Você tem medo de quê? - Parte I
Você tem medo de quê? - Parte I
Coronavírus, dengue, enchentes... e o prefeito de Teresina, Firmino Filho, dá entrevista dizendo que tem medo de quê? De uma eventual gestão de Dr. Pessoa. “(...) não me sinto confortável em vê-lo como gestor, me causa muito medo. Esse é o sentimento que tenho”, disse Firmino, ressaltando que o seu adversário e pré-candidato a prefeito da capital piauiense pelo MDB tem que demonstrar muita coisa para ser um candidato em quem as pessoas venham a acreditar.
- Participe do nosso grupo de WhatsApp
- Participe do nosso grupo de Telegram
- Confira os jogos e classificação dos principais campeonatos
Ana Cristina Guedes é Jornalista, especialista em Comunicação Política e Mestre em Comunicação (Foto: divulgação)
Até então calado no cenário pré-eleitoral, o prefeito de Teresina encarregou a seus vários porta-vozes a missão de se manifestar sobre as pré-candidaturas postas. Falaram todos! Mas nenhum convenceu. E como dizem que é depois do carnaval que as máscaras caem, o prefeito saiu da toca e falou. Falou muito!
Na mesma entrevista, disse também que o governador Wellington Dias era quem estava por trás das pré-candidaturas de Fábio Abreu (PL), Fábio Novo (PT) e também de Dr. Pessoa (MDB). Nas suas palavras, estes nomes não passam de laranjas do Governo nas eleições para a Prefeitura de Teresina. Ao fazer isso, o prefeito associa esses nomes à gestão petista no estado, modelo que na sua avaliação não é bom para o eleitorado teresinense.
Uma estratégia compreensível e usada sempre em períodos eleitorais é jogar esse tipo de provocação para a plateia. Tudo faz parte do jogo, rende falação nas rodas de conversas e nas redes sociais e várias interpretações no meio político. Mas Firmino Filho esquece que se começar por aí poderá provar do mesmo remédio amargo que empurra para os seus adversários e talvez, por isso mesmo, só não tenha anunciado qual dos nomes da lista do seu partido, o PSDB, terá o seu apoio como pré-candidato.
Medo? Ou o prefeito acha que está livre de comparações e associações? Porque, assim como o PT está à frente da gestão estadual há 14 anos, o PSDB tem quase três décadas à frente da prefeitura de Teresina. Tudo bem que a gestão municipal é diferente da estadual, mas PT e PSDB têm mais em comum do que tentam esconder. A começar, pelo fato de nenhum dos dois partidos terem experimentado a cadeira do outro. Nem o PT administrou Teresina e nem o PSDB administrou o Estado. Comparar para quê? Associar a quê? Medo mesmo de quê?
E sobre o Medo, tema que abriu esse texto, recordarei aqui o modo como ele foi usado na campanha presidencial de 2014 só pra refrescar a memória dos desavisados. Naquela época, Marina Silva, Aécio Neves e Dilma Roussef se utilizaram, cada um à sua maneira, desse recurso para influenciar o voto do eleitor. Era ainda primeiro turno e cada candidato elegeu seu alvo. Os dois primeiros, vale destacar, usaram fatos concretos, reais: mensalão, corrupção, escândalo da Petrobras. Por outro lado, a estratégia usada pela candidata Dilma Roussef (e focada em Marina Silva, que crescia nas pesquisas) foi a história da autonomia ou independência ao Banco Central, coisa que ninguém nem sabia se ia acontecer, mas que foi usada colocando em foco as necessidades básicas da população: alimento, segurança, desemprego, etc...ou seja, criou-se um temor imaginário, assustador só na possibilidade de acontecer.
A estratégia foi, portanto, mais forte e deu certo. Marina encolheu e o resultado dessa história, a gente já sabe. O prefeito Firmino Filho ao ir para a imprensa dizer “ter medo de uma eventual gestão do Dr. Pessoa”, se utiliza de algo parecido e fundamentado, certamente, nas pesquisas que encomenda ou nas conversas que ouve. Assim, Firmino está mexendo com o imaginário do ser humano e com a possibilidade de algo acontecer. É estratégia política? Sim. Vai dar certo? Não dá pra saber. Em 2014 deu certo e o PT venceu as eleições (não necessariamente por isso apenas, é bom que se diga). Mas eram outros tempos e “Medo”, assim como “Mudança” e “Novo”, palavras que já foram fortes no passado e usadas a exaustão nos discursos políticos, com certeza, não têm o mesmo efeito nos tempos atuais. É bom, pois, rever o discurso. E isso vale para todos os candidatos.
Por Ana Cristina Guedes
Jornalista, especialista em Comunicação Política e Mestre em Comunicação