Coronavírus - O dia em que a terra parou
Coronavírus - O dia em que a terra parou
Blecaute, em um linguajar mais popular, significa apagão. Por exemplo, um “colapso temporário” do suprimento de energia elétrica em uma determinada área geográfica pode variar desde uma localidade ou bairro até uma grande área metropolitana ou regiões inteiras de um ou mais países.
Na economia também. Em uma avaliação preliminar, superficial da situação atual no mundo, foi detectada uma incerteza econômica causada pelo coronavírus que deverá custar US$ 1 trilhão à economia global em 2020, conforme as previsões da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Um colapso! Com sacrifício econômico-financeiro de proporções incomensuráveis. Segundo o diretor da divisão Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da referida conferência, Richard Kozul-Wright, a economia global deve desacelerar e crescer menos de 2%. O especialista disse que o vírus causa instabilidade nos mercados financeiros mundiais, preocupações sobre a cadeia de suprimentos mundial e incerteza no preço do petróleo. Segundo ele, poucos países devem escapar aos seus efeitos.
Vendo o quadro não custa relembrar da canção de Raul Seixas, cantada há mais de 40 anos, com o sugestivo título “O dia em que a terra parou”. Tido e havido como um profeta, em parceria com Cláudio Roberto, o fenômeno brasileiro parecia prever a crise do coronavírus. Com extrema maestria, previu o que está prestes a ocorrer no mundo.
Veja, para os(as) mais novos(as); relembre, para os(as) coroas:
Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
Com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
O planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém, ninguém.
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar.
E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
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E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar.
O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar.
Vamos, agora, para as manchetes da imprensa que circulam pelo mundo:
Coronavírus pode derrubar em até 15% investimento estrangeiro no mundo, diz Unctad;
Coronavírus: Vale diz que pode suspender operações no mundo por conta de coronavírus;
O aumento de casos de coronavírus no mundo já afeta a economia mundial;
Análise do Instituto Pensi aponta ainda que o Brasil poderá precisar de 2.000 leitos nos primeiros 21 dias;
Coronavírus: incubação pode ser maior do que 14 dias e número de infectados no mundo aumenta;
Novo coronavírus já infectou mais de 80 mil pessoas em todo o mundo;
O surto de coronavírus já matou mais de 4 mil pessoas e infectou cerca de 120 mil no mundo;
Coronavírus pode infectar até 70% do planeta;
Coronavírus pode derrubar pela metade crescimento mundial;
Rumo à quarentena global: a distopia do coronavírus.
Medo, pânico, desespero, ... As empresas aéreas podem perder até 113 bilhões de dólares (522 bilhões de reais) em renda em 2020, de acordo com uma estimativa da patronal IATA. Isso porque a doença viaja sem controle pelas cadeias de fornecimento e o medo causa reações variadas.
Segundo Maria Fernandez, do jornal francês El País, analisar todas as arestas do problema seria impossível. Mas, há uma muito importante, que é a saúde. O presidente da patronal espanhola Aspe, Carlos Rus, reconhece que estão preocupados “por todas as empresas que estão sendo obrigadas a repatriar trabalhadores em áreas de risco, pela suspensão de provisões em algumas indústrias, pelo cancelamento de eventos e congressos...”.
Federico Steinberg, pesquisador principal do Instituto Elcano, em Madri, acha que pelo menos a boa notícia é que os países começaram a reagir. “Se não existir coordenação global teremos um problema”. Ele lembra que a nível europeu poderiam ser ativadas cláusulas de excepcionalidade, como relaxar as regras de déficit em relação ao gasto público sanitário. E diz que o Covid-19 não tem nada a ver com a crise de 2008. “Quanto tempo isso irá durar? Se a crise for curta tudo o que não está sendo consumido agora irá se recuperar. Mas a demanda depende muito da confiança. O maior risco está em uma população atemorizada durante mais tempo”.
Sem dúvida, Raul Seixas era um cantor e compositor à frente do seu tempo. Como garoto de classe média de Salvador e fã de Elvis Presley, transformou-se em um dos maiores ícones da cultura pop brasileira. Como jovem sonhador, depois de “passar fome por dois anos na cidade maravilhosa”, conquistou o grande público brasileiro.
Raul Seixas foi extraordinário! Se vivo fosse, poderia continuar sendo “uma metamorfose ambulante”, sem ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Ou, então, contradizendo a si próprio na canção Ouro de Tolo, estar sentado “no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”.