as bases eleitorais, via legislativo (vereadores), farão diferenças. A “dinâmica política” acontece nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal. Os detalhes dessa disputa definirão o vencedor.