A ‘morte’ da riqueza no Brasil

A ‘morte’ da riqueza no Brasil

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo é um economista e professor brasileiro da Universidade Estadual de Campinas e da Faculdades de Campinas. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo e, também, estudou Ciências Sociais. Em conjunto com os professores economistas João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano e Eduardo da Rocha Azevedo fundou a Faculdades de Campinas (FACAMP), com o intuito de formar profissionais com contato a uma educação de excelência.

O professor Belluzzo é autor de obras consagradas, tais como: “Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo”; “Nos tempos de Keynes”; “O capital e suas metamorfoses”; “Os antecedentes da tormenta: origens da crise global”; e “Depois da Queda”.

Eleonora e Rodolfo de Lucena, jornalistas do Tutaméia, brindam-nos com uma síntese de uma entrevista concedida pelo professor sobre a nossa grave crise nesta segunda-feira (23). Veja a seguir:

“O capitalismo como o conhecemos a partir do final da Segunda Guerra Mundial não seguirá sendo o mesmo. A crise atual será maior do que a de 1929. O PIB brasileiro pode cair mais de 10% neste ano se medidas drásticas não forem tomadas. Medidas que sustentem a renda e progressivamente procurem rearticular as cadeias de fornecimento e produção. O contrário do que está fazendo o governo. A visão é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima e inscreva-se no TUTAMÉIA TV). “É preciso fazer o keynesianismo além do Keynes”, diz.

Belluzzo ataca a medida provisória contra os trabalhadores anunciada pelo governo. “É uma insensatez, um atentado contra a razão humana. Se fosse aprovada, determinaria um agravamento da crise certamente. Iria enfraquecer a demanda global, na contramão de todas as medidas que estão sendo tomadas fora do Brasil. O atraso mental e intelectual do Paulo Guedes está influenciando de maneira decisiva, porque o presidente não entende de nada. Ele só entende de dizer baboseiras. Foi forçado a recuar porque sentiu o peso da reação”, afirma.

Para ele, “não só os trabalhadores seriam prejudicados; mas também os pequenos e médios empresários, as empresas em geral. E acaba batendo nos bancos, porque os bancos não conseguem receber o serviço da dívida que está atrelada aos empréstimos que fizeram às empresas. É um problema sistêmico. Não é possível você pensar como, desculpe a expressão, como cagada de bode. Por pedacinhos. É  que eles não pensam nas integrações, articulações da economia. Do ponto de vista do conjunto da economia, vai causar mais danos para as empresas do que benefício. O Estado tem que fazer uma intervenção muito dura. Veja o que está acontecendo nos EUA. Bolsonaro não em condições de ser presidente da República. Ele não entende nada do mundo em que está vivendo. Devia fazer uma consulta com o Trump”, declara.

Professor da Unicamp, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Belluzzo foi incluído, em 2001, entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século 20. Na sua análise, a crise atual “desarticulou todo o tecido econômico e social. Devia se fazer o contrário (do que o governo está fazendo): tomar ações de proteção aos trabalhadores, de sustentação às empresas, de intervenção muito séria, de coordenação muito séria do sistema financeiro e bancário”.

Ao TUTAMÉIA, ele se diz muito preocupado com a situação da dívida das empresas. “O Banco Central deveria comprar a carteira dos bancos. Isso é que foi feito pelo Roosevelt em 1933. Estamos fazendo tudo ao revés numa crise que é seguramente mais grave que a crise de 29. Essa crise foi um choque numa economia globalizada. Os processos de oferta e procura estão desgarrados. A crise vai se espalhar rapidamente se não forem tomadas as medidas adequadas. A saída de capitais preocupa. Não dá para tomar atitudes tópicas”.

Nesta entrevista, ele trata de remédios como a distribuição de dinheiro à população, o pagamento de salários pelo governo e outras propostas. “O Estado precisa cumprir a sua função de oferecer porto seguro para quem está tentando escapar da perda de riqueza que está vivendo ou está prestes a viver. É preciso, sim a criação monetária”, afirma.

Belluzzo prevê mudanças no processo de globalização, que expandiu as cadeias globais de valor e reduziu o espaço nacional. “A crise sugere que é muito grande o risco de se depender de mais do abastecimento externo”, observa. “Não vejo possibilidade de se reconstituir minimamente uma economia global a não ser que retornemos ao período em que o sistema era internacional, não era global. Era um sistema de relação de vários Estados Nações”.

