“Hitler em Brasília”

“Hitler em Brasília”

Roberto Alvim, o secretário da Cultura demitido por Bolsonaro, apenas fez ecoar o que pensa o atual governo sobre o nazismo e o ditador alemão Adolf Hitler, mandante do assassinato de mais de 6 milhões de judeus. Ao produzir a mensagem do nazista Joseph Goebbels para tentar mudar a cultura brasileira, Roberto Alvim nada mais fez do que reproduzir publicamente o que pensa Bolsonaro sobre o nazismo. Bsolsonaro somente demitiu Alvim porque houve uma repercussão negativa aqui no Brasil e no exterior, especialmente na Alemanha e em Israel. A comunidade judaica em terras brasileiras reagiu veementemente.

Alvim, no entanto, tinha carta branca de Bolsonaro para divulgar a mensagem nazista. E para enquadrar o Brasil com uma teoria política nazista. Não fosse a reação contrária de “meio mundo” o secretário permaneceria no cargo com as benções de Bolsonaro.

Como o brasileiro tem memória curta, vamos relembrar fatos que já fazem parte para o registro da história.

Em 25 de outubro de 2018, o maior jornal de Israel, o Haaretz, publicou um artigo criticando o Jair Bolsonaro (PSL), sob o título "Hitler em Brasília - Os evangélicos dos EUA e a teoria política nazista que estão por trás do candidato à Presidência do Brasil". O texto foi escrito pelo jornalista norte-americano Alexander Reid Ross.

Ainda candidato, Bolsonaro produziu a seguinte declaração na Avenida Paulista: "Esses criminosos vermelhos serão banidos de nossa terra natal. Ou eles vão para o exterior ou vão para a cadeia. Será uma limpeza como nunca vista na história do Brasil"...

Para o jornalista norte-americano, autor do livro "Contra o Crepúsculo Fascista", a ascensão de Bolsonaro mostra que o Brasil está seguindo um movimento global e retornando para as "décadas feias", em referência aos regimes totalitários. "É também um sinal do retorno de uma compreensão repressiva e nacionalista do Estado e de suas políticas externas que chegaram ao auge na Alemanha nazista antes da guerra, se espalhou para o oeste até os Estados Unidos e foi impulsionada por sucessivas administrações dos EUA como uma estratégia", escreve Ross.

O jornalista cita a influência nas eleições brasileiras de 2018 do conceito de geopolítica desenvolvido pelo alemão Karl Haushofer, 'professor' dos nazistas Adolf Hitler e Rudolf Hess. Segundo Ross, Bolsonaro se adaptou às exigências que a sociedade brasileira exige para uma candidatura radical, com especial atenção à classe média do país. "A candidatura de Bolsonaro e sua provável ascensão à presidência é um sinal de uma crescente união geopolítica de forças de extrema-direita que formam a reação contra o liberalismo e a esquerda, e a reabilitação e glamourização do poder militar e do autoritarismo", conclui.

Quando o idolatrado por Bolsonaro Roberto Alvim faz menção implícita ao nazismo na mensagem que o derrubou da Secretaria da Cultura, ele coloca o atual governo de corpo e alma dentro do pensamento nazista de Joseph Goebbels, ministro da propaganda no governo de Adolf Hitler na Alemanha. Goebbels se tornou o braço direito de Hitler quando o terceiro Reich foi estabelecido. E foi Goebbels o responsável pela criação do mito “füher”. Produzia filmes emocionantes divulgando o nazismo. Neles mostrava uma Alemanha melhor, próspera e feliz com a supremacia da raça ariana. Seus filmes estimulavam o preconceito étnico, a xenofobia, o patriotismo e o heroísmo e condenavam os judeus, alegando que eram culpados de acumular riquezas, explorando o povo. Segundo o escritor Roberto Catelli Junior, “a propaganda e os filmes não apenas criticavam os inimigos, mas também criavam modelos de comportamento a serem seguidos pelos alemães, como ser comedidos economicamente e evitar o luxo”.

Para consolidar suas ideias, Goebbels censurou toda a imprensa alemã, fechando jornais, editoras e emissoras de rádio e televisão. A propaganda de Goebbels surtiu efeito. Milhares de alemães filiaram-se ao partido e contribuíram para o Holocausto de Hitler, torturando e matando seus próprios compatriotas.

Joseph Goebbels foi o autor da célebre frase: “Uma mentira dita cem vezes se torna verdade”. Após o suicídio de Hitler e a derrota alemã na Segunda Guerra, assassinou seus seis filhos e se suicidou junto com a esposa, Magda Quandt.
 
Basta que você reflita um pouco para perceber que as atitudes de Bolsonaro (sejam pessoais ou intitucionais) se assemelham muito ao que ocorreu no nazismo alemão. E Roberto Alvim acabou jogando uma pá de cal na farsa de Bolsonaro. 

Uma das principais características do nazismo foi a construção de um símbola capaz de perverter consciências e moldá-las às diretrizes do partido de Hitler na Alemanha. Jair Bolsonaro quer criar aqui no Brasil seu próprio partido como fez Adolf Hitler para se tornar ditador.

Você deve se recordar que Bolsonaro usa o símbolo de “bater continência”. É um ritual de cumprimento, claro, mas eram as saudações gestuais para se dobrar ao “Füher” (líder, em alemão), uma padronização de expressão e de adoração a Hitler.

Através de símbolos, Hitler conseguiu se tornar uma figura “salvacionista”, um “Messias”, um “Deus terreno”. Em outubro de 2018, um pastor disse que “ungiu” Bolsonaro disse que ele é “como Davi”. Os nazistas identificavam Hitler como a “Estrela de Davi”.

Tal qual Bolsonaro, Hitler tomou várias atitudes contra manifestações artísticas que ele considerava impróprias, além de perseguir professores, artistas e intelectuais que se identificavam com formas de arte não aprovadas pelo governo. O líder nazista também queimou diversos livros em praças públicas, fechou a Bauhaus (importante escola de arte de vanguarda) e confiscou diversas obras e esculturas, que foram destruídas, perdidas ou até leiloadas para financiar o regime nazista.

Igualmente a Bolsonaro, Hitler era um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levavam a sério. Era conhecido principalmente por seus discursos contra minorias, políticos de esquerda, pacifistas, feministas, gays e mídia.  e a Liga das Nações, precursora das Nações Unidas. Em 1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, a nova força política dominante no país. Em janeiro de 1933, ele tornou-se chefe de governo. 

Oliver Stuenkel, professor e pesquisador de relações internacionais, graduado pela Universidade de Valência, na Espanha, doutor em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, faz uma indagação interessante: “Por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo?”.

Segundo Oliver Stuenkel, professor e pesquisador de relações internacionais, graduado pela Universidade de Valência, na Espanha, mestre em Políticas Públicas pela Kennedy School of Government de Harvard University, onde foi McCloy Scholar, e doutor em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, em primeiro lugar os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época.

Em segundo lugar, Hitler sabia como usar a mídia para seus propósitos. 

Em terceiro lugar, muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração.

Em quarto lugar, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes – como a de que judeus e gays deveriam ser mortos -, muitos pensavam que ele só queria chocar as pessoas.

Em quinto, Hitler ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos. O problema do crime, argumentava, poderia ser resolvido aplicando a pena de morte com mais frequência e aumentando as sentenças de prisão. Problemas econômicos, segundo ele, eram causados por atores externos e conspiradores comunistas.

Em sexto lugar, as elites logo aderiram a Hitler porque ele prometeu -- e implementou -- um atraente regime clientelista, cleptocrata, que beneficiava grupos de interesses especiais. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler.

Em sétimo, mesmo antes da eleição de 1932, falar contra Hitler tornou-se cada vez mais perigoso. Jovens agressivos, que apoiavam Hitler, ameaçavam os oponentes, limitando-se inicialmente ao abuso verbal, mas logo passando para a violência física. Muitos alemães que não apoiavam o regime preferiam ficar calados para evitar problemas com os nazistas.

Hitler vaticinou que um anti-político promoveria mudanças de verdade. Muitos dos eleitores dele ficaram incomodados com seu radicalismo, mas os partidos não pareciam oferecer boas alternativas. Hitler usava um linguajar simples, espalhava “fake news” e engendrou através de Joseph Goebbels a estratégia da “arte da mentira”.

Após a “tragédia política Hitler”, muitos alemães que votaram nele disseram a si mesmos que não tinham a menor ideia do que ele representava. - “Eu achava que ele era pouco mais que um palhaço, um trapaceiro”,... – dizia-se.

Observe que as estratégias de Bolsonaro se assemelham às de Hitler. Antes que muitos percebam o que uma “maquinaria fascista” é capaz de fazer sem ser contida, poderá ser tarde demais!

No dia 1° de maio de 2019, aqui neste espaço do Portal AZ, publiquei o primeiro artigo sobre Bolsonaro querer ser Hitler no Brasil, sob o título “Um Hitler às avessas”. Em um segundo momento, 12 de maio de 2019, publiquei outro artigo sob o título “Brasil e as armas de Hitler” (https://www.portalaz.com.br/noticia/-/12797/um-hitler-as-avessas?blogs%5B10%5D%5B__isInitialized__%5D=1 / https://www.portalaz.com.br/noticia/-/13263/brasil-e-as-armas-de-hitler?blogs%5B10%5D%5B__isInitialized__%5D=1).

As declarações de Roberto Alvim apenas avalizam o extremismo de Bolsonaro, que sempre idolatrou Hitler como “mito” sanguinário da humanidade. Segundo o jurista Pedro Serrano, é o extremismo do governo que possibilita o surgimento desse tipo de manifestação. “Defender o nazismo é ilícito não porque defendê-lo é extremista, como muito se fala. O nazismo é rejeitado por ter como pressuposto o cometimento de um crime de lesa-humanidade, o genocídio racista, a defesa do genocídio racista como um instrumento de melhoria genética da humanidade” – disse o jurista. Para Serrano, o ato de Alvim ofende o “espírito” da Constituição, já que desrespeita valores morais próprios da democracia constitucional do pós-guerra.

Além do mais, o protegido de Bolsonaro, Roberto Alvim, cometeu o ilícito previsto na Lei Federal n° 7.716/89, segundo o qual é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular, símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”. A pena prevista é de reclusão de dois a cinco anos e multa (art. 20, § 1º).

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