E mais. Diz podem vir a ocorrer mudanças no próprio capitalismo, que não deve continuar como existiu nos últimos 50 anos, depois dos anos gloriosos do pós-guerra. “O capitalismo foi se dissolvendo, perdendo capacidade de se relacionar com as pessoas. Ele se afastou muito da vida concreta das pessoas. É da natureza. E ele não pode mais prosseguir [assim]. Isso está expresso na insatisfação geral das pessoas pelo mundo inteiro. Depois dessa crise, temos a chance de seguir melhor. Porque as condições tecnológicas, de organização podem ser usadas de maneira favorável, com a construção de um estado de bem estar mais avançado”.

Há também a possibilidade de as coisas degringolarem. Daí, Belluzzo reforça a importância da política, da pressão popular por mudanças que não terão “a concordância dos mais ricos”. E alerta: “O capitalismo, se conseguir sobreviver, vai sobreviver com outra cara”.

Na entrevista, confira as sugestões de leituras e de filmes que Belluzzo aponta. Da sua quarentena, ele desabafa: ‘O que está me fazendo muita falta é o velho e bom futebol’”.

Assassinos em massa

Um século depois, o coronavírus faz o mundo reviver as medidas drásticas de isolamento e vigilância. “O novo coronavírus é, provavelmente, uma ameaça tão séria como foi a gripe de 1918, em relação às medidas de contenção que deverão ser postas em prática”, diz Benjamin Cowling, chefe da divisão de epidemiologia e bioestatística da Universidade de Hong Kong, uma das instituições na linha de frente das pesquisas sobre o Covid-19.

“Se você está no meio de um surto de um novo vírus e o governo fala que será necessário fechar as escolas, eu não acho que as pessoas vão discutir. Haverá pânico. O problema não será fazer as pessoas aceitarem, mas coordenar [a operação]” (Cowling).

Na minha modesta visão, fazendo reflexões sobre as inúmeras análises de intelectuais tanto nacionais como internacionais, não tenho dúvida, a crise sanitária que atinge o mundo e prenuncia, infelizmente, projeções catastróficas para o Brasil, segundo o professor Atila Iamarino, que aponta números impressionantes rondando de 500 mil a 2 milhões de mortes pelo Covid-19 entre nós, com estudos que trazem como parâmetro os Estados Unidos, população próxima à nossa, Bolsonaro poderá cair ajoelhado.

Para nosso maior temor, essas projeções nacionais ainda não levam em consideração o poder devastador do vírus nas favelas do Brasil, um “barril de pólvora” de propagação geométrica prestes a explodir diante de um sistema de saúde e de previdência social fragilizado nos últimos anos por Temer e Bolsonaro.

Não duvide! Nunca mais o Brasil será o mesmo! E a desproporção do agravamento da crise social e econômica poderá levar Jair Bolsonaro e Paulo Guedes para o “cadafalso” de assassinos em massa, genocidas que colocam a vida dos nossos patrícios em risco para salvaguardar interesses cada vez mais gananciosos da riqueza brasileira.

Na crise, a imprensa noticia que Bolsonaro e Guedes devem lançar um “pacote” destinando R$ 1,2 trilhões de reais para os bancos. Valor quase 10 vezes maior que o movimentado na crise econômica de 2008. Para enfrentar o coronavírus apenas R$ 200 bilhões, menos de 20% do valor destinado à ganância da nossa riqueza.

“Tobias Rathjen é o nome do assassino que atirou em frequentadores de dois bares na cidade de Hanau, na Alemanha. Ao menos nove pessoas morreram no ataque. Em seguida, Tobias matou a mãe e se suicidou. O perfil de Tobias é semelhante ao dos chamados ‘eleitores-raiz’ de Jair Bolsonaro: extrema direita, racista, xenófobo, com graves problemas sexuais e adepto de teorias conspiratórias. Tobias só não votou no “Mito” porque não mora no Brasil. Mas, o mesmo caldo que alimentou Tobias na Alemanha está fervendo por aqui” – opinião de Antônio Melo, nas redes sociais.

O assassino deixou um relatório onde mostrava-se disseminador do ódio contra estrangeiros e povos não brancos. O atirador justificava seu chamado para matar povos de países inteiros em nome da eugenia, termo criado em 1883 por Francis Galton, matemático, filósofo, antropólogo, geneticista e psicólogo, inglês filho de banqueiro, para significar pessoas “bem nascidas”.

